|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LITERATURA
"Conversa de Livraria" reúne textos do poeta assinados como O Observador Literário e Policarpo Quaresma, Neto
Obra reúne pseudônimos de Drummond
CARLOS ALBERTO DE SOUZA
da Agência Folha, em Porto Alegre
Passados 13 anos da morte de
Carlos Drummond de Andrade, o
nome do poeta volta a ocupar a
capa de uma obra, desta vez na
condição de autor de textos até
então inéditos em livro, escritos
por ele nos anos de 1941 e 1948
sob os pseudônimos O Observador Literário e Policarpo Quaresma, Neto, respectivamente.
"Conversa de Livraria", que será lançado amanhã em Porto Alegre, reúne crônicas e notas publicadas na revista "Euclydes", em
41, e no suplemento "Letras e Artes", do extinto jornal "A Manhã", em 48. As duas publicações
eram do Rio de Janeiro.
Sob os pseudônimos O Observador Literário e Policarpo Quaresma, Neto, Drummond sentia-se à vontade para elogiar ou criticar livros, autores e fatos relacionados à literatura, no Brasil e no
exterior, naqueles dois anos da
década de 40. Dois exemplos:
"Este livrinho de modesta feição
(referindo-se ao "Manual de Estilo", de José Oiticica), aparentemente para uso de alunos de ginásio, devia ser posto na mesa de
muito escritor, jornalista e homem público do Brasil, desses
que andam por aí cosendo grosseiramente as palavras em frases
sem coordenação, sem número e
sem graça. Mestre Oiticica lhes seria do maior proveito", escreveu
O Observador Literário.
A pena do crítico
Sobre "Raízes do Brasil", de Sérgio Buarque de Holanda, escreveu Policarpo Quaresma, Neto:
"A obra se recomenda pelo teor literário, e por estar apoiada em
documentação que não é meramente de arquivos históricos,
mas também filosófica, sociológica e econômica. O autor observa
agudamente que a "grande revolução brasileira" não se identifica a
um fato especial em determinado
momento; "é antes um processo
demorado e que vem durando pelo menos há três quartos de século"...".
"Conversa de Livraria" (116 páginas, R$ 18) foi editado conjuntamente pelas editoras AGE, de
Porto Alegre, e Giordano, de São
Paulo, sendo o 24º título da Coleção Memória. Os textos publicados em "Euclydes" e "Letras e Artes" foram cedidos pelo bibliófilo
Waldemar Torres.
No dia do lançamento do livro,
Torres inaugurará na capital gaúcha o Engenho e Arte, espaço que
abrigará sua biblioteca de 5.000
volumes. A data também marcará
os 70 anos de "Alguma Poesia"",
primeiro livro de Drummond.
Quem era Policarpo Quaresma,
Neto? O jornal "A Manhã" desafiou seus leitores, entre eles o poeta Manuel Bandeira, intrigado
com o assunto, a descobrirem a
verdadeira identidade do "personagem misterioso".
O jornal descreveu o colaborador Drummond como "homem
de um só parecer, meio risonho,
meio severo. Não tão severo que
chegue a denunciar a nudez do rei
na via pública. Para ele, a camisa
do rei existe; só que costuma estar
um pouco rasgada. Isso pode
chocar à primeira vista, num
meio infelizmente algo afetado
pelo excesso de elogio e que por
isso recebe arrepiado a mais branda restrição..."
Timidez
Álibi literário consagrado pelo
português Fernando Pessoa, os
heterônimos não deixam de constituir recurso coerente para
Drummond, confessadamente tímido e recatado. A atriz Tonia
Carrero é testemunha. Em seu espetáculo mais recente, "Amigos
Para Sempre", ela rememora a dificuldade do poeta mineiro em se
relacionar com as pessoas, sobretudo ela, uma das musas no Rio
dos anos 40 e 50.
Texto Anterior: Televisão: Net lança pacote popular e introduz o sistema pré-pago Próximo Texto: Música: Martinho busca sons d'além mar Índice
|