São Paulo, sábado, 12 de abril de 2008

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Crítica/"Ascensão e Queda do Terceiro Reich" e "Creta"

Lançamentos revisam os horrores da Segunda Guerra

Jornalista que cobriu conflito traz impressões, e historiador descreve batalha de Creta

OSCAR PILAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O nazismo tem sido objeto de muitos livros. "O Duelo", de John Lukacs, sobre o embate entre Hitler e Churchill, e "Hitler", biografia de Joachim Fest, são os melhores. "Ascensão e Queda do Terceiro Reich", de William Shirer, e "Creta", de Antony Beevor, são os mais recentes.
Shirer, jornalista americano que viu surgir o nacional-socialismo, tem texto ágil e se equilibra bem entre análises e impressões. Cobrindo o período de 1933 a 1945, o livro tem vocação muralista, mas não descuida do detalhe, como aquele momento em que Hitler, após uma derrota militar para os soviéticos, escuta uma ópera de Wagner. Nessa toada, o autor garante a fluência da narrativa.
Publicado originalmente em 1961, no entanto, o livro tem trechos datados. Um exemplo: o autor estabelece uma associação entre o nazismo e a mentalidade alemã, descrita como historicamente avessa à democracia. Na sua biografia, Fest rejeita, com razão, a tese: "É preciso notar que um sistema de poder totalitário não pode ser edificado sobre tendências criminosas de um povo".
Outro exemplo: Shirer sustenta que a invasão à Iugoslávia e à Grécia, em 1941, atrasou o ataque à URSS, o que foi fatal para a máquina de guerra nazista. Mas em "Creta", Beevor registra outras possíveis causas, como problemas com combustível e campos de pouso. A polêmica, de qualquer maneira, é marginal no livro de Beevor. O foco do historiador britânico é a batalha pelo controle da estratégica ilha grega.
Após a desastrada tentativa de invasão de Creta pelos fascistas, as tropas de Hitler a tomaram em uma semana, na primeira vitória da história de forças transportadas por aviões.

O escritor e o aventureiro
Para Beevor, a derrota não tira os méritos da resistência. O relato recria o horror da guerra, do qual também os nazistas foram vítimas, sobretudo os pára-quedistas que, atingidos em pleno ar, "pendiam moles e depois desmoronavam ao chegar ao chão", onde os pára-quedas lhes serviam de "mortalhas instantâneas".
Beevor investe em personagens. É o caso do capitão Evelyn Waugh, que viu nas traições de oficiais o símbolo do colapso da classe dominante britânica, como anotou num romance. Para Beevor, porém, o escritor, influenciado por uma desilusão pessoal, não descreve objetivamente os fatos.
Outro personagem é o aventureiro Peter Fleming, que destruía equipamentos para que não caíssem em mãos nazistas. Fleming, aliás, merecia um perfil mais caprichado. Beevor nem menciona que, em 1932, em meio à revolução paulista, ele integrou uma extravagante expedição inglesa pelo Brasil.


OSCAR PILAGALLO é jornalista e autor de "A História do Brasil no Século 20" (em cinco volumes, pela Publifolha).

ASCENSÃO E QUEDA DO TERCEIRO REICH
Autor:
William L. Shirer
Tradução: Pedro Pomar e Leônidas Gontijo de Carvalho
Editora: Agir
Quanto: R$ 89,90 cada volume (880 págs. e 768 págs.)
Avaliação: regular

CRETA
Autor:
Antony Beevor
Tradução: Maria Beatriz de Medina
Editora: Record
Quanto: R$ 55,00 (462 págs.)
Avaliação: bom


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