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São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 2003

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ARTES

Curadores e críticos questionam a mostra "Momentos Frames", que negaria as posturas anticomerciais do artista

Mostra explicita contradições de Oiticica

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Mesmo 23 anos após sua morte, Hélio Oiticica (1937-1980) continua gerando polêmica. A mais recente diz respeito à mostra "Momentos Frames", em cartaz na galeria Fortes Vilaça, em São Paulo.
As fotografias expostas das "Cosmococas", obras feitas 30 anos após sua concepção, em parceria de Oiticica com o cineasta Neville d'Almeida (e em cartaz na Pinacoteca; leia crítica ao lado), no cubo branco da galeria, têm assustado a críticos e curadores. O artista que explodiu o espaço expositivo poderia voltar a ele, em sua forma mais tradicional?
Na revista "Número", publicação bimensal que será lançada na próxima sexta, no Centro Universitário Maria Antônia, o crítico Cauê Alves sintetiza algumas das questões levantadas por especialistas ouvidos pela Folha: "O problema maior [da mostra" é a inclusão desses trabalhos num circuito comercial de galerias ao qual Oiticica, em vida, sempre mostrou aversão", escreve Alves.
Um dos manifestos mais claros do artista a esse respeito é o texto publicado, em 1971, no jornal "A Última Hora", na coluna do poeta Torquato Neto (1944-1972). Alves reproduz parte desse texto (transcrito ao lado) em sua crítica na "Número".
Já de início é preciso ressaltar que, apesar da virulência de Oiticica em seu artigo, o próprio artista expôs em circuito comercial, na galeria Ralph Camargo, em São Paulo, em 1972.
"Essa é uma boa oportunidade para mostrar como Hélio era contravertido, mas o importante é perceber o contexto de seu texto em 71. Naquela época, ele era rejeitado pelas instituições e essa era sua forma de reagir. No entanto ele também tem textos dizendo que quer ganhar dinheiro", diz Neville d'Almeida, que por ser parceiro na criação das "Cosmococas" legitima a mostra.
A mesma postura é defendida por Márcia Fortes, uma das diretoras da Fortes Vilaça: "Essa carta [o texto de 71" deve ser entendida no contexto da vasta correspondência de Hélio. A postura anticomercial e antiburguesa aparece em muitos outros documentos, assim como a vontade de comercializar os trabalhos e fazer dinheiro. Segundo o poeta Waly Salomão (1943-2003), em citação publicada em seu livro "Qual É o Parangolé?': "Hélio, usina inaudita de energia, um homem lotado de contradições, milionário de contradições"."
Já o curador belga Philippe van Cauteren, que organizou a Bienal Ceará-América, em Fortaleza, acredita que a mostra reduz as propostas estéticas de Oiticica. "A exposição parece não ter o espírito do artista, é como se fosse um Hélio Oiticica institucionalizado, o que contradiz todas as suas propostas", disse Cauteren à Folha.
"Hélio havia previsto não só as instalações das Cosmococas, quanto as fotos, que eram para ser vendidas, e ainda performances privadas delas, o que ainda é possível que façamos", diz César Oiticica Filho, curador das exposições e coordenador do projeto Hélio Oiticica, que mantêm o acervo do artista.


MOMENTOS FRAMES (PARTE 2) -
Exposição com fotos da série "Cosmococas". Onde: Galeria Fortes Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, São Paulo, tel. 0/xx/11/3032-7066). Quando: de ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às 17h. Até 17/5. Quanto: entrada gratuita; obras a US$ 6.000.



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