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Crítica/música
Após 11 anos, Portishead volta adaptado aos novos tempos
Banda inglesa retorna com "Third"; faixa de abertura tem fala em português
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 1997, Tony Blair chegava ao poder no Reino
Unido, após quase duas
décadas de governo conservador. A internet apenas engatinhava, MP3 era uma sigla que
não queria dizer nada e, meu
Deus, "Big Brother" não passava de um conceito literário. Em
1997, o Portishead era uma
banda bem diferente da que se
apresenta agora.
Após 11 anos, o Portishead,
cultuado grupo inglês de trip
hop, volta a lançar disco de estúdio. "Third" chega às lojas no
final de abril, mas, no último final de semana, apareceu na net.
À época dos discos "Dummy"
(1994) e "Portishead" (97), a
música pop vivia um momento
de divisões bem definidas: de
um lado, a celebração roqueira
do britpop; do outro, a explosão
hedonista da dance music.
Num canto para lá, o Radiohead lançava "OK Computer".
Ao lado do Massive Attack, o
Portishead desacelerava as batidas eletrônicas da dance music, criava climas sombrios, escuros, e dava forma ao trip hop.
Enquanto acompanhamos,
de lá para cá, o desenvolvimento do Massive Attack, o Portishead sumiu. Para voltar agora
-e adaptado aos novos tempos.
Ao ouvir "Third", percebe-se
que a banda avançou, não ficou
parada nos anos 90. Se antes as
músicas do Portishead espelhavam as certezas ao redor, o
novo disco traz uma saudável
indefinição rítmica e temática
-é o Portishead em época de
rock-eletrônica; da discussão
"quanto vale a música"...
Sabemos que vamos entrar
num universo estranho logo no
início. Uma voz falada, em português, inicia a primeira faixa,
"Silence": "Esteja alerta para a
regra dos três. O que você dá retornará para você. Essa lição
você tem que aprender. Você só
ganha o que você merece". (As
frases remetem à Wicca, religião celta ligada à bruxaria.)
"Silence" é lastreada por percussão e guitarra. Após dois minutos, aparece a voz de Beth
Gibbons, doce e calma, um contraponto à paranóia instrumental; um ponto de foco em
meio ao caos barulhento.
"Não sei o que fiz para te merecer/ Não sei o que farei sem
você", ela sussurra em "Nylon
Smile". "The Rip" é talvez o
momento maior do álbum: a
voz de Gibbons é reforçada
num crescendo arrebatador.
O disco é tomado por melodias quebradas, que remetem
ao dubstep de artistas como o
inglês Burial (de "Untrue", o
mais original disco de eletrônica lançado em anos).
A atmosfera de "Third" é
quase esquizóide; são poucas as
faixas, como "Deep Water", em
que o Portishead tenta colocar
alguma ordem no mundo. Eles
sabem que, hoje, é impossível.
THIRD
Artista: Portishead
Lançamento: em 28 de abril
Quanto: a definir
Avaliação: ótimo
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