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Nina Simone mostra quão difícil é ser Nina Simone
8.ago.1998 - Associated Press
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A cantora e pianista de jazz norte-americana Nina Simone, que se apresenta amanhã e domingo em São Paulo, em foto de 1998 |
A cantora e uma das maiores pianistas de jazz em atividade se apresenta amanhã e domingo em SP
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SHOW
Cantora e pianista norte-americana fala de título que ganhou e quer tocar "Ne me Quitte Pas" amanhã
"Nina, mas pode me chamar de doctor"
SÉRGIO DÁVILA
Editor da Ilustrada
A voz que atende o telefone
continua rascante, mas perdeu
parte do brilho. Nina Simone,
uma das mais completas pianistas
de jazz em atividade e ainda uma
grande cantora, volta ao Brasil para dois shows em São Paulo, amanhã e domingo.
A voz agora menor se deve aos
tonéis de champanhe que ela gosta de entornar, sempre Cristal ou
Moët & Chandon Brut Imperial, e
à sua idade -a música tem 67
anos. "Não é fácil ser Nina Simone", diz, resignada.
Nascida em Tryon, na Carolina
do Norte (EUA) como Eunice
Kathleen Waymon, começou a
cantar pequena, num coral de
igreja conduzido pela mãe, o que
a levou mais tarde ao jazz.
Aos 10 anos, apresentou-se pela
primeira vez em público, tocando
piano. Na ocasião, seus pais foram retirados da primeira fila do
auditório, por serem negros, e
mudados para o fundo; estava
plantada a semente da luta anti-racismo que marca sua carreira
desde então e até hoje.
Estreou no disco em 1957, com"Jazz as Played in an Exclusive Side Street Club". Não grava em estúdio desde 1993 ("A Single Woman").
Esteve no Brasil pelo menos
duas vezes antes desta: em 1997,
quando se apresentou no mesmo
Bourbon e tocou ao ar livre no
Ibirapuera, para 35 mil pessoas; e
na edição de 1988 do Free Jazz
Festival, um show inesquecível,
em que martelava o piano com
raiva enquanto tocava "Don't Let
Me Be Misunderstood".
Sobre os shows desta semana,
Nina Simone falou à Folha por telefone de sua casa, na cidade de
Bouc-Bel-Air, perto de Aix-en-Provence, no sul da França, onde
mora desde 1993.
Folha - Gostaria de falar com a
sra. Nina Simone.
Nina Simone - Doctor Simone,
por favor.
Folha - Dr. Simone?
Nina - Sim, recebi há alguns
anos o título de doutora honoris
causa e desde então prefiro ser
chamada de dr. Simone.
Folha - O que a sra. pretende
tocar no Brasil, dr. Simone?
Nina - "Ne me Quitte Pas". Vocês gostam de "Ne me Quitte
Pas", do Jacques Brel, aí?
Folha - Imagino que sim.
Nina - Mas gostam mais da minha versão ou da de Edith Piaf?
Folha - Acho que a sua é mais
popular.
Nina - Ótimo. Vou tocar então
"Ne me Quitte Pas". O que mais?
"Nobody's Fault But Mine", minha, "In the Morning", do Barry
Gibb, "Moon Over Alabama", do
Weill e do Brecht, "Mississippi
Goddam!", que eu adoro, "The
King of Love Is Dead", que é uma
homenagem ao dr. Martin Luther King. Toco ainda "Just Like a
Woman", do Bob Dylan. E uma
ou duas mais.
Folha - Alguma brasileira?
Nina - Não, nada brasileiro.
Não sou populista.
Folha - Como vários jazzistas,
a sra. também deixou os EUA e
vive na França. Por quê?
Nina - Aqui eu sou mais respeitada, as pessoas me dão mais valor. Os EUA estão no fim. Não
pretendo voltar a morar lá.
Folha - Seu último álbum de
estúdio é de 1993. Por que tanto tempo sem gravar?
Nina - Estou muito velha, não
quero gravar mais nada. Não é
fácil ser Nina Simone.
Folha - Por quê?
Nina - Porque para ser a melhor pianista de jazz é preciso
muita prática. Ainda hoje eu pratico de 4 a 6 horas por dia...
Folha - Além de ensaiar e de
se apresentar em shows, o que
mais a sra. tem feito?
Nina - Recentemente gravei
seis programas de rádio para a
BBC 2, de Londres. Chama-se
"The Nina Simone Collection",
só com músicas de que gosto.
Folha - O que a sra. ouve hoje
em dia?
Nina - (grita para sua assistente) Querida, o que eu ouço hoje
em dia mesmo? (voz baixa, ao
longe) "Miles, Ray Charles, Steve
Wonder". (ela repete) Miles, Ray
Charles e Steve Wonder.
Folha - Alguém novo?
Nina - Não conheço ninguém
da nova geração.
Folha - Nesta mesma semana,
estava programada a apresentação de Diana Krall no Brasil,
que acabou cancelada. Como a
sra., é uma pianista e cantora
de jazz, só que mais nova e
branca. Já ouviu falar dela?
Nina - Não tenho a menor idéia
de quem você está falando. Eu
sou Nina Simone. Ela é quem?
Show: Nina Simone
Quando: amanhã, 21h30
Onde: Via Funchal (r. Funchal, 65, São
Paulo, tel. 0/xx/11/3846-2300)
Quanto: R$ 40 a R$ 100
Quando: domingo, 21h
Onde: Bourbon Street Music Club (r. dos
Chanés, 127, São Paulo, tel. 0/xx/11/
542-1927
Quanto: R$ 120 a R$ 185
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