São Paulo, segunda-feira, 12 de abril de 2010

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Diretor reacende debate sobre musicais

Ao afirmar que gênero não é considerado "expressivo", Claudio Botelho divide opiniões de profissionais

GUSTAVO FIORATTI
DA REPORTAGEM LOCAL

É a velha "DR" (ou discussão de relacionamento) entre a turma dos musicais e a do teatro declamado. Ao receber o Prêmio Shell-Rio apenas pela versão da trilha sonora do musical "Avenida Q", na segunda-feira passada, Claudio Botelho externou, em público, uma ponta de descontentamento.
Os dois musicais da Broadway montados por ele e por Charles Möeller haviam recebido dez indicações, o que os colocava como favoritos. Mas a dupla acabou levando apenas dois troféus -o outro foi pela iluminação de "O Despertar da Primavera", assinada por Paulo César Medeiros.
"Parece que as pessoas não acham nossos espetáculos tão expressivos. Mas de qualquer forma agradeço ao prêmio", disse, provocando reação na plateia -a maioria vaiou, mas houve quem aplaudisse.
Botelho, que não quis comentar o "agradecimento", já recebeu um Mambembe (1999), prêmio Governo do Estado do Rio de Janeiro (2000) por "Cole Porter - Ele Nunca Disse que Me Amava", e já havia recebido um Shell, em 2004, por "Tudo É Jazz".
As questões mal resolvidas entre os pares são antigas, segundo Tânia Brandão, do júri desta edição do prêmio. "No início do século 20, o musical era considerado um gênero fácil, inferior e apelativo. Esse confronto ainda não está totalmente resolvido na sociedade e no meio teatral. Já estive em comissão para editais de financiamento em que foi dito que o edital era "para teatro", estando subentendido que os musicais ficariam de fora", diz Brandão, crítica e livre-docente em direção teatral pela UniRio.

Entretenimento
Em defesa do gênero, Brandão lembra as dificuldades relacionadas a um trabalho que exige disciplina, mas reconhece que a avaliação crítica -e até a atribuição de prêmios- muitas vezes é diferente, uma vez que trabalhos corporais, vocais e de luz são trazidos para um primeiro plano. "É necessária outra frente de atualização para críticos e jurados. É preciso desenvolver especialização crítica e teórica para musicais."
Macksen Luiz, crítico do "Jornal do Brasil", afirma que todos os gêneros estão num mesmo pacote. "São categorias e linguagens diferentes, mas acho que os critérios de avaliação devem ser os mesmos", diz. "Para mim, é tudo teatro."
Segundo ele, uma outra diferença significativa é o fato de o musical hoje ser visto mais como um gênero comprometido com o entretenimento.
É também um tipo de teatro que ganhou força no Rio de Janeiro nos últimos anos. Hoje à noite, serão conhecidos os vencedores do Prêmio Shell de São Paulo. Na lista de indicados, não há nenhum musical.


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