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Obra mostra brasileiros nas forças nazistas
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
A historiografia brasileira da Segunda
Guerra ganhou um
diamante bruto. Com mais
lapidação e sem polêmica
desnecessária, um livro sobre soldados brasileiros nas
forças armadas alemãs seria
uma jóia de primeira grandeza. O historiador Dennison
de Oliveira fez um excelente
trabalho de pesquisa -ou
melhor, de detetive- para
encontrar e entrevistar alguns jovens que foram servir
como "Os Soldados Brasileiros de Hitler", título sensacionalista embora preciso.
Pena que a editora julgou necessário também colocar na
capa algo de gosto duvidoso e
sem sentido: uma foto do ditador alemão.
As entrevistas revelam
histórias de vida originais,
uma espécie de "olhar brasileiro" sobre a guerra pelo lado alemão -casos de combate na frente russa, ou em uma
bateria antiaérea, ou de racionamento de comida e experiência em campo de prisioneiros.
A participação de brasileiros nas forças armadas inimigas, em conseqüência da
dupla cidadania, é um tema
virgem e instigante. E ainda é
tabu, tanto que os entrevistados não têm seu nome real
revelado.
À primeira vista, pode parecer louvável que o autor
pouco comente as declarações dos entrevistados. Há
praticamente nada de contextualização ou correção
das declarações. Isso contribui, claro, para que o leitor
consiga ouvir nitidamente a
voz desses soldados. Embora
seja revoltante ouvir um deles negando o holocausto judeu -e o próprio autor "relativizando" a coisa em um
certamente polêmico capítulo final. Com isso, o autor abdica de boa parte da sua função de historiador.
Falta de checagem
Um historiador -e mesmo
sua versão cotidiana mais
modesta, o jornalista- não é
um mero gravador de declarações a serem publicadas de
modo bruto. A primeiríssima
obrigação é checar a autenticidade da sua fonte e das informações. Em seguida, os
fatos devem ser analisados e
interpretados. É essa lapidação que falta ao livro -além
de muitos problemas de revisão e precisão.
Na página 39, fala-se de
um regimento americano de
"mísseis", quando o correto é
de "nisseis" -eram tropas
recrutadas entre americanos
de origem japonesa.
Outro bom exemplo é algo
informado pelo entrevistado
apelidado "Fritz": "ele também mencionou um outro
colega que teria lutado na
FEB, de sobrenome Ritmeister (sic), morto na campanha, bem como um aviador
do 1º Grupo de aviação de caça (sic) da FAB, de nome
Klotz". Não custava nada ter
informado que se tratava de
Roland Rittmeister, piloto
do 1º Grupo de Caça, morto
em acidente em 1944. Já o
"Klotz" era Carlos Alberto
Klotz, piloto da 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação,
que sobreviveu à guerra.
OS SOLDADOS BRASILEIROS DE HITLER
Autor: Dennison de Oliveira
Editora: Juruá
Quanto: R$ 25,90 (118 págs.)
Avaliação: bom
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