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Crítica/música
Paralamas voltam às origens pop e deixam de lado o rock pesado
Gravado em Salvador, no estúdio de Carlinhos Brown, "Brasil Afora" recupera o ska e as influências nordestinas
MARCUS PRETO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Desde que Os Paralamas
voltaram do recesso
compulsório causado
pelo acidente de Herbert Vianna em 2001, a expectativa criada a cada lançamento da banda
extrapola os comentários estritamente musicais. Questões
quase "físicas" tomaram o centro do foco, mais ou menos como acontece no esporte quando um atleta volta a jogar depois de uma contusão séria. Será que superaram por completo
as sequelas da tragédia e continuam, enfim, tão craques quanto antes?
Só agora, em "Brasil Afora",
essa pergunta começa de fato a
ser respondida. Isso porque,
apesar de bons, os álbuns de estúdio antecessores -"Longo
Caminho" (2002), o primeiro
pós-acidente, e "Hoje" (2005),
o seguinte- vertiam a alegria
solar natural da banda em um
rock escuro, evitando qualquer
tipo de comparação entre os
Paralamas de antes e os de depois. Optaram por esse desvio
porque, no meio de tanta tristeza, não podiam mais se imaginar leves como foram um dia.
Teriam que esperar até que as
feridas estivessem cicatrizadas.
Elas estão. E "Brasil Afora" é,
tanto quanto pode, um disco de
caminhada de volta ao sol. O
rock pesado perdeu o espaço na
mesma medida em que o Brasil
e a Jamaica retornam como os
principais ingredientes. O calor, sobretudo do Nordeste brasileiro, volta como influência
predominante nas músicas,
nos arranjos e nas letras.
Não por acaso as gravações
ocorreram em Salvador, no estúdio de Carlinhos Brown, que
ainda cedeu duas canções inéditas e participou ativamente
de uma delas, "Sem Mais
Adeus", cantando, tocando percussão e um belo violão à moda
de Gil em "Expresso 2222".
Mais densa, "Mormaço"
(Herbert/Bi/Barone) atinge a
secura máxima do sertão em
versos como "No mormaço da
miséria/ Quem luta pra respirar/ Sabe que essa briga é séria", levados em dueto com a
voz épica de Zé Ramalho.
Baião em pele de rock
Também assinada pelos três
membros da banda, a faixa-título é um baião brincando de se
esconder na pele de um rock
-como já fizeram muito bem
Raul Seixas, os Novos Baianos,
o próprio Zé Ramalho. E, claro,
os Paralamas.
Mas, calma. Não é o caso de
classificar este como um álbum
de MPB. Produzido por Liminha, o trabalho é pop -muito
pop. "A Lhe Esperar" é um ska
composto por dois paulistanos
(Arnaldo Antunes e Liminha).
"El Amor" é a versão (feita por
Herbert) de uma balada de um
argentino (Fito Paez). E as outras faixas, compostas pelos
próprios Paralamas, carregam
referências bem urbanas, do
rock internacional dos anos 70,
90 e 2000.
Fazendo as contas, dá para
concluir que os Paralamas
reencontraram o fio da meada
que andava solto desde "Hey
Na Na" (1998), o último álbum
deles antes da pausa forçada.
Como naquele período -ou
melhor: como em todos os álbuns lançados pela banda após
"Bora-Bora" (1988)-, pop, reggae, ska e música nordestina
voltam a conviver, a procurar
laços de identificação.
Está certo: o disco novo não
tem atributos suficientes para
constar entre os melhores dos
Paralamas. Não traz nenhuma
canção realmente arrebatadora
de Herbert, como era costume.
Talvez nem vá repercutir com
força considerável além das
fronteiras de seu fã-clube mais
fiel. Mas é, apesar de todas essas contrariedades, um trabalho carregado de movimentos
importantes para a história (e o
futuro) da própria banda. Movimentos de reencontro, reconciliação e reconforto. Eis o
verdadeiro recomeço.
BRASIL AFORA
Artista: Os Paralamas do Sucesso
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 29,90, em média
Avaliação: bom
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