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"CIDADÃO BRASILEIRO"
Após curso com o diretor Antunes Filho, ex-musa da máscara estréia em novela e no cinema
Suzana Alves "exorciza" Tiazinha e vira atriz
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LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Querida Tiazinha..." Suzana
Alves, 27, começou assim a sua
carta de despedida à personagem de máscara e chicote que a
tornou famosa em todo o país.
"Eu a tratei com carinho, mas
falei a verdade: "Querida, eu te
domino, e não o contrário! Tá
querendo brilhar mais do que
eu?'", conta Suzana, que estará
na novela "Cidadão Brasileiro",
que estréia amanhã na Record.
Ela hoje ri da história, mas naquele momento era "dolorido".
O texto foi como uma terapia
com o objetivo, diz, de se livrar
daquela sadomasoquista de cinta-liga rendada, criada em 1998,
que depilava pernas masculinas
com cera no palco do programa
"H" (Band), de Luciano Huck.
"Comecei a carta falando sobre o dia em que a conheci, contando como ajudei a criá-la, que
quis colocar a máscara para eu
me esconder e dar vida a ela."
A decisão de partir da Tiazinha para uma melhor foi tomada nos três meses que passou na
"Casa dos Artistas" (SBT), em
2002. "Não sabia quem eu era.
Queria que me vissem sem máscara, sem maquiagem. Lá, me
conectei com a espiritualidade.
Saí de cabeça feita: "A partir de
hoje, não dou mais autógrafo
com o nome da minha ex-personagem". Precisei sim esmagar a
cabeça dela. Ela queria mandar
na minha vida [risos]. Hoje
agradeço a ela por tudo."
Relação discutida, Suzana decidiu voltar aos primórdios da
sua carreira, iniciada no teatro
aos 14 anos, numa peça infantil.
Matriculou-se em aulas de
canto (que eliminaram a voz infantil dos tempos de Tiazinha) e
conseguiu ser admitida no curso
do consagrado diretor teatral
Antunes Filho. Faz aulas de inglês, formou-se em jornalismo.
Duas vezes por semana, reúne
em sua casa um grupo para ler a
Bíblia. Diz que na Record, a TV
da Igreja Universal, sente "uma
energia diferente", mas nega ser
evangélica. "Sou ligada a Jesus,
mas não quero dogmas, nada
que feche meu raciocínio. Não
quero me tornar uma religiosa."
Balé
Suzana é filha de migrantes do
sertão da Paraíba. Na infância,
morou com a família num quartinho, em São Paulo, que inundava com as enchentes. Sempre
estudou em escola pública. Conta que os pais, analfabetos, esforçaram-se para que tivesse acesso
à cultura. "Meu pai ia a pé à fábrica e me dava o passe de ônibus dele para eu ir ao balé", lembra, com olhos marejados.
O pai morreu há dois anos, no
auge de seu conflito com a Tiazinha. A mãe está na sexta série.
Sua preocupação agora é escolher papéis que nem de longe
lembrem a musa do chicote.
Abriu exceção à série "Mandrake", na qual fez uma participação como uma prostituta. "Não
poderia ter feito esse papel na
TV aberta. Na HBO, eu me senti
protegida." Ela também participa do filme "Boleiros 2", que estréia em abril, como uma "maria-chuteira" que tem um filho
de um jogador famoso. Contracena com Paulo Miklos (Titãs).
Voltará ao cinema como uma
professora de ginástica dos anos
80 no longa "O Cheiro do Ralo",
estrelado por Selton Mello.
Zezé, sua personagem da novela "Cidadão Brasileiro", é uma
patricinha, filha do prefeito, que
perde o chão quando flagra o pai
com sua melhor amiga na cama.
Suzana hoje foge dos holofotes
e dá poucas entrevistas. Não
quer mais falar de namorados
nem de ovnis (objetos voadores
não-identificados), com os
quais relatou certa vez ter se encontrado. "Achava que tinha a
missão de comunicar, que havia
sido escolhida por ser famosa.
Falei publicamente por ingenuidade, e disseram que queria me
promover. Hoje, não falo mais.
Para que explicar a quem não
quer ouvir, a um país acostumado a ridicularizar as pessoas e a
rir do sofrimento alheio?"
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