São Paulo, terça-feira, 12 de abril de 2011

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Cinema com novo foco

Mostra repassa dez anos de produção e tenta entender que Brasil os filmes nacionais forjaram; espiritismo surge como gênero

Divulgação
"Meu Nome Não É Johnny"

ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO

Em 2010, os filmes nacionais venderam 25,2 milhões de ingressos. Em 1995, o número era 1,2 milhão. Enquanto no ano passado 135 longas-metragens brasileiros chegaram às telas, em 1995 foram 12 os lançamentos.
Os números, por si, justificariam uma investigação sobre o que aconteceu com o cinema brasileiro na última década. Como saímos da terra arrasada da década dos anos 1990 para chegar a "Tropa de Elite 2", que quebrou o recorde de público de "Dona Flor e Seus Dois Maridos", intocado por 35 anos?
Muitos já foram os textos e debates que, a partir de questões ligadas à produção e ao financiamento, procuraram compreender essa mudança de patamar. Poucos se detiveram, porém, sobre a estética e o país que daí saíram.
Pois é isso que se propõe a fazer o evento Cinema Brasileiro: Anos 2000, 10 questões, que acontece em São Paulo (de amanhã a 1º de maio) e no Rio de Janeiro (de 26 de abril a 08 de maio).
A exibição de cerca de 60 títulos será completada por uma série de debates.
Como anotam os curadores Eduardo Valente, Cléber Eduardo e João Luiz Vieira, não se trata de reunir os "melhores" ou "mais significativos" filmes. O que a mostra faz é agrupá-los a partir das dez questões propostas.

BRASIL SEM SAÍDA
A primeira pergunta que, no catálogo da mostra, Cléber Eduardo se coloca é: que imagem do país esses filmes forjaram? "Não é bom [o país] em nenhum dos filmes. Não possui saídas", responde, norteado pelo olhar amargo de "Baixio das Besta", "Quanto Vale ou É por Quilo" ou "O Signo do Caos".
Eduardo Valente observa, por sua vez, que o gênero da década foi a comédia derivada da TV. E, apesar de ser o chamariz de títulos como "Se Eu Fosse Você" ou "Os Normais", o sexo tende a aparecer de maneira "sanitizada".
"Suas tramas tratam de dilemas amorosos e sexuais da classe média, a partir de resoluções infantilizadas", diz.
Não deve ter sido coincidência, portanto, o fato de que comédias que não seguiram o beabá da TV, como "Bendito Fruto" e "É Proibido Fumar", apesar do aparente potencial, tenham decepcionado nas bilheterias.
Valente indica, ainda, o documentário biográfico musical como um subgênero relevante. E destaca o gênero que, no fim da década, mostrou-se imbatível: o dos filmes espíritas, puxado por "Bezerra de Menezes" e coroado com "Chico Xavier".
Os curadores confirmaram ainda o que já era apontado em textos críticos: a ditadura tornou-se tema recorrente e os atores -Selton Mello, Matheus Nachtergaele e Wagner Moura à frente- passaram a ser parte fundamental do processo de criação.

POUCO PRESTÍGIO
Ao mesmo tempo em que busca entender o que é nosso cinema popular, a mostra tenta dar conta da imagem dos filmes no exterior.
E parece que o sucesso de público, aqui, não ecoou no estrangeiro. Apenas "Cidade de Deus" conquistou, de fato, relevância internacional.
Apesar de Fernando Meirelles, Walter Salles e José Padilha terem conseguido colocar os pés na cena internacional, a cinematografia nacional, segundo Valente, "não goza de grande prestígio lá fora". Em dez anos, apenas dois longas, "Carandiru" e "Linha de Passe", competiram em Cannes.
Ao olhar para trás, a mostra refresca nossa memória e nos ajuda a resgatar imagens que, em meio ao excesso, ficaram submersas.

CINEMA BRASILEIRO: ANOS 2000, 10 QUESTÕES
QUANDO a partir de amanhã, às 13h; até 1º de maio
ONDE Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo (r.Álvares Penteado, 112, tel. 0/xx/11/3113-3600)
QUANTO grátis




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