São Paulo, terça-feira, 12 de maio de 2009

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Samba a 2

Compositores de talento da nova geração da música brasileira, o casal de namorados Luisa Maita e Rodrigo Campos consolida parceria artística que já resultou em dois bons discos

Leonardo Wen/Folha Imagem
O casal de cantores e compositores Luisa Maita e Rodrigo Campos

MARCUS PRETO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Parceria no sentido tradicional, em que cada cabeça colabora com um pedaço de melodia ou letra e dois pensamentos viram uma única canção, Rodrigo Campos, 32, e Luisa Maita, 27, têm só uma. É "Beleza", lançada por Mariana Aydar em seu recente "Peixes Pássaros Pessoas". Mas nem precisariam dessa para que fossem considerados parceiros legítimos.
Compositores talentosos da nova geração, os dois trabalham a partir de laços mais fortes que simplesmente dividir créditos autorais em canções. E nisso nem está necessariamente incluído o fato de eles serem namorados.
Rodrigo acaba de lançar "São Mateus Não É um Lugar Assim Tão Longe" (Ambulante Discos, R$ 20), seu álbum de estreia. Foi Luisa quem fez a ponte entre ele e Beto Villares, o principal produtor do disco. E é a voz dela que canta quatro de suas 14 faixas.
Do outro lado, Luisa está prestes a soltar seu primeiro trabalho. Rodrigo é o coprodutor (com Paulo Lepetit), escreveu 3 das 11 canções e toca em todas elas. Ao vivo, um integra a banda do outro.
Os dois se conheceram em 2001, quando faziam parte da Urbanda. Ela cantava, ele tocava violão e cavaquinho, os dois compunham. Como tinham contas a pagar no final do mês, estenderam a parceria a trabalhos paralelos que poderiam render algum dinheiro.
"Só em barzinhos da Vila Madalena, a gente tocou por mais de um ano", lembra Luisa. "Fizemos até shows de casamento, em que eu cantava "eu sei que eu sou bonita e gostosa" vestida de perua."
Quando a Urbanda se dissolveu, quatro anos mais tarde, os dois seguiram "sozinhos" seus caminhos paralelos. Que agora começam a render frutos.

Periferia
O primeiro a vir à luz, "São Mateus Não É um Lugar Assim Tão Longe" é um álbum conceitual, no sentido mais exato da expressão. Rodrigo transformou em música as histórias que viu acontecer no referido bairro da zona leste paulistana entre o dia em que chegou nele, ainda menino (nasceu em Conchas, interior do Estado), e sua saída, aos quase 24.
Histórias de vida perdida, como em "Sem Estrela": "Desceu rolando essa ladeira, irmão/ Sem o salário da semana/ Foi pra aprender não pagar de gatão/ Nessa quebrada sem estrela". Histórias de vida por ganhar, como em "Mangue e Fogo": "A vida de Marina era no mangue atrás da escola militar/ Cresceu nos arredores do colégio catando caranguejo/ Vendendo no farol/ Chupando oficial por dez real".
Dentro desse mote, calcula ter escrito cerca de 30 canções. "Fui compondo até não ter mais o que dizer sobre o assunto", ele conta. "Agora, quero desenvolver essa linguagem narrando outras coisas, como a infância ou o erotismo."
Ainda assim, o capítulo São Mateus não se encerra no álbum dele. Outras composições da mesma leva serão escoadas no trabalho de Luisa -o segundo produto da parceria, que deve vir à tona nos próximos meses. O disco está pronto há dois anos, mas a cantora ainda negocia com algumas gravadoras o melhor meio de lançá-lo.
Filha do músico Amado Maita (1948-2005) e da produtora musical Myriam Taubkin, Luisa é uma das representantes mais consistentes da tão saturada cena brasileira de novas cantoras/compositoras.
Viveu até os 12 anos num sítio em Grajaú, extrema zona sul de São Paulo, o que lhe dá propriedade para cantar temas ligados à periferia. "Moleque se mandou atrás da rapariga/ Deixou Formiga no controle da favela/ Mas o diabo é que a donzela era do lar/ Já tinha dois barrigudinhos com Anescar." Versos como esses, de "Maria e Moleque", escritos por Rodrigo e que estarão no disco dela, não soam estranhos na voz da moça de Higienópolis.
Mais que isso é melhor não revelar até que o CD chegue às lojas. Ao menos por ora, quem quiser conhecer sua voz pode recorrer ao CD e ao show do namorado (haverá um em 30 de junho, no Sesc Pompeia) ou, ainda, ouvir um pouco em myspace.com/luisamaita.

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