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"CONTOS DE LYGIA"
Pretensão soterra relatos fantásticos
da Equipe de Articulistas
A escritora Lygia Fagundes Telles não tem dado muita sorte no
cinema. Três anos depois do fraco
"As Meninas", de Emiliano Ribeiro, surge agora este "Contos de
Lygia", de Del Rangel, que desperdiça boas idéias contidas nas narrativas da autora.
A melhor coisa dos três episódios
do longa-metragem são exatamente os esqueletos narrativos fornecidos pelos textos.
Os dois primeiros segmentos
-"Venha Ver o Pôr-do-Sol" e "A
Caçada"- inspiram-se nos contos homônimos da escritora. Já o
último episódio, "A Fuga", mistura elementos de dois relatos, "A
Fuga" e "Os Objetos".
Todas as três histórias contadas
no filme tocam, de alguma maneira, as fronteiras do fantástico.
Na primeira, um jovem de classe
média (Tarcisio Filho) convence
sua ex-namorada Vânia (Viviane
Pasmanter) a se encontrar com ele
num cemitério abandonado.
O problema é que o novo namorado de Vânia, o delegado de polícia Edgard (Luís Guilherme), segue os dois, armado e disposto a
qualquer coisa.
Há uma atmosfera macabra, que
lembra vagamente as histórias de
Edgar Alan Poe, mas tudo é posto a
perder pela frouxidão do roteiro e
pela indecisão geral da "mise-en-scène", sobretudo na direção de
atores.
Discussão esotérica
As coisas se complicam no segundo episódio, "A Caçada". No
conto original, um homem que
contempla num antiquário uma
velha tapeçaria representando
uma caçada vê-se aos poucos
transportado para o interior da cena retratada, como se a tivesse vivido em outra existência.
Esse belo argumento, desenvolvido à perfeição no conto, se perde
em meio a uma pretensiosa e rasa
discussão sobre predestinação, sinestesia e outros clichês esotéricos, levada a cabo por um roteirista de cinema (Celso Frateschi) em
vias de fazer um filme.
No último segmento, "A Fuga",
um homem (Gianfrancesco Guarnieri) que sabe estar à beira da
morte por causa de um câncer no
pulmão dedica-se a torturar psicologicamente a mulher (Natália
Thimberg).
As discussões cruéis e intermináveis entre os dois parecem ter como único objetivo tornar a vida do
espectador tão insuportável quanto as deles, pelo menos durante
uma longa meia hora.
Há a ameaça de uma boa idéia
-o homem assistir "de fora" à sua
própria morte-, mas ela é prontamente soterrada pelo esteticismo
vazio do conjunto.
Episódios fantásticos
As três histórias poderiam gerar
bons episódios fantásticos, na linha de "Além da Imaginação" ou
dos filmes baratos de terror dos
anos 50.
Para isso, contudo, seria preciso
que a adaptação cinematográfica
privilegiasse a objetividade narrativa e a clareza de exposição.
Aparentemente, os realizadores
acharam que isso seria pouco e optaram por inflar tudo com uma estética pseudo-sofisticada, feita de
cenários esquisitos, muita contra-luz, closes em objetos de pedra-sabão e diálogos empolados.
Tudo somado, até agora o melhor filme inspirado (ainda que vagamente) na obra de Lygia -por
sinal, no mesmo "A Caçada"- é
"As Três Mortes de Solano", dirigido pelo cineasta Roberto Santos
em 1975.
(JGC)
Filme: Contos de Lygia
Produção: Brasil, 1998
Direção: Del Rangel
Com: Gianfrancesco Guarnieri, Natália
Thimberg, Tarcisio Filho, Andrea Pozzi, Celso
Frateschi, Viviane Pasmanter, Luís
Guilherme
Quando: estréia hoje no cine SP Market 5
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