São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2011 |
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CRÍTICA ÓPERA "O Teatro à Moda" é sátira cruel a bastidores das óperas
IRINEU FRANCO PERPETUO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Divas caprichosas, compositores ignorantes, empresários gananciosos, instrumentistas preguiçosos, público maledicente: chega ao Brasil "O Teatro à Moda", demolidora sátira de Benedetto Marcello (1686-1739) à ópera do século 18. A bibliografia sobre música em português ainda é bastante carente. Mesmo textos que já caíram há muito tempo no domínio público ainda esperam quem os publique e traduza para a nossa língua. Tem caráter exemplar, assim, a iniciativa da editora Unesp de tornar disponível em português este livro publicado em 1720 e que constitui um documento inestimável da prática operística no período barroco. "O Teatro à Moda" chega em bem cuidada tradução de Ligiana Costa, musicóloga brasiliense de 32 anos, com doutorado nas universidades europeias de Tours (França) e Milão (Itália). Ligiana (que também solta a voz como cantora de MPB) é responsável por um texto de apresentação instrutivo, porém desprovido de pedantismo, bem como um bem-vindo glossário de termos técnicos da música. MORDACIDADE O veneziano Benedetto Marcello era membro de família nobre e dedicou-se essencialmente à advocacia e ao serviço público. Como compositor, obteve certa notoriedade em seu tempo, embora suas obras, hoje, sejam escassamente tocadas. Benedetto Marcello entrou para a posteridade mesmo foi com o mordaz "Teatro à Moda", no qual satiriza as principais figuras da vida operística de sua cidade no século 18, especialmente o sacerdote e compositor italiano Antonio Vivaldi (1678-1741). Nascida com vocação aristocrática, a ópera sofreu transformação decisiva a partir de 1637, quando, em Veneza, abriu-se o Teatro San Cassiano: a partir daí, essa manifestação artística passava a ter uma estrutura profissional, de espetáculos públicos, com receita de ingressos de bilheteria. MUNDO FRENÉTICO Marcello escolhe a forma de "conselhos" para os envolvidos em todas as etapas de produção operística (dos carpinteiros e bailarinos às mães das cantoras) para retratar este mundo frenético, de produção intensa, em que vender ingressos e encher os teatros era a prioridade, ficando a qualidade artística relegada a segundo plano. Seus bilheteiros que roubam no troco, gerentes de café que misturam pão queimado na bebida e cantores que estimulam claques parecem não apenas fundar vários dos estereótipos que se tornaram lugares-comuns da ópera, como ainda antecipam a crítica de costumes de Balzac (1799-1850) e os romancistas franceses do século 19. O TEATRO À MODA AUTOR Benedetto Marcello EDITORA Unesp TRADUÇÃO Ligiana Costa QUANTO R$ 25 (150 págs.) AVALIAÇÃO ótimo Texto Anterior: Crítica/Música Erudita: Historiador revê relação entre músicos e poder Próximo Texto: Francês cria cartuns com trajetória dos Beatles Índice | Comunicar Erros |
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