São Paulo, sábado, 12 de março de 2011

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Picasso para menores

Em "O Menino que Mordeu Picasso", escritor inglês relata sua convivência, durante a infância , com um dos principais nomes da história da arte e mostra fotos e desenhos raros que estavam guardados com sua família

Lee Miller/Lee Miller Archives/Divulgação
Ainda menino, o autor Antony Penrose brinca com Pablo Picasso na casa do pintor em Cannes, França, em 1956

ALEXANDRA MORAES
EDITORA-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

Que tal morder Picasso? A experiência singularíssima foi vivida e relatada pelo escritor inglês Antony Penrose, 63, que hoje é avô, mas na época da mordida contava apenas três anos e meio.
O relato sobreviveu graças ao cuidado de sua mãe, Lee Miller -que foi modelo, fotógrafa de moda e de guerra e amiga de Picasso. Penrose não se lembra muito bem do evento, mas o que é certo é que o pintor espanhol revidou. "Eu nunca havia mordido um inglês antes", exclamou o artista, logo depois de bicar o braço da criança. O episódio foi relatado por Miller num texto da "Vogue" britânica naquele início da década de 1950.
A história se tornou o ponto de partida de "O Menino que Mordeu Picasso", lançamento da Cosac Naify a engordar as prateleiras de livros que ultrapassam o rótulo infantil e podem soar interessantes para qualquer um.
Mais que uma introdução à obra do artista ou sobre sua importância para a arte, o livro costura impressões infantis a imagens e pitadas da vida doméstica de Picasso.
As fotos de Lee Miller se intercalam com desenhos do artista feitos especialmente para a família -ele chegou a enviar uma pintura com touros para alegrar Penrose, triste, aos 12 anos, por ter ido para uma escola linha-dura.
"Eu me inspirei no livro "Lump, the Dog that Ate a Picasso" [Lump, o cachorro que comeu um Picasso], do fotógrafo David Douglas Duncan, uma história ilustrada encantadora", conta.
"Picasso, sabendo que o cachorro Lump nunca havia visto um coelho, fez um para ele de papelão. Lump comeu o coelho -que tinha sido feito numa caixa de bolo, então devia estar delicioso", diz.
"Escrevi o livro como se estivesse contando a história para meus netos, Kahina e Tarik, que tinham oito e sete anos na época." É aos netos que o autor dedica a história sobre a mordida, lançada no Reino Unido no ano passado.
Penrose conta que logo cedo percebeu como Picasso era famoso e admirado como artista -ia a muitas exposições com os pais, tinha uma casa cheia de livros sobre ele e alguns de seus trabalhos pendurados na parede.
Mas só notou como era diferente ter um amigo como Picasso bem depois.
"O professor de francês pediu a todo mundo para dizer aonde havia ido na Páscoa. Eu contei que tinha estado em Cannes, e ele perguntou por quê. "Ah, fui visitar Picasso." Houve um silêncio na classe, e depois todos estavam falando ao mesmo tempo, fazendo perguntas. A reação deles me fez perceber que poucas pessoas tinham tanta sorte quanto eu."
Na adolescência, no entanto, perdeu contato com o pintor. "Eu o vi pela última vez com uns 16 anos -saí da escola no ano seguinte e fui trabalhar, então eu não podia mais viajar como antes."
"Aprendi sobre a arte de Picasso assistindo a partes de seu processo criativo. Ele tinha uma personalidade amável e gentil e era muito generoso", diz o autor.
"Espero que algumas dessas coisas transpareçam no livro, mas, mais do que tudo, quero que as pessoas vejam que a arte é divertida", afirma Penrose. "Apesar de ter algumas mensagens muito sérias e importantes, é uma maneira de explorar infinitas possibilidades."

O MENINO QUE MORDEU PICASSO

AUTOR Antony Penrose
EDITORA Cosac Naify
TRADUÇÃO José Rubens Siqueira
QUANTO R$ 42 (48 págs.)


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