São Paulo, quinta-feira, 12 de maio de 2011

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Caetano abraça nova geração com Gadú

Veterano e novata juntam forças populares e artísticas em CD, DVD e no programa de TV "Multishow ao Vivo"

Artista afirma apoiar a permanência de Ana de Hollanda no MinC e diz que visibilidade trazida pelas polêmicas é boa

MARCUS PRETO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

"Não me amarra dinheiro, não -mas formosura."
É com esse verso e alguma ironia no canto da boca que o homem de 68 anos e a menina de 24 abrem o programa conjunto "Caetano e Maria Gadú - Multishow ao Vivo". Ele vai ao ar no canal pago no dia 22 e, na sequência, rende pacote de CD e DVD.
Gadú estreou em 2009 com um álbum que já vendeu cerca de 200 mil cópias, puxado sobretudo pelo hit "Shimbalaiê", que compôs quando tinha dez anos.
Caetano Veloso, ao contrário, vem de dois dos trabalhos menos populares de sua carreira: "Cê" (2006) e "Zii e Zie" (2009). Eram sombrios e experimentais demais para o público das rádios.
Há muitos símbolos, portanto, nesse encontro -de vozes e violões, apenas- entre o homem e a menina.
Dinheiro? Como não?
"Este é previsivelmente um evento de boas consequências comerciais", diz Caetano. "Gadú é um fenômeno espontâneo de popularidade. Então, começar logo dizendo "não me amarra dinheiro, não" fica muito bem."
Cifras à parte, o dueto reforça a intervenção de Caetano na nova geração da MPB.
Se músicos menos populares, como Romulo Fróes e Tatá Aeroplano, assumem a influência de Caetano pós-"Cê" nos próprios trabalhos, este é o momento de o veterano abraçar também os novatos com vocação para as massas.
Caetano é o único artista da geração 1960 que promove diálogo direto com a nova safra, dizem Fróes e Tatá, músicos "impopulares".
No extremo oposto da escala de sucesso, Gadú concorda. "Não posso responder em nome de uma geração inteira, mas Caetano é "trocador" em muitos sentidos -de música a interesses do dia a dia", explica. "A gente se encontra na rua, nos lugares, nos shows de todo mundo."
O veterano conta, por sua vez, como se sente.
"Já li quem falasse mal disso, como se faltasse aquela combatividade do mundo anglo-saxão", diz. "Acham que aqui todo mundo é muito legal -o que soa como uma espécie de corporativismo. No Brasil, somos diferentes."
Ele autoironiza sua onipresença na imprensa. Ri de quem o critica por dar opinião sobre tudo. E afirma gostar mais de falar sobre política do que sobre música.
Por isso, não deixa de opinar sobre as polêmicas recentes, como a aparente movimentação para derrubar Ana de Hollanda do Ministério da Cultura.
"Sou totalmente pela permanência dela no ministério", diz. "O que está acontecendo, com tanta intensidade e tanta presença na mídia, é resultado da visibilidade que o MinC ganhou desde a gestão Gil. O fato de Ana de Hollanda ter entrado fez e está fazendo com que essa visibilidade não se apague."

FORÇA ESSENCIAL
Em célebre entrevista dada em meados dos anos 1960 à revista "Civilização Brasileira", Caetano chamava sua geração a seguir a linha evolutiva da MPB proposta por João Gilberto. Fez, em seguida, a Tropicália.
E hoje, quem puxa essa linha evolutiva da MPB?
"Nem gosto mais da metáfora "linha" que escolhi, não acho boa de usar", afirma. "A ideia de uma força essencial, que João Gilberto atinge ainda hoje em tudo aquilo que ele faz, é meu critério. Os níveis são muito variados. Pode estar no senso de economia da Tiê ou na exuberância de Leo Cavalcanti, que são opostos estilisticamente."
Ao final da entrevista, os entrevistados se esquecem da presença do repórter.
"Gosto do que está acontecendo com você, mas acho que está com atividade demais", diz o homem à menina. "Isso ocupa sua energia e não deixa você fazer música. Quando der uma paradinha, primeiro você vai pensar: "Poxa, não sei mais compor". Depois, vai sair compondo músicas muito melhores, diferentes das que você fez até aqui. Você vai ver."


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