São Paulo, sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/ "Preciosa - Uma História de Esperança"

Virtuosismo dilui teor realista do filme

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Preciosa" retoma um desses temas frequentes no cinema e na literatura americanos, celebrizado sobretudo por "A Cor Púrpura": a da jovem negra maltratada, bestializada e mesmo estuprada. No caso de Claireece Precious Jones, estamos não em algum fim de mundo, mas no Harlem, Nova York, diante de uma adolescente em sua segunda gravidez. Nos dois casos, o pai da criança é o próprio pai de Precious.
Ela mora com a mãe (Mo'Nique), que, além de viver à custa da pensão previdenciária por conta do neto, despeja na filha, em tempo integral, sua ira com o mundo. Ela acredita que a filha roubou seu homem. Sendo que Precious foi violentada pela primeira vez quando mal sabia andar. Ou seja, a barbárie gera a barbárie.
Precious é gorda, gordíssima. Os garotos a consideram uma preciosa ridícula. Tem tudo contra si. O que poderá redimir alguém nessa circunstância insuportável? O afeto e a educação. Os dois juntos, de preferência. No caso, quando seu colégio descobre que está grávida, Precious é remetida a uma instituição especializada em alunos problemáticos, onde uma professora, Blu Rain (Paula Patton), a acolherá.
Embora não seja original, o tema é relevante: nunca é de mais lembrar o que a soma de escravatura, ignorância e preconceitos produziram.
O filme de Lee Daniels acerta em alguns aspectos, e um dos mais relevantes é, certamente, a opção por uma atriz na medida para encarnar toda a infelicidade bestial mas também a bravura e o valor de Precious.
Também o fato de recorrer a uma estética herdada do neorrealismo, evitando toda glamourização de uma questão de que o glamour não faz parte, a não ser nos sonhos cafonas da protagonista.
Nesse caso, porém, é quase obrigatório perguntar: por que Daniels perde tanto de seu tempo e de seu tema com firulas de câmera? Por que cede à tentação de imaginar que o filme (e o filmador) possa ser mais importante do que o objeto de que se ocupa?


PRECIOSA - UMA HISTÓRIA DE ESPERANÇA

Diretor: Lee Daniels
Produção: EUA, 2009
Onde: estreia no Bristol, Kinoplex Itaim e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: regular




Texto Anterior: A tragédia da vez
Próximo Texto: Morre estilista Alexander McQueen, 40
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.