São Paulo, sábado, 12 de março de 2011

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CRÍTICA FOTOGRAFIA

Mostra documenta criação de novo olhar

Trabalhos de Aleksandr Ródtchenko evidenciam período artístico que pretendia revolução da sensibilidade


ASSIM COMO OS DEMAIS ARTISTAS TRANSGRESSORES, RÓDTCHENKO ACABOU PERDENDO O DIREITO DE TRABALHAR


DE SÃO PAULO

"É preciso incentivar o amor pela fotografia, para que as fotos sejam colecionadas, para que se criem fototecas e aconteçam exposições fotográficas de grande escala", pregou Aleksandr Ród- tchenko em "A Fotografia É uma Arte", de 1931.
Escrito num tempo em que manifestos artísticos eram moeda comum, além estar inserido no contexto revolucionário da União Soviética, iniciado em 1917, o texto é representativo do caráter utópico que a arte representava para figuras como o cineasta Sergei Eisenstein e o poeta Vladimir Maiakóvski.
Junto com o fotógrafo Ródtchenko, esses artistas buscavam criar um novo homem através de uma nova sensibilidade e, por isso, a experimentação foi tão usada por todos eles.
A exposição "Aleksandr Ródtchenko: Revolução na Fotografia" apresenta um excelente panorama desse momento em 300 obras, sejam fotografias, fotomontagens, capas de livro, revistas ou cartazes, realizados entre 1924 e 1954.
"Para acostumar as pessoas a ver a partir de novos pontos de vista é essencial tirar fotos de objetos familiares, cotidianos, a partir de perspectivas e de posições completamente inesperadas", defendia Ródtchenko, em 1928.
Assim, a mostra reúne um conjunto significativo de imagens que defendem essa nova proposta, que influenciaria o olhar fotográfico, definitivamente, a partir de então.

CERCEAMENTO
Se a experimentação foi motor do início da revolução, seu cerceamento, com o endurecimento do regime soviético, chega ao ápice quando, em 1932, o partido comunista dissolve as associações culturais e o realismo torna-se arte oficial.
Desse período torna-se claro que Ródtchenko, submetendo-se à nova linha, retrata o trabalhador, mesmo que por ângulos inovadores.
No entanto, assim como os demais artistas transgressores, Ródtchenko acabou perdendo o direito de trabalhar. A mostra em cartaz só foi possível porque sua família manteve sua obra intacta e conseguiu criar a Casa da Fotografia de Moscou, sede de grande parte das imagens da exposição.
"Revolução na fotografia", assim, é não só uma excelente reunião de trabalhos, como o testemunho de uma época de transformações radicais. (FABIO CYPRIANO)

ALEKSANDR RÓDTCHENKO: REVOLUÇÃO NA FOTOGRAFIA

QUANDO de ter. a dom., das 10h às 17h30; até 1º/5
ONDE Pinacoteca do Estado de São Paulo (pça. da Luz, 2, tel. 0/xx/ 11/3324-1000)
QUANTO R$ 6 (grátis sáb.)
AVALIAÇÃO ótimo


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