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Livros - Crítica/"Nosso GG em Havana"
Gutiérrez faz paródia a Graham Greene
Cubano Pedro Juan Gutiérrez abandona realismo sujo e autobiográfico para emular o estilo do romancista britânico
JOCA REINERS TERRON
ESPECIAL PARA A FOLHA
Há algo em Cuba que
não conseguiu ser
destruído pela revolução castrista de 1959: a sua fama de paraíso sexual, já em evidência antes, na ditadura de
Fulgencio Batista, e ainda em
vigor agora, quando o combalido "El Comandante" passa o
boné do totalitarismo ao irmão
Raúl. É esse clima afrodisíaco o
elemento principal de "Nosso
GG em Havana", de Pedro Juan
Gutiérrez, embora as iniciais
do título (pertencentes ao romancista britânico Graham
Greene, personagem do livro)
sugiram outro protagonista.
A bandalheira dos clubes e a
jogatina de cassinos havanos às
vésperas da derrocada do regime de Batista servem de fundo
para uma trama tão inusitada
quanto improvável: acusado de
assassinato, GG, escritor best-seller e católico de carteirinha,
é preso no camarim de um teatro de sexo explícito.
Junto dele estão um ator
pornô muito bem-dotado cujo
nome é Caridad, e um cadáver
não identificado. A anedota,
graças à natureza do envolvimento do falso GG com Caridad, é inegavelmente boa, mas
cessa por aí.
Então o verdadeiro Greene
surge em cena para descobrir
como seu bom nome foi para as
cucuias (apesar dos esforços
contrários de seu agente, interessado em lucrar com o episódio). Ele descobre assim (e um
tanto desinteressado) a identidade do impostor e aproveita
para cair na gandaia. Nesse ínterim, é seduzido por agentes
do FBI, da KGB e da organização Habash, encarregada de assassinar criminosos de guerra
nazistas, além de fazer amizade
com um cafetão.
Estilo de Graham Greene
O breve e parodístico romance de Gutiérrez sugere uma série de possibilidades, mas não
parece interessado em nenhuma delas. Com linguagem seca,
mas não necessariamente precisa, emula o estilo direto da
narrativa de Greene sem alcançar o mesmo efeito. A ironia comedida presente nos livros do
britânico converte-se em grossura de menor calibre nas mãos
do autor cubano.
Resta apenas o clima de antevéspera do apocalipse capitalista e um eco mal explicado de
"Nosso Homem em Havana",
romance de Greene homenageado no título. Tudo o mais fica por ser resolvido.
A ser solucionado resta também o enigma da migração de
Gutiérrez, notabilizado pelo
"realismo sujo" e autobiográfico dos seus livros pertencentes
ao ciclo de Havana central
(sendo "Trilogia Suja de Havana" seu maior acerto), para
uma literatura referencial e reverenciadora. Nada a ver com
censurar sua mudança, afinal é
salutar que a literatura trafegue
com liberdade nesses dias em
que não há muita. Com tantos
labirintos por aí, porém, nem
sempre se acerta o endereço.
JOCA REINERS TERRON é escritor, autor de
"Sonho Interrompido por Guilhotina" (Casa da
Palavra)
NOSSO GG EM HAVANA
Autor: Pedro Juan Gutiérrez
Tradução: Paulina Wacht e Ari Roitman
Editora: Objetiva/Alfaguara
Quanto: R$ 25,90 (128 págs.)
Avaliação: regular
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