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Filme de Walter Salles não está entre favoritos
DO ENVIADO A CANNES
Como nas boas finais de futebol, "Diários de Motocicleta" só
terá chances reais de vitória em
Cannes neste ano se o público
empurrar o filme até lá, pois de
verdade o brasileiro Walter Salles
não está entre os favoritos.
O próprio diretor sabe disso. "É
difícil prever o que pode acontecer, mas os filmes favoritos neste
ano são claramente os de Wong
Kar-wai e Emir Kusturica, que são
dois ótimos diretores", disse ele
de Paris à Folha, onde supervisiona a preparação e legendagem das
três cópias que serão exibidas no
festival.
Walter Salles tem razão. A revista "Première", que com a "Cahiers du Cinéma" e a "Studio" forma a santíssima trindade das publicações cinematográficas francesas, matou a charada ao batizar,
em sua mais recente edição, o festival cinematográfico de "Kannes", com a letra "k".
Afinal, é o festival em que o presidente do júri é Quentin Tarantino ("Kill Bill" 1 e 2, ambos com
"k"), o mesmo que apresenta as
versões norte-americanas dos
DVDs do chinês Wong Kar-wai
(outro "k") e que facilitou a exibição de seu "Amores Expressos"
nos EUA. O nativo de Xangai vem
com a ficção futurista "2046", em
sua quarta participação (com vitória em 1997 pela direção de "Felizes Juntos").
O outro "k"? Kusturica, de Emir
Kusturica (pronuncia-se "custuriça"), que traz seu "A Vida É um
Milagre" ("Zivot Je Cudo") e está
sendo apontado pelos insiders como o segundo favorito.
Não dando nenhum dos dois
"k" acima, as Palmas podem encontrar guarida no Oriente, referência fílmica para a qual Tarantino voltou suas antenas de cinéfilo
e cineasta nos últimos anos. Ele
terá bastante opções; dos 18 filmes
em competição, seis têm os olhos
puxados, do anime (animação japonesa) "Ghost in the Shell 2 -°Innocence" ao sul-coreano "Old
Boy", de Chan Wook-Park, baseado num mangá (HQ também
de origem japonesa).
Anime, mangá? Não soa mais
Tarantino do que isso.
Mas não quer dizer, no entanto,
que os dois latino-americanos,
"Diários" e "La Niña Santa", da
argentina Lucrecia Martel, não tenham chance nenhuma. "Diários", por exemplo, foi programado para três exibições no festival,
a tradicional das 8h30, para os jornalistas, e a das 19h30, de gala,
com a participação do público,
mas também a das 14h30, para a
imprensa retardatária, um privilégio que não é dado a todos os filmes em competição, mas apenas
a alguns que o festival julgue atraírem mais interesse.
(É a reação da platéia noturna,
aliás, que pode impulsionar o filme, dependendo do número de
jurados que deixe para assistir a
essa sessão -e perca as outras.)
E, como ator principal tanto do
filme de Salles -e interpretando
ninguém menos que o ícone pop
Che Guevara em sua pré-história- quanto do filme de Pedro
Almodóvar ("La Mala Educación", sobre padres pedófilos e
pederastas), Gael García Bernal
deve ser realmente "o" nome deste ano no quesito mundanidades,
o que sempre pode lhe valer uma
premiação como ator.
O paradoxo é que, enquanto no
festival de 2001 havia dois latino-americanos no júri (o próprio
Walter Salles e o chileno Raoul
Ruiz) e nenhum filme na competição oficial, no deste ano há dois
latino-americanos na competição
oficial e nenhum no júri...
(SD)
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