São Paulo, quarta-feira, 12 de abril de 2000


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LITERATURA
"Conversa de Livraria" reúne textos do poeta assinados como O Observador Literário e Policarpo Quaresma, Neto
Obra reúne pseudônimos de Drummond

CARLOS ALBERTO DE SOUZA
da Agência Folha, em Porto Alegre

Passados 13 anos da morte de Carlos Drummond de Andrade, o nome do poeta volta a ocupar a capa de uma obra, desta vez na condição de autor de textos até então inéditos em livro, escritos por ele nos anos de 1941 e 1948 sob os pseudônimos O Observador Literário e Policarpo Quaresma, Neto, respectivamente.
"Conversa de Livraria", que será lançado amanhã em Porto Alegre, reúne crônicas e notas publicadas na revista "Euclydes", em 41, e no suplemento "Letras e Artes", do extinto jornal "A Manhã", em 48. As duas publicações eram do Rio de Janeiro.
Sob os pseudônimos O Observador Literário e Policarpo Quaresma, Neto, Drummond sentia-se à vontade para elogiar ou criticar livros, autores e fatos relacionados à literatura, no Brasil e no exterior, naqueles dois anos da década de 40. Dois exemplos:
"Este livrinho de modesta feição (referindo-se ao "Manual de Estilo", de José Oiticica), aparentemente para uso de alunos de ginásio, devia ser posto na mesa de muito escritor, jornalista e homem público do Brasil, desses que andam por aí cosendo grosseiramente as palavras em frases sem coordenação, sem número e sem graça. Mestre Oiticica lhes seria do maior proveito", escreveu O Observador Literário.

A pena do crítico
Sobre "Raízes do Brasil", de Sérgio Buarque de Holanda, escreveu Policarpo Quaresma, Neto: "A obra se recomenda pelo teor literário, e por estar apoiada em documentação que não é meramente de arquivos históricos, mas também filosófica, sociológica e econômica. O autor observa agudamente que a "grande revolução brasileira" não se identifica a um fato especial em determinado momento; "é antes um processo demorado e que vem durando pelo menos há três quartos de século"...".
"Conversa de Livraria" (116 páginas, R$ 18) foi editado conjuntamente pelas editoras AGE, de Porto Alegre, e Giordano, de São Paulo, sendo o 24º título da Coleção Memória. Os textos publicados em "Euclydes" e "Letras e Artes" foram cedidos pelo bibliófilo Waldemar Torres.
No dia do lançamento do livro, Torres inaugurará na capital gaúcha o Engenho e Arte, espaço que abrigará sua biblioteca de 5.000 volumes. A data também marcará os 70 anos de "Alguma Poesia"", primeiro livro de Drummond.
Quem era Policarpo Quaresma, Neto? O jornal "A Manhã" desafiou seus leitores, entre eles o poeta Manuel Bandeira, intrigado com o assunto, a descobrirem a verdadeira identidade do "personagem misterioso".
O jornal descreveu o colaborador Drummond como "homem de um só parecer, meio risonho, meio severo. Não tão severo que chegue a denunciar a nudez do rei na via pública. Para ele, a camisa do rei existe; só que costuma estar um pouco rasgada. Isso pode chocar à primeira vista, num meio infelizmente algo afetado pelo excesso de elogio e que por isso recebe arrepiado a mais branda restrição..."

Timidez
Álibi literário consagrado pelo português Fernando Pessoa, os heterônimos não deixam de constituir recurso coerente para Drummond, confessadamente tímido e recatado. A atriz Tonia Carrero é testemunha. Em seu espetáculo mais recente, "Amigos Para Sempre", ela rememora a dificuldade do poeta mineiro em se relacionar com as pessoas, sobretudo ela, uma das musas no Rio dos anos 40 e 50.


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