São Paulo, sexta-feira, 12 de maio de 2006

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ÚLTIMA MODA

Rosa Chá deixa a São Paulo Fashion Week

A Rosa Chá, uma das mais importantes grifes brasileiras, não vai mais desfilar na São Paulo Fashion Week (SPFW). A marca não participa nem mesmo da edição de verão do evento, que acontece em julho. A partir de setembro, a Rosa Chá vai lançar suas coleções exclusivamente em Nova York, na Olympus Fashion Week. Dois outros brasileiros já desfilam em Nova York, Alexandre Herchcovitch e Carlos Miele. A grife Cavalera também deve apresentar suas coleções nos Estados Unidos, a partir de 2007 (leia nesta pág.).
O estilista Amir Slama, que criou a Rosa Chá em 1988 e a transformou em sucesso nacional, já vinha participando dos desfiles de verão da semana de moda americana desde 2000. "Nova York sempre recebeu muito bem nosso produto e, como estamos num processo de ampliação de mercado, achamos que focar os lançamentos nos EUA seria perfeito", diz Slama.
Os maiôs, biquínis e roupas da Rosa Chá já são vendidos nos EUA desde 1997. A marca tem uma loja em Miami, outra em Portugal e um showroom em Nova York, onde pretende agora abrir uma loja. Além do mercado americano, exporta para o Japão, França, Itália, China e alguns países do Oriente Médio. "A idéia é expandir nossa história no exterior ainda mais. Nova York vai funcionar como um ponto de irradiação", afirma o estilista.
Apesar da mudança, Slama diz que o foco de vendas da marca continuará a ser o Brasil. A nova estratégia de lançamento, segundo ele, não vai prejudicar o trabalho de divulgação da marca no país. "Além das lojas próprias, estamos em 380 multimarcas em todo o Brasil. Essas lojas compram nossa coleção independentemente do desfile na SPFW, e isso não vai mudar. Vamos continuar fazendo eventos menores para apresentar as coleções aos nossos clientes, mas não teremos o investimento e a preocupação com o desfile."
Mesmo fora da SPFW, Slama confirmou sua participação em outro evento do empresário de moda Paulo Borges: o Rio Alto Verão, que deve acontecer em novembro, no Rio de Janeiro. "Lá, mostraremos uma coleção menor, totalmente diferente da que lançaremos em Nova York", adianta Slama. Além disso, o estilista tem novos planos para a sua segunda marca, a Sais.
A reviravolta na Rosa Chá foi impulsionada por sua recente associação com o grupo têxtil catarinense Marisol, que passou a controlar 75% do capital da marca. A parceria prevê uma injeção de investimentos e a criação de uma estrutura logística e comercial de grande porte, além da construção do Rosa Chá Studio, que concentrará a criação e o setor de comunicação da grife em São Paulo.
Em entrevista à Folha, Slama, 41, deu detalhes sobre a nova fase da Rosa Chá e falou da parceria com a Marisol.

Folha - Por que você decidiu deixar a São Paulo Fashion Week e desfilar em Nova York?
Amir Slama -
A Rosa Chá já está na semana de Nova York há cinco anos. E o mais angustiante era ter de repetir a mesma coleção em dois locais diferentes em menos de três meses. Além dessa frustração, pela redundância dos shows, chegamos à conclusão de que, quando fazíamos desfiles da Rosa Chá e da Sais [grife mais jovem do estilista] no mesmo evento, esta ficava sempre ofuscada. Então, como estratégia, decidimos fazer a Rosa Chá em Nova York e manter a Sais na SPFW, nos desfiles de verão. Desde o começo tivemos uma boa recepção em Nova York. Já sabemos como produzir o show, conhecemos a estrutura. Além disso, sabemos que, apesar da importância da São Paulo Fashion Week para o Brasil, o evento ainda não tem a mesma visibilidade e o mesmo prestígio das semanas de Nova York, Paris e Milão. Ele terá algum dia, mas por enquanto não tem.

Folha - A Sais vai ganhar mais investimento?
Slama -
Com certeza. Vamos poder ter modelos melhores, mais patrocínio, além da atenção da imprensa. Neste momento é muito importante fazer a Sais crescer e se firmar como uma grife mais sólida no Brasil.

Folha - Em termos de imagem, Nova York conta mais do que Paris?
Slama -
Paris tem um glamour mais elitizado. Nova York, apesar das coleções mais comerciais, é mais aberta ao novo. Veja os casos do Carlos Miele e do Alexandre Herchcovitch. O primeiro começou em Londres, o outro, em Paris, mas acabaram os dois indo para Nova York. A diversidade e a abertura lá são maiores.

Folha - O que o período na SPFW significou para a Rosa Chá?
Slama -
Foi muito importante, porque aprendemos a fazer desfiles, organizar coleções e, principalmente, a acabar com o complexo de inferioridade latino-americano. A São Paulo Fashion Week organizou o mercado interno, e isso é muito importante.

Folha - Você fará adaptações no estilo da Rosa Chá para os desfiles em Nova York?
Slama -
O desfile não será uma produção americana. A criação, o cenário, o cabelo, a maquiagem, tudo é pensado no Brasil. O conceito sai todinho amarrado daqui. A única diferença é que agora vamos nos concentrar em fortalecer nossa imagem no exterior.

Folha - Como andam as exportações da grife e quais são os seus planos para internacionalizá-la?
Slama -
Até o final de 2005, estávamos exportando 17% da nossa produção. Nosso objetivo é chegar a 25%. Nossos principais compradores são os EUA, seguidos da França e do Japão. A internacionalização vem acontecendo nos últimos cinco anos de forma contínua e gradual. Agora vamos dar mais enfoque a esse processo. Atualmente, nós vemos a exportação como um prolongamento do mercado interno. Estar presente lá fora é uma questão de necessidade. Se a gente não cresce no exterior, acaba perdendo um pouco do mercado interno também. As pessoas lá fora já estão fazendo moda praia quase tão bem quanto o Brasil, e é preciso ter uma postura mais agressiva e menos retraída quanto a isso.

Folha - O contrato com a Marisol influenciou a decisão de deixar a São Paulo Fashion Week?
Slama -
Estávamos com essa idéia havia três anos, mas, quando fechamos a associação com a Marisol, ficamos mais tranqüilos para tomar uma decisão. Com a Marisol, ganhamos estrutura e logística mais profissionais, ficamos mais seguros para dar esse passo.

Folha - Você vendeu 75% do capital da Rosa Chá para a Marisol. Qual é a sua função na nova sociedade?
Slama -
Eu continuo com as decisões estratégicas, liderando a coleção e os eventos. Nesse ponto, nada mudou. A associação permitiu estruturar o nosso negócio de forma mais ágil. As empresas de moda no Brasil, em geral, começaram muito pequenas e descapitalizadas. Chega um momento em que, se não for adotada uma postura mais profissional e capitalista, fica impossível competir. A sociedade foi discutida durante um ano e meio. Fui abordado por eles, pensei muito e vi que era vantajoso. Já tínhamos uma proposta internacional, mas que era só focada na Europa. Na Marisol, eu entro como criador, e eles injetam o investimento e nos dão o suporte comercial. Com isso, 65% das peças serão produzidas na fábrica da Marisol em Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, com uma estrutura montada para receber nossos pedidos.

Folha - Vocês vão investir em publicidade nos EUA?
Slama -
Sim. Estamos analisando as possibilidades, porque os anúncios são caros, são um grande investimento. Mas isso está nos nossos planos.

Folha - Você acredita que os estilistas bem-sucedidos no Brasil tenderão, cada vez mais, a se mudarem para a semana de Nova York?
Slama -
Para fazer um trabalho que se torne global ou internacional é preciso sair daqui. E é preciso ter um braço fora do Brasil. Isso dá muito mais confiança ao comprador.


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