São Paulo, Sexta-feira, 12 de Fevereiro de 1999
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CINEMA "PÂNICO 2"
A sequência é melhor que o original


da Redação

Uma bela garota, uma bela casa, uma cidadezinha americana qualquer. Ela tenta se livrar de um telefonema, aparentemente (para ela) um engano, mas o sujeito insiste em continuar falando. Ela está na cozinha. E sacode um pacote de pipoca.
Voz no telefone: "Você está fazendo pipoca?"
A garota: "Uh-huh".
Voz no telefone: "Eu só como pipoca no cinema".
A garota: "É que estou me preparando para ver um filme no vídeo".
Voz no telefone: "Verdade? Qual?".
A garota: "Apenas um filme de terror qualquer".
Voz no telefone: "Você gosta de filme de terror?".
A garota: "Uh-huh".
Voz no telefone: "Qual é o seu filme de terror predileto?"
A garota: "Ah! Não sei".
Voz no telefone: "Você tem que ter um favorito. Qual é o que vem a sua mente quando você pensa em filmes de terror?"
A garota: "Bem, "Halloween"".
Quando o primeiro "Pânico" estreou nos cinemas, em 1996, o papo era o de que chegava às telas o filme de horror que representaria o fim dos filmes de horror.
A sua cena inicial, descrita acima e prenúncio do massacre sanguento que se seguiria, já dava o toque sobre qual era a do filme: uma homenagem "póstuma" ao cinema de horror, dos clássicos "sérios" até os escrachados representantes da geração do vídeo dos anos 80, da qual "Halloween" é o precursor.
Tirado da cabeça do roteirista Kevin Williamson, uma espécie de Tarantino da geração teen americana (leia texto na página), e filmado pelo descolado e veterano diretor Wes Craven (de "A Hora do Pesadelo"), "Pânico" re-reinventou o horror utilizando doses espetaculares de ironia e um elenco extraordinário de jovens atores içados das badaladas séries de TV.
E não só não foi o último filme de um gênero moribundo e sem talento como ainda escancarou a porta para a passagem de várias crias, para o bem ("Prova Final" e "Halloween: H20") e para o mal ("Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado" e "Lendas Urbanas").
Mas eis que chega ao Brasil a continuação da história, "Pânico 2", que estréia hoje no país. Como homenagem ao cinema de horror dos 80, "Pânico" não podia deixar de ter sua infalível sequência.
"Pânico 2" segue, na criatividade, nas referências, nos sustos, nos pulos da cadeira e nas viradas da trama, o caminho de seu antecessor. Mas chega a ser mais inteligente, divertido, inspirado.
Sua cena inicial é um primor. Tão emblemática quanto a de "Pânico". Dois anos depois da matança do primeiro filme, o caso, que já havia resultado em um livro da repórter Gale Weathers (Courteney Cox), chega aos cinemas sob o título "Stab" (Punhalada).
"Pânico 2" começa exatamente com uma garota chegando com o namorado ao cinema, para a pré-estréia de "Stab", o filme dentro do filme, baseado em um livro dentro do filme, inspirado na vida real dentro do filme.
A primeira frase da menina: "Eu odeio filme de terror".
O cinema está lotado. Na entrada, máscaras do assassino e punhais de plástico foram distribuídos à platéia, formada por adolescentes frequentadores das prateleiras de terror das locadoras de vídeo.
Tudo de mais caro a um filme de terror está presente na sessão de "Stab": os adolescentes, garotos com a máscara de mentira assustando garotas, gritos, a zona, pipoca, refrigerante. E também o assassino em carne e osso, sua máscara real, seu punhal de verdade.
"Pânico 2" é o sonho macabro de qualquer aficionado do gênero. O terrível assassino da tela, que apavora e mata impiedosamente, mas que nunca deixa de estar na tela (ficção) enquanto você está do lado de cá (realidade), pode estar sentado na poltrona ao lado. Em uma espécie de "A Rosa Púrpura do Cairo" em versão produzida no inferno.
A partir daí a sangria desatada recomeça em "Pânico 2", com todos caçando o assassino, enquanto o assassino caça a pobre Sidney (Neve Campbell), sobrevivente do massacre no primeiro filme.
Há uma determinada cena do filme em que alunos discutem com o professor em uma sala de aula sobre as sequências dos filmes de horror. Quando o consenso indica que uma sequência nunca é melhor que seu original, um aluno discorda. "Eu posso dizer uma: "Aliens" é muito melhor que o primeiro".
São autoparódias desse tipo que botam "Pânico 2" ao lado de "Aliens". (LÚCIO RIBEIRO)

Filme: Pânico 2
Produção: EUA, 1997
Direção: Wes Craven
Com: Neve Campbell, Courteney Cox, David Arquette, Sarah Michelle Gellar
Quando: estréia hoje, nos cines Marabá, Eldorado 4, Gemini 1 e circuito


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