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Diretor reacende debate sobre musicais
Ao afirmar que gênero não é considerado "expressivo", Claudio Botelho divide opiniões de profissionais
GUSTAVO FIORATTI
DA REPORTAGEM LOCAL
É a velha "DR" (ou discussão
de relacionamento) entre a turma dos musicais e a do teatro
declamado. Ao receber o Prêmio Shell-Rio apenas pela versão da trilha sonora do musical
"Avenida Q", na segunda-feira
passada, Claudio Botelho externou, em público, uma ponta
de descontentamento.
Os dois musicais da Broadway montados por ele e por
Charles Möeller haviam recebido dez indicações, o que os
colocava como favoritos. Mas a
dupla acabou levando apenas
dois troféus -o outro foi pela
iluminação de "O Despertar da
Primavera", assinada por Paulo
César Medeiros.
"Parece que as pessoas não
acham nossos espetáculos tão
expressivos. Mas de qualquer
forma agradeço ao prêmio",
disse, provocando reação na
plateia -a maioria vaiou, mas
houve quem aplaudisse.
Botelho, que não quis comentar o "agradecimento", já
recebeu um Mambembe
(1999), prêmio Governo do Estado do Rio de Janeiro (2000)
por "Cole Porter - Ele Nunca
Disse que Me Amava", e já havia recebido um Shell, em
2004, por "Tudo É Jazz".
As questões mal resolvidas
entre os pares são antigas, segundo Tânia Brandão, do júri
desta edição do prêmio. "No
início do século 20, o musical
era considerado um gênero fácil, inferior e apelativo. Esse
confronto ainda não está totalmente resolvido na sociedade e
no meio teatral. Já estive em
comissão para editais de financiamento em que foi dito que o
edital era "para teatro", estando
subentendido que os musicais
ficariam de fora", diz Brandão,
crítica e livre-docente em direção teatral pela UniRio.
Entretenimento
Em defesa do gênero, Brandão lembra as dificuldades relacionadas a um trabalho que
exige disciplina, mas reconhece
que a avaliação crítica -e até a
atribuição de prêmios- muitas
vezes é diferente, uma vez que
trabalhos corporais, vocais e de
luz são trazidos para um primeiro plano. "É necessária outra frente de atualização para
críticos e jurados. É preciso desenvolver especialização crítica
e teórica para musicais."
Macksen Luiz, crítico do
"Jornal do Brasil", afirma que
todos os gêneros estão num
mesmo pacote. "São categorias
e linguagens diferentes, mas
acho que os critérios de avaliação devem ser os mesmos", diz.
"Para mim, é tudo teatro."
Segundo ele, uma outra diferença significativa é o fato de o
musical hoje ser visto mais como um gênero comprometido
com o entretenimento.
É também um tipo de teatro
que ganhou força no Rio de Janeiro nos últimos anos. Hoje à
noite, serão conhecidos os vencedores do Prêmio Shell de São
Paulo. Na lista de indicados,
não há nenhum musical.
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