São Paulo, sábado, 12 de março de 2005

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Editoras embarcam na fórmula dos "cem"

DA REPORTAGEM LOCAL

Cem é o número. Cem melhores é ainda melhor. Desde o sucesso de "Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século" (Objetiva), de Italo Moricone, lançado em 2000, as editoras brasileiras não param de despejar nas prateleiras títulos que seguem a mesma receita numérica.
Enquanto escrevia este texto, no final da tarde de quinta, o repórter abriu um envelope e lá estava mais um: "As 100 Melhores Crônicas de Humor", do radialista Sandro Villar, publicação da pequena editora Alta Life Books.
Já se aproximam do cem os volumes que exploram este número, muitas vezes sem nenhuma relação com o universo da ficção. Tem de "100 Maiores Personalidades da História" a "100 Autores que Mudaram a História do Mundo", passando por "100 Discursos Históricos Brasileiros" e "100 Segredos das Pessoas Felizes".
Este último é assinado por David Niven (não confundir, por favor, com o grande ator britânico homônimo), um sujeito que vive do "cemzismo". Só no Brasil, o escritor de auto-ajuda já tem quatro títulos publicados com o número estampado na capa, todos pela editora Sextante.
A casa editorial não é, porém, a campeã de "cens". A editora que lançou "Os 100 Melhores Contos de Humor da Literatura Universal" ainda é a campeã. Além dos títulos de Moreira da Costa (que também lançou pelo mesmo selo duas antologias de 13 melhores contos, que não deram certo), a Ediouro lançou mais de uma dezena de títulos com a centena como mote.
Agora, ela deixa o número de lado. "Achamos que a fórmula do "cem" pode cansar", diz o diretor editorial da Ediouro, Heitor Paixão. Isso não significa o fim das antologias, que continuam com destaque na programação.
Recentemente, a editora publicou três seletas de histórias russas, inglesas e americanas e no próximo mês põe nas prateleiras "Os Melhores Contos Populares do Mundo", de Moreira da Costa.
Paixão atribui ao fator "gula" o sucesso das antologias. "O leitor tem a sensação de ir a um restaurante onde pode se servir à vontade. Ele esfrega as mãos e diz: "Vou comer muito e de tudo"."
Segundo o editor, a antologia é um produto que embala vários outros produtos. "São vários livros dentro de um só."
Mas não são todas as antologias que vendem como água. Uma das melhores seletas de contos já feita no país, a série de livros "Mar de Histórias", dos intelectuais-master Aurélio Buarque de Hollanda e Paulo Rónai, já foi um grande sucesso de venda. Sua reedição pela Nova Fronteira no final dos anos 90, porém, não içou vela.
"A divisão por estilos é muito universitária, é um modelo que afasta o grande público", palpita Moreira da Costa. "É uma coletânea de altíssimo nível, mas que pára em um público mais sofisticado", diz no mesmo tom Paixão.
Estimulado pela Folha a dizer quais os dez melhores segredos para fazer uma antologia, Moreira da Costa diz: "Eu prefiro não entregar o ouro. Você entende, espero: há muito carreirismo "antológico" atualmente".
A única pista que o gaúcho radicado no Rio dá aos eventuais seguidores é: "Basta ler muitos contos por 45 anos".
O escritor, que tem 62 anos, diz que não se recusaria a fazer antologia sobre nenhum assunto, desde que lhe dessem um prazo para pesquisar.
"Não entendo nada de ficção científica, por exemplo, mas se me derem seis meses eu viro um expert", brinca Moreira da Costa, relembrando a flexibilidade que conquistou trabalhando como jornalista, no passado.
Outro segredo do compilador é uma "assessoria 24 horas". Sua mulher, Celina Portocarrero, é sua parceira na pesquisa para as antologias e também traduz e supervisiona a tradução. "As traduções ainda são o calcanhar-de-aquiles das nossas editoras", diz Moreira da Costa.
(CEM)


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