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Editoras embarcam na fórmula dos "cem"
DA REPORTAGEM LOCAL
Cem é o número. Cem melhores é ainda melhor. Desde o sucesso de "Os Cem Melhores Contos
Brasileiros do Século" (Objetiva),
de Italo Moricone, lançado em
2000, as editoras brasileiras não
param de despejar nas prateleiras
títulos que seguem a mesma receita numérica.
Enquanto escrevia este texto, no
final da tarde de quinta, o repórter
abriu um envelope e lá estava
mais um: "As 100 Melhores Crônicas de Humor", do radialista
Sandro Villar, publicação da pequena editora Alta Life Books.
Já se aproximam do cem os volumes que exploram este número,
muitas vezes sem nenhuma relação com o universo da ficção.
Tem de "100 Maiores Personalidades da História" a "100 Autores
que Mudaram a História do Mundo", passando por "100 Discursos
Históricos Brasileiros" e "100 Segredos das Pessoas Felizes".
Este último é assinado por David Niven (não confundir, por favor, com o grande ator britânico
homônimo), um sujeito que vive
do "cemzismo". Só no Brasil, o escritor de auto-ajuda já tem quatro
títulos publicados com o número
estampado na capa, todos pela
editora Sextante.
A casa editorial não é, porém, a
campeã de "cens". A editora que
lançou "Os 100 Melhores Contos
de Humor da Literatura Universal" ainda é a campeã. Além dos
títulos de Moreira da Costa (que
também lançou pelo mesmo selo
duas antologias de 13 melhores
contos, que não deram certo), a
Ediouro lançou mais de uma dezena de títulos com a centena como mote.
Agora, ela deixa o número de lado. "Achamos que a fórmula do
"cem" pode cansar", diz o diretor
editorial da Ediouro, Heitor Paixão. Isso não significa o fim das
antologias, que continuam com
destaque na programação.
Recentemente, a editora publicou três seletas de histórias russas,
inglesas e americanas e no próximo mês põe nas prateleiras "Os
Melhores Contos Populares do
Mundo", de Moreira da Costa.
Paixão atribui ao fator "gula" o
sucesso das antologias. "O leitor
tem a sensação de ir a um restaurante onde pode se servir à vontade. Ele esfrega as mãos e diz: "Vou
comer muito e de tudo"."
Segundo o editor, a antologia é
um produto que embala vários
outros produtos. "São vários livros dentro de um só."
Mas não são todas as antologias
que vendem como água. Uma das
melhores seletas de contos já feita
no país, a série de livros "Mar de
Histórias", dos intelectuais-master Aurélio Buarque de Hollanda e
Paulo Rónai, já foi um grande sucesso de venda. Sua reedição pela
Nova Fronteira no final dos anos
90, porém, não içou vela.
"A divisão por estilos é muito
universitária, é um modelo que
afasta o grande público", palpita
Moreira da Costa. "É uma coletânea de altíssimo nível, mas que
pára em um público mais sofisticado", diz no mesmo tom Paixão.
Estimulado pela Folha a dizer
quais os dez melhores segredos
para fazer uma antologia, Moreira
da Costa diz: "Eu prefiro não entregar o ouro. Você entende, espero: há muito carreirismo "antológico" atualmente".
A única pista que o gaúcho radicado no Rio dá aos eventuais seguidores é: "Basta ler muitos contos por 45 anos".
O escritor, que tem 62 anos, diz
que não se recusaria a fazer antologia sobre nenhum assunto, desde que lhe dessem um prazo para
pesquisar.
"Não entendo nada de ficção
científica, por exemplo, mas se
me derem seis meses eu viro um
expert", brinca Moreira da Costa,
relembrando a flexibilidade que
conquistou trabalhando como
jornalista, no passado.
Outro segredo do compilador é
uma "assessoria 24 horas". Sua
mulher, Celina Portocarrero, é
sua parceira na pesquisa para as
antologias e também traduz e supervisiona a tradução. "As traduções ainda são o calcanhar-de-aquiles das nossas editoras", diz
Moreira da Costa.
(CEM)
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