São Paulo, domingo, 12 de março de 2006

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"CIDADÃO BRASILEIRO"

Após curso com o diretor Antunes Filho, ex-musa da máscara estréia em novela e no cinema

Suzana Alves "exorciza" Tiazinha e vira atriz

1 LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

"Querida Tiazinha..." Suzana Alves, 27, começou assim a sua carta de despedida à personagem de máscara e chicote que a tornou famosa em todo o país.
"Eu a tratei com carinho, mas falei a verdade: "Querida, eu te domino, e não o contrário! Tá querendo brilhar mais do que eu?'", conta Suzana, que estará na novela "Cidadão Brasileiro", que estréia amanhã na Record.
Ela hoje ri da história, mas naquele momento era "dolorido". O texto foi como uma terapia com o objetivo, diz, de se livrar daquela sadomasoquista de cinta-liga rendada, criada em 1998, que depilava pernas masculinas com cera no palco do programa "H" (Band), de Luciano Huck.
"Comecei a carta falando sobre o dia em que a conheci, contando como ajudei a criá-la, que quis colocar a máscara para eu me esconder e dar vida a ela."
A decisão de partir da Tiazinha para uma melhor foi tomada nos três meses que passou na "Casa dos Artistas" (SBT), em 2002. "Não sabia quem eu era. Queria que me vissem sem máscara, sem maquiagem. Lá, me conectei com a espiritualidade. Saí de cabeça feita: "A partir de hoje, não dou mais autógrafo com o nome da minha ex-personagem". Precisei sim esmagar a cabeça dela. Ela queria mandar na minha vida [risos]. Hoje agradeço a ela por tudo."
Relação discutida, Suzana decidiu voltar aos primórdios da sua carreira, iniciada no teatro aos 14 anos, numa peça infantil.
Matriculou-se em aulas de canto (que eliminaram a voz infantil dos tempos de Tiazinha) e conseguiu ser admitida no curso do consagrado diretor teatral Antunes Filho. Faz aulas de inglês, formou-se em jornalismo. Duas vezes por semana, reúne em sua casa um grupo para ler a Bíblia. Diz que na Record, a TV da Igreja Universal, sente "uma energia diferente", mas nega ser evangélica. "Sou ligada a Jesus, mas não quero dogmas, nada que feche meu raciocínio. Não quero me tornar uma religiosa."


Balé
Suzana é filha de migrantes do sertão da Paraíba. Na infância, morou com a família num quartinho, em São Paulo, que inundava com as enchentes. Sempre estudou em escola pública. Conta que os pais, analfabetos, esforçaram-se para que tivesse acesso à cultura. "Meu pai ia a pé à fábrica e me dava o passe de ônibus dele para eu ir ao balé", lembra, com olhos marejados.
O pai morreu há dois anos, no auge de seu conflito com a Tiazinha. A mãe está na sexta série.
Sua preocupação agora é escolher papéis que nem de longe lembrem a musa do chicote. Abriu exceção à série "Mandrake", na qual fez uma participação como uma prostituta. "Não poderia ter feito esse papel na TV aberta. Na HBO, eu me senti protegida." Ela também participa do filme "Boleiros 2", que estréia em abril, como uma "maria-chuteira" que tem um filho de um jogador famoso. Contracena com Paulo Miklos (Titãs). Voltará ao cinema como uma professora de ginástica dos anos 80 no longa "O Cheiro do Ralo", estrelado por Selton Mello.
Zezé, sua personagem da novela "Cidadão Brasileiro", é uma patricinha, filha do prefeito, que perde o chão quando flagra o pai com sua melhor amiga na cama.
Suzana hoje foge dos holofotes e dá poucas entrevistas. Não quer mais falar de namorados nem de ovnis (objetos voadores não-identificados), com os quais relatou certa vez ter se encontrado. "Achava que tinha a missão de comunicar, que havia sido escolhida por ser famosa. Falei publicamente por ingenuidade, e disseram que queria me promover. Hoje, não falo mais. Para que explicar a quem não quer ouvir, a um país acostumado a ridicularizar as pessoas e a rir do sofrimento alheio?"


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