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ARTES
Curadores e críticos questionam a mostra "Momentos Frames", que negaria as posturas anticomerciais do artista
Mostra explicita contradições de Oiticica
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Mesmo 23 anos após sua morte,
Hélio Oiticica (1937-1980) continua gerando polêmica. A mais recente diz respeito à mostra "Momentos Frames", em cartaz na galeria Fortes Vilaça, em São Paulo.
As fotografias expostas das
"Cosmococas", obras feitas 30
anos após sua concepção, em parceria de Oiticica com o cineasta
Neville d'Almeida (e em cartaz na
Pinacoteca; leia crítica ao lado),
no cubo branco da galeria, têm assustado a críticos e curadores. O
artista que explodiu o espaço expositivo poderia voltar a ele, em
sua forma mais tradicional?
Na revista "Número", publicação bimensal que será lançada na
próxima sexta, no Centro Universitário Maria Antônia, o crítico
Cauê Alves sintetiza algumas das
questões levantadas por especialistas ouvidos pela Folha: "O problema maior [da mostra" é a inclusão desses trabalhos num circuito comercial de galerias ao
qual Oiticica, em vida, sempre
mostrou aversão", escreve Alves.
Um dos manifestos mais claros
do artista a esse respeito é o texto
publicado, em 1971, no jornal "A
Última Hora", na coluna do poeta
Torquato Neto (1944-1972). Alves
reproduz parte desse texto (transcrito ao lado) em sua crítica na
"Número".
Já de início é preciso ressaltar
que, apesar da virulência de Oiticica em seu artigo, o próprio artista expôs em circuito comercial, na
galeria Ralph Camargo, em São
Paulo, em 1972.
"Essa é uma boa oportunidade
para mostrar como Hélio era contravertido, mas o importante é
perceber o contexto de seu texto
em 71. Naquela época, ele era rejeitado pelas instituições e essa era
sua forma de reagir. No entanto
ele também tem textos dizendo
que quer ganhar dinheiro", diz
Neville d'Almeida, que por ser
parceiro na criação das "Cosmococas" legitima a mostra.
A mesma postura é defendida
por Márcia Fortes, uma das diretoras da Fortes Vilaça: "Essa carta
[o texto de 71" deve ser entendida
no contexto da vasta correspondência de Hélio. A postura anticomercial e antiburguesa aparece
em muitos outros documentos,
assim como a vontade de comercializar os trabalhos e fazer dinheiro. Segundo o poeta Waly Salomão (1943-2003), em citação
publicada em seu livro "Qual É o
Parangolé?': "Hélio, usina inaudita
de energia, um homem lotado de
contradições, milionário de contradições"."
Já o curador belga Philippe van
Cauteren, que organizou a Bienal
Ceará-América, em Fortaleza,
acredita que a mostra reduz as
propostas estéticas de Oiticica. "A
exposição parece não ter o espírito do artista, é como se fosse um
Hélio Oiticica institucionalizado,
o que contradiz todas as suas propostas", disse Cauteren à Folha.
"Hélio havia previsto não só as
instalações das Cosmococas,
quanto as fotos, que eram para ser
vendidas, e ainda performances
privadas delas, o que ainda é possível que façamos", diz César Oiticica Filho, curador das exposições
e coordenador do projeto Hélio
Oiticica, que mantêm o acervo do
artista.
MOMENTOS FRAMES (PARTE 2) -
Exposição com fotos da série
"Cosmococas". Onde: Galeria Fortes
Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, São
Paulo, tel. 0/xx/11/3032-7066). Quando:
de ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., das
10h às 17h. Até 17/5. Quanto: entrada
gratuita; obras a US$ 6.000.
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