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Crítica/ "Preciosa - Uma História de Esperança"
Virtuosismo dilui teor realista do filme
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Preciosa" retoma um
desses temas frequentes no cinema e na literatura americanos, celebrizado
sobretudo por "A Cor Púrpura": a da jovem negra maltratada, bestializada e mesmo estuprada. No caso de Claireece
Precious Jones, estamos não
em algum fim de mundo, mas
no Harlem, Nova York, diante
de uma adolescente em sua segunda gravidez. Nos dois casos,
o pai da criança é o próprio pai
de Precious.
Ela mora com a mãe (Mo'Nique), que, além de viver à custa
da pensão previdenciária por
conta do neto, despeja na filha,
em tempo integral, sua ira com
o mundo. Ela acredita que a filha roubou seu homem. Sendo
que Precious foi violentada pela primeira vez quando mal sabia andar. Ou seja, a barbárie
gera a barbárie.
Precious é gorda, gordíssima.
Os garotos a consideram uma
preciosa ridícula. Tem tudo
contra si. O que poderá redimir
alguém nessa circunstância insuportável? O afeto e a educação. Os dois juntos, de preferência. No caso, quando seu colégio descobre que está grávida,
Precious é remetida a uma instituição especializada em alunos problemáticos, onde uma
professora, Blu Rain (Paula
Patton), a acolherá.
Embora não seja original, o
tema é relevante: nunca é de
mais lembrar o que a soma de
escravatura, ignorância e preconceitos produziram.
O filme de Lee Daniels acerta
em alguns aspectos, e um dos
mais relevantes é, certamente,
a opção por uma atriz na medida para encarnar toda a infelicidade bestial mas também a bravura e o valor de Precious.
Também o fato de recorrer a
uma estética herdada do neorrealismo, evitando toda glamourização de uma questão de
que o glamour não faz parte, a
não ser nos sonhos cafonas da
protagonista.
Nesse caso, porém, é quase
obrigatório perguntar: por que
Daniels perde tanto de seu
tempo e de seu tema com firulas de câmera? Por que cede à
tentação de imaginar que o filme (e o filmador) possa ser
mais importante do que o objeto de que se ocupa?
PRECIOSA - UMA HISTÓRIA DE
ESPERANÇA
Diretor: Lee Daniels
Produção: EUA, 2009
Onde: estreia no Bristol, Kinoplex
Itaim e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: regular
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