São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2011

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2 irmãos

Na semana em que o poeta Augusto de Campos faz 80 anos, seu irmão Haroldo ganha exposição no Itaú Cultural e na Casa das Rosas, em SP

FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO

Na próxima segunda-feira, com uma festa familiar reservada, o poeta, tradutor e crítico Augusto de Campos comemora 80 anos. Dois dias depois, começa uma exposição em São Paulo para homenagear o irmão dele, Haroldo de Campos (1929-2003).
Seria uma semana de celebração dos irmãos Campos, intelectuais cuja vasta produção de vanguarda -na literatura, nas artes gráficas e audiovisuais, no ensaísmo, na crítica e na tradução, expandindo ou implodindo as fronteiras entre tudo isso- ainda hoje permanece mais associada à criação da poesia concreta nos anos 1950.
Seria, não fosse um detalhe: a exposição para Haroldo, no Itaú Cultural e na Casa das Rosas, passa ao largo do trabalho de Augusto.
A organização diz que o formato da mostra, da série "Ocupação", do Itaú Cultural, que apresenta a obra de artistas referenciais, lhes impediu de ampliar o leque de homenageados.
"Foi um drama. A ideia original era juntar os dois, mas seria muita coisa, aí teria de incluir todos os concretos. Ia ficar muito fragmentado, então focamos no Haroldo", explica Claudiney Ferreira, do Itaú Cultural.
Na família de Augusto, o episódio causou certo desconforto. Filho e parceiro artístico do poeta, o músico Cid Campos avalia que os organizadores "não se antenaram com a data". "Todos são amigos, não acho que foi uma ação para sacanear, mas houve uma certa desatenção. É uma coisa meio esquisita."
Augusto não deverá ir à abertura da exposição. Os organizadores dizem que ele estará viajando. Mas, segundo Cid, o pai estará em São Paulo. "Além dessa coincidência infeliz, ele não vai porque no dia [quarta, 16] é meu aniversário."
"Tenho certeza de que o Augusto não está chateado, porque sabe que fazer uma homenagem ao Haroldo é como se fizesse para ele", afirma o poeta Frederico Barbosa, um dos curadores da exposição, que promete algum evento para lembrar Augusto ainda este ano na Casa das Rosas.

SIAMESMOS
"Éramos, talvez, um o avesso do outro. (...) Côncavo convexo. "Discordia concors". Ele, extrovertido, eu intro", escreveu Augusto em 2003, após a morte do irmão.
Talvez seja essa reserva que o faça, agora, resistir a entrevistas. Nos últimos dias, a reportagem deixou recados na secretária eletrônica, mandou e-mail e recados por Cid. Augusto não deu sinal.
Quanto a Haroldo, é inútil especular o que acharia de estar, nesta data, separado daquele que definia como "irmão siamesmo", termo cunhado a partir da tradução feita por Augusto do "Epitáfio" de Corbière: "Ninguém foi mais igual, mais gêmeo/ irmão siamês de si mesmo".

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