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ÚLTIMA MODA
Rosa Chá deixa a São Paulo Fashion Week
A Rosa Chá, uma das mais
importantes grifes brasileiras, não vai mais desfilar na
São Paulo Fashion Week
(SPFW). A marca não participa
nem mesmo da edição de verão
do evento, que acontece em julho. A partir de setembro, a Rosa Chá vai lançar suas coleções
exclusivamente em Nova York,
na Olympus Fashion Week.
Dois outros brasileiros já desfilam em Nova York, Alexandre
Herchcovitch e Carlos Miele. A
grife Cavalera também deve
apresentar suas coleções nos Estados Unidos, a partir de 2007
(leia nesta pág.).
O estilista Amir Slama, que
criou a Rosa Chá em 1988 e a
transformou em sucesso nacional, já vinha participando dos
desfiles de verão da semana de
moda americana desde 2000.
"Nova York sempre recebeu muito bem nosso produto e, como estamos num processo de ampliação de mercado, achamos que focar os lançamentos nos EUA seria
perfeito", diz Slama.
Os maiôs, biquínis e roupas da
Rosa Chá já são vendidos nos
EUA desde 1997. A marca tem
uma loja em Miami, outra em
Portugal e um showroom em Nova York, onde pretende agora
abrir uma loja. Além do mercado
americano, exporta para o Japão,
França, Itália, China e alguns países do Oriente Médio. "A idéia é
expandir nossa história no exterior ainda mais. Nova York vai
funcionar como um ponto de irradiação", afirma o estilista.
Apesar da mudança, Slama diz
que o foco de vendas da marca
continuará a ser o Brasil. A nova
estratégia de lançamento, segundo ele, não vai prejudicar o trabalho de divulgação da marca no
país. "Além das lojas próprias, estamos em 380 multimarcas em todo o Brasil. Essas lojas compram
nossa coleção independentemente do desfile na SPFW, e isso não
vai mudar. Vamos continuar fazendo eventos menores para
apresentar as coleções aos nossos
clientes, mas não teremos o investimento e a preocupação com o
desfile."
Mesmo fora da SPFW, Slama
confirmou sua participação em
outro evento do empresário de
moda Paulo Borges: o Rio Alto
Verão, que deve acontecer em novembro, no Rio de Janeiro. "Lá,
mostraremos uma coleção menor, totalmente diferente da que
lançaremos em Nova York",
adianta Slama. Além disso, o estilista tem novos planos para a sua
segunda marca, a Sais.
A reviravolta na Rosa Chá foi
impulsionada por sua recente associação com o grupo têxtil catarinense Marisol, que passou a
controlar 75% do capital da marca. A parceria prevê uma injeção
de investimentos e a criação de
uma estrutura logística e comercial de grande porte, além da
construção do Rosa Chá Studio,
que concentrará a criação e o setor de comunicação da grife em
São Paulo.
Em entrevista à Folha, Slama,
41, deu detalhes sobre a nova fase
da Rosa Chá e falou da parceria
com a Marisol.
Folha - Por que você decidiu deixar a São Paulo Fashion Week e
desfilar em Nova York?
Amir Slama - A Rosa Chá já está
na semana de Nova York há cinco
anos. E o mais angustiante era ter
de repetir a mesma coleção em
dois locais diferentes em menos
de três meses. Além dessa frustração, pela redundância dos shows,
chegamos à conclusão de que,
quando fazíamos desfiles da Rosa
Chá e da Sais [grife mais jovem do
estilista] no mesmo evento, esta
ficava sempre ofuscada. Então,
como estratégia, decidimos fazer
a Rosa Chá em Nova York e manter a Sais na SPFW, nos desfiles de
verão. Desde o começo tivemos
uma boa recepção em Nova York.
Já sabemos como produzir o
show, conhecemos a estrutura.
Além disso, sabemos que, apesar
da importância da São Paulo Fashion Week para o Brasil, o evento
ainda não tem a mesma visibilidade e o mesmo prestígio das semanas de Nova York, Paris e Milão.
Ele terá algum dia, mas por enquanto não tem.
Folha - A Sais vai ganhar mais investimento?
Slama - Com certeza. Vamos poder ter modelos melhores, mais
patrocínio, além da atenção da
imprensa. Neste momento é muito importante fazer a Sais crescer
e se firmar como uma grife mais
sólida no Brasil.
Folha - Em termos de imagem,
Nova York conta mais do que Paris?
Slama - Paris tem um glamour
mais elitizado. Nova York, apesar
das coleções mais comerciais, é
mais aberta ao novo. Veja os casos
do Carlos Miele e do Alexandre
Herchcovitch. O primeiro começou em Londres, o outro, em Paris, mas acabaram os dois indo
para Nova York. A diversidade e a
abertura lá são maiores.
Folha - O que o período na SPFW
significou para a Rosa Chá?
Slama - Foi muito importante,
porque aprendemos a fazer desfiles, organizar coleções e, principalmente, a acabar com o complexo de inferioridade latino-americano. A São Paulo Fashion
Week organizou o mercado interno, e isso é muito importante.
Folha - Você fará adaptações no
estilo da Rosa Chá para os desfiles
em Nova York?
Slama - O desfile não será uma
produção americana. A criação, o
cenário, o cabelo, a maquiagem,
tudo é pensado no Brasil. O conceito sai todinho amarrado daqui.
A única diferença é que agora vamos nos concentrar em fortalecer
nossa imagem no exterior.
Folha - Como andam as exportações da grife e quais são os seus
planos para internacionalizá-la?
Slama - Até o final de 2005, estávamos exportando 17% da nossa
produção. Nosso objetivo é chegar a 25%. Nossos principais
compradores são os EUA, seguidos da França e do Japão. A internacionalização vem acontecendo
nos últimos cinco anos de forma
contínua e gradual. Agora vamos
dar mais enfoque a esse processo.
Atualmente, nós vemos a exportação como um prolongamento
do mercado interno. Estar presente lá fora é uma questão de necessidade. Se a gente não cresce
no exterior, acaba perdendo um
pouco do mercado interno também. As pessoas lá fora já estão fazendo moda praia quase tão bem
quanto o Brasil, e é preciso ter
uma postura mais agressiva e menos retraída quanto a isso.
Folha - O contrato com a Marisol
influenciou a decisão de deixar a
São Paulo Fashion Week?
Slama - Estávamos com essa
idéia havia três anos, mas, quando
fechamos a associação com a Marisol, ficamos mais tranqüilos para tomar uma decisão. Com a Marisol, ganhamos estrutura e logística mais profissionais, ficamos
mais seguros para dar esse passo.
Folha - Você vendeu 75% do capital da Rosa Chá para a Marisol. Qual
é a sua função na nova sociedade?
Slama - Eu continuo com as decisões estratégicas, liderando a
coleção e os eventos. Nesse ponto,
nada mudou. A associação permitiu estruturar o nosso negócio
de forma mais ágil. As empresas
de moda no Brasil, em geral, começaram muito pequenas e descapitalizadas. Chega um momento em que, se não for adotada uma
postura mais profissional e capitalista, fica impossível competir.
A sociedade foi discutida durante
um ano e meio. Fui abordado por
eles, pensei muito e vi que era
vantajoso. Já tínhamos uma proposta internacional, mas que era
só focada na Europa. Na Marisol,
eu entro como criador, e eles injetam o investimento e nos dão o
suporte comercial. Com isso, 65%
das peças serão produzidas na fábrica da Marisol em Jaraguá do
Sul, em Santa Catarina, com uma
estrutura montada para receber
nossos pedidos.
Folha - Vocês vão investir em publicidade nos EUA?
Slama - Sim. Estamos analisando as possibilidades, porque os
anúncios são caros, são um grande investimento. Mas isso está nos
nossos planos.
Folha - Você acredita que os estilistas bem-sucedidos no Brasil tenderão, cada vez mais, a se mudarem para a semana de Nova York?
Slama - Para fazer um trabalho
que se torne global ou internacional é preciso sair daqui. E é preciso ter um braço fora do Brasil. Isso dá muito mais confiança ao
comprador.
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