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FESTIVAL
Retrospectiva mostra diversidade de estilos experimentados pelo cineasta cuja marca era derrubar tabus
Berlim homenageia o eclético Preminger
AMIR LABAKI
em São Paulo
Há muito Otto Preminger estava
para merecer uma retrospectiva
como a organizada pelo 49º Festival Internacional de Cinema de
Berlim. O ecletismo de sua extensa
obra (37 filmes em 47 anos atrás
das câmeras) sempre desafiou
classificações. Sua fama de autoritário não lhe valeu maiores simpatias. Treze anos depois de sua morte parece possível um exame menos parcial de seu legado.
Preminger (1906-1986) foi um
dos primeiros cineastas independentes dos EUA. Trazido em 1935
para Hollywood de sua Viena natal, manteve sempre uma relação
tensa com o estúdio que o convidou, a 20th Century-Fox. Em duas
décadas, entrou, saiu, voltou e, por
fim, rompeu com "a vida na fábrica de salsichas" -como definiu a
produção nos grandes estúdios.
Filho de um advogado, Preminger estreou no teatro vienense, fez-se assistente de Max Reinhardt e
até dirigiu seu primeiro filme
("Die Grosse Liebe", de 1931, um
melodrama musical) antes de partir para o novo continente. Sua primeira passagem por Hollywood
foi breve e didática. Dois filmes B,
uma briga com o todo-poderoso
Darryl F. Zanuck e eis Preminger
fora de contrato tentando carreira
no teatro nova-iorquino.
O sucesso como diretor e ator da
comédia policial "Margin for Error" (1939), de Claire Booth Luce
reabriu-lhe as portas da Fox. A primeira tarefa, claro, foi filmá-la.
Até o início dos anos 50, Preminger dirigiu em Hollywood mais de
uma dezena de filmes. O filme
"noir" seria seu forte ("Laura",
"Passos na Noite"), mas tarefas de
contratado levaram-no a tentar a
mão em comédias de época, como
"Czarina" (1945). Mas um título
bastaria: "Laura" (1944).
A história do desaparecimento
de uma mulher que Rouben Mamoulian começou a rodar como
um policial romântico transformou-se num elegante, mas ácido,
retrato da oligarquia americana
quando Preminger pulou da cadeira de produtor para a de diretor.
Salvar "Laura" representou seu
primeiro grande triunfo em Hollywood -e a maior prova de que
Preminger via além da estreita lógica do sistema.
Preminger encerrou em 1953
seus dias de cineasta assalariado. É
como pioneiro produtor independente que se desenvolve o melhor
de seu trabalho.
De cara, com a comédia romântica "Ingênua Até Certo Ponto"
(1953), desafiou o reacionário código Hays ao usar a palavra "virgem". Furou o bloqueio e emplacou um grande sucesso.
Derrubar tabus tornou-se então
a marca Preminger. "O Homem do
Braço de Ouro" (1955) é ainda hoje
um estupendo estudo sobre o vício
em drogas. A fragilidade da verdade nas cortes americanas explode
em "Anatomia de um Crime"
(1959). "Tempestade sobre Wa-
shington" (1962) mistura política e
homossexualismo num retrato
ainda insuperado dos bastidores
do poder nos EUA.
Nos intervalos, Preminger testou
todos os gêneros, à exceção da ficção científica. Deu-se bem em vários, como no delicado faroeste "O
Rio das Almas Perdidas" (1954) e
no musical -uma cópia restaurada de sua versão para "Porgy e
Bess" (1958), de Gershwin, encerra
na próxima semana Berlim-99. Tomara que corra o mundo.
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