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Confúcio vira auto-ajuda e torna autora best-seller
Yu Dan vendeu quase 5 milhões de livros ao adaptar pensamentos do filósofo chinês
"Prefiro usar uma linguagem simples para derrubar o preconceito de quem acha que os valores tradicionais são inatingíveis", diz pedagoga
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Estresse? Problemas no emprego? Crise na família? Buscando o seu "eu interior"? Ao
transformar pensamentos do
filósofo chinês Confúcio em auto-ajuda, uma professora chinesa se tornou o maior best-seller do país no último ano.
Ph.D em estudos da mídia, a
pedagoga Yu Dan, 43, vendeu
quase 5 milhões de exemplares
do livro "Reflexões de Yu Dan
sobre os Diálogos de Confúcio"
(não publicado no Brasil), o triplo do último Harry Potter no
país. Sem contar 6 milhões de
cópias piratas -na capa, um retrato da autora, eleita uma das
50 mulheres mais belas do país
por uma revista de celebridades. Segundo a "Forbes", ela foi
a escritora que mais faturou na
China em 2007: US$ 1,5 milhão
(cerca de R$ 2,5 milhões) com
direitos autorais e palestras.
O sucesso de Yu mostra a virada do pensador e guia espiritual da China. Confúcio (551 a
479 a.C) caiu em desgraça durante a "revolução cultural"
empreendida pelo líder comunista Mao Tse-tung a partir de
1966. Templos confucianos foram demolidos, e seus livros,
queimados.
Mas, enquanto pouco sobra
do comunismo na hipercapitalista China, os ensinamentos
confucianos estão bombando.
A agenda de Yu está cheia até o
ano que vem com palestras para CEOs, executivos, donas-de-casa, universitários, além de várias participações na TV. Até sisudos líderes comunistas adoram a sorridente professora.
"Nos anos 60 e 70, você não
escolhia onde trabalhar, onde
estudar, todos éramos pobres
em uma economia planejada,
em que educação e saúde eram
responsabilidade do governo.
Hoje há mais liberdade, mas na
economia de mercado há competição, ansiedade. Os chineses
querem redescobrir valores
que foram tão desprezados",
diz Yu à Folha, no condomínio
em que mora, em Pequim.
"As pessoas podem simplesmente escolher seu estilo de vida. Confúcio enfatiza a ética e a
moralidade, enquanto o taoísmo prioriza a natureza, o universo, a transcendência. Confúcio é a Terra, Tao é o céu."
Estrela na TV
O sucesso de Yu começou na
televisão. No final de 2006, ela
foi convidada por um programa
da emissora estatal CCTV, o
"Sala de Conferências", para falar sobre Confúcio. A audiência
foi tão grande que ela foi convidada a dar outras seis aulas. Seu
livro saiu pouco depois, direto
para a lista de best-sellers.
"Achavam que, para entender Confúcio, precisava ser um
intelectual de longa barba e
óculos. Mas prefiro usar jeans e
uma linguagem simples para
derrubar o preconceito de
quem acha que os ensinamentos tradicionais são inatingíveis. Eles ensinam a ter uma vida feliz no mundo moderno".
Muitos executivos e empresários pedem palestras a Yu.
"Na China antiga, agricultores
eram valorizados, e empresários eram chamados de mentirosos. Gerentes bem-sucedidos
querem aprender a ser respeitados e a reforçar valores éticos
ou até a ter bom coração."
Além das idéias confucianas
garimpadas por Yu Dan, ela
acrescenta referências a taoísmo, budismo, Hegel -intelectuais a criticam, mas o público
adora. "Pessoas benévolas não
têm preocupações, as sábias
não têm ansiedade, as corajosas
não têm medo", ela diz.
Hierarquia e democracia
Muitos críticos culpam Confúcio pela rigidez hierárquica
da sociedade chinesa nos últimos 25 séculos. Em parte,
quem diria, Yu Dan concorda.
"Confúcio viveu há 2.259
anos, só pequena parte de sua
teoria pode ser útil na sociedade moderna. Ele dizia que devíamos obedecer e seguir regras de superiores para manter
uma ordem social, mas o mundo mudou." Ela diz ainda que a
família rígida e o papel inferior
da mulher "não valem mais".
Em poucos meses, Yu vai
apresentar novas "aulas" na
CCTV e lançar um novo livro,
"Impressões sobre Confúcio".
As primeiras traduções em inglês e francês saem em agosto.
Ela avalia que a cultura chinesa e a ocidental são complementares, que Confúcio e o
taoísmo podem ser úteis ao
Ocidente. A China, diz, viveu
2.000 anos de feudalismo e
centralização, enquanto o Ocidente viveu monarquias. Questionada sobre que valores ocidentais admira, não titubeia. "A
China deveria aprender a democracia, a importância da
ciência e da individualidade."
Ela esteve no Brasil em 2007,
quando deu palestra à comunidade chinesa em São Paulo e
conheceu as Cataratas do Iguaçu. Mas ainda não leu Paulo
Coelho. "Preciso conhecer."
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