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Crítica/"Ascensão e Queda do Terceiro Reich" e "Creta"
Lançamentos revisam os horrores da Segunda Guerra
Jornalista que cobriu conflito traz impressões, e historiador descreve batalha de Creta
OSCAR PILAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O nazismo tem sido objeto de muitos livros. "O
Duelo", de John Lukacs, sobre o embate entre Hitler e Churchill, e "Hitler", biografia de Joachim Fest, são os
melhores. "Ascensão e Queda
do Terceiro Reich", de William
Shirer, e "Creta", de Antony
Beevor, são os mais recentes.
Shirer, jornalista americano
que viu surgir o nacional-socialismo, tem texto ágil e se equilibra bem entre análises e impressões. Cobrindo o período
de 1933 a 1945, o livro tem vocação muralista, mas não descuida do detalhe, como aquele
momento em que Hitler, após
uma derrota militar para os soviéticos, escuta uma ópera de
Wagner. Nessa toada, o autor
garante a fluência da narrativa.
Publicado originalmente em
1961, no entanto, o livro tem
trechos datados. Um exemplo:
o autor estabelece uma associação entre o nazismo e a mentalidade alemã, descrita como
historicamente avessa à democracia. Na sua biografia, Fest
rejeita, com razão, a tese: "É
preciso notar que um sistema
de poder totalitário não pode
ser edificado sobre tendências
criminosas de um povo".
Outro exemplo: Shirer sustenta que a invasão à Iugoslávia
e à Grécia, em 1941, atrasou o
ataque à URSS, o que foi fatal
para a máquina de guerra nazista. Mas em "Creta", Beevor
registra outras possíveis causas, como problemas com combustível e campos de pouso.
A polêmica, de qualquer maneira, é marginal no livro de
Beevor. O foco do historiador
britânico é a batalha pelo controle da estratégica ilha grega.
Após a desastrada tentativa
de invasão de Creta pelos fascistas, as tropas de Hitler a tomaram em uma semana, na primeira vitória da história de forças transportadas por aviões.
O escritor e o aventureiro
Para Beevor, a derrota não tira os méritos da resistência. O
relato recria o horror da guerra,
do qual também os nazistas foram vítimas, sobretudo os pára-quedistas que, atingidos em
pleno ar, "pendiam moles e depois desmoronavam ao chegar
ao chão", onde os pára-quedas
lhes serviam de "mortalhas instantâneas".
Beevor investe em personagens. É o caso do capitão
Evelyn Waugh, que viu nas traições de oficiais o símbolo do colapso da classe dominante britânica, como anotou num romance. Para Beevor, porém, o
escritor, influenciado por uma
desilusão pessoal, não descreve
objetivamente os fatos.
Outro personagem é o aventureiro Peter Fleming, que destruía equipamentos para que
não caíssem em mãos nazistas.
Fleming, aliás, merecia um perfil mais caprichado. Beevor
nem menciona que, em 1932,
em meio à revolução paulista,
ele integrou uma extravagante
expedição inglesa pelo Brasil.
OSCAR PILAGALLO é jornalista e autor de "A
História do Brasil no Século 20" (em cinco volumes, pela Publifolha).
ASCENSÃO E QUEDA DO TERCEIRO REICH
Autor: William L. Shirer
Tradução: Pedro Pomar e Leônidas Gontijo de Carvalho
Editora: Agir
Quanto: R$ 89,90 cada volume (880 págs. e 768 págs.)
Avaliação: regular
CRETA
Autor: Antony Beevor
Tradução: Maria Beatriz de Medina
Editora: Record
Quanto: R$ 55,00 (462 págs.)
Avaliação: bom
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