São Paulo, sábado, 12 de abril de 2008

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Obra mostra brasileiros nas forças nazistas

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

A historiografia brasileira da Segunda Guerra ganhou um diamante bruto. Com mais lapidação e sem polêmica desnecessária, um livro sobre soldados brasileiros nas forças armadas alemãs seria uma jóia de primeira grandeza. O historiador Dennison de Oliveira fez um excelente trabalho de pesquisa -ou melhor, de detetive- para encontrar e entrevistar alguns jovens que foram servir como "Os Soldados Brasileiros de Hitler", título sensacionalista embora preciso.
Pena que a editora julgou necessário também colocar na capa algo de gosto duvidoso e sem sentido: uma foto do ditador alemão.
As entrevistas revelam histórias de vida originais, uma espécie de "olhar brasileiro" sobre a guerra pelo lado alemão -casos de combate na frente russa, ou em uma bateria antiaérea, ou de racionamento de comida e experiência em campo de prisioneiros.
A participação de brasileiros nas forças armadas inimigas, em conseqüência da dupla cidadania, é um tema virgem e instigante. E ainda é tabu, tanto que os entrevistados não têm seu nome real revelado.
À primeira vista, pode parecer louvável que o autor pouco comente as declarações dos entrevistados. Há praticamente nada de contextualização ou correção das declarações. Isso contribui, claro, para que o leitor consiga ouvir nitidamente a voz desses soldados. Embora seja revoltante ouvir um deles negando o holocausto judeu -e o próprio autor "relativizando" a coisa em um certamente polêmico capítulo final. Com isso, o autor abdica de boa parte da sua função de historiador.

Falta de checagem
Um historiador -e mesmo sua versão cotidiana mais modesta, o jornalista- não é um mero gravador de declarações a serem publicadas de modo bruto. A primeiríssima obrigação é checar a autenticidade da sua fonte e das informações. Em seguida, os fatos devem ser analisados e interpretados. É essa lapidação que falta ao livro -além de muitos problemas de revisão e precisão.
Na página 39, fala-se de um regimento americano de "mísseis", quando o correto é de "nisseis" -eram tropas recrutadas entre americanos de origem japonesa.
Outro bom exemplo é algo informado pelo entrevistado apelidado "Fritz": "ele também mencionou um outro colega que teria lutado na FEB, de sobrenome Ritmeister (sic), morto na campanha, bem como um aviador do 1º Grupo de aviação de caça (sic) da FAB, de nome Klotz". Não custava nada ter informado que se tratava de Roland Rittmeister, piloto do 1º Grupo de Caça, morto em acidente em 1944. Já o "Klotz" era Carlos Alberto Klotz, piloto da 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação, que sobreviveu à guerra.


OS SOLDADOS BRASILEIROS DE HITLER
Autor:
Dennison de Oliveira
Editora: Juruá
Quanto: R$ 25,90 (118 págs.)
Avaliação: bom


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