São Paulo, terça-feira, 12 de junho de 2007

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Crítica/memória

Relato de escritor vê Shakespeare and Company como refúgio

ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

A Shakespeare and Company, em Paris, é uma das livrarias mais famosas do mundo. O sucesso se deve a uma série de peculiaridades e, acima de tudo, à criadora da loja, Sylvia Beach (1887-1962), e a seu sucessor, George Whitman (1913). Este, com suas manias e sua sabedoria, gera boa parte da força de "Um Livro por Dia", as memórias dos meses em que o jornalista e escritor Jeremy Mercer morou no lugar.
Inaugurada em 1919, para ser um local em que se encontrassem livros em inglês em Paris, a loja logo se tornou ponto de encontro de autores como F. Scott Fitzgerald, Gertrude Stein e Ezra Pond. Foi lá também que se arrumou dinheiro para a primeira publicação de "Ulisses", de James Joyce, recusado anteriormente por inúmeros editores. Essa primeira "vida" da livraria durou até 1941, quando os nazistas ocuparam a cidade.
Dez anos depois, do outro lado do Sena, em frente à Notre-Dame, George abria Le Mistral, rebatizada, em 1964, como Shakespeare and Company. "Devoto de Sylvia Beach", como afirma Mercer, o livreiro fazia uma homenagem e reafirmava um estilo de levar adiante um negócio no qual o dinheiro é sempre o fator menos importante.
Nessa segunda "vida", que dura até hoje, passaram por lá Henry Miller, Anaïs Nin, Samuel Beckett, William Burroughs, Allan Ginsberg e outros escritores (segundo George, mais de 40 mil), muitos dos quais convidados, depois de apresentar uma autobiografia, a ficar por ali, em uma das camas espalhadas pela labiríntica loja, ajudar no trabalho, ler o máximo possível e escrever.
Foi o que aconteceu com Mercer, um jornalista policial canadense com a vida então bem estilhaçada, em janeiro de 2000.

Gente estranha
"Um Livro por Dia" está montado com cenas alternadas do dia-a-dia da livraria e de lembranças de vivências dos personagens que circulam no lugar -o que propicia ao autor dezenas de ótimas histórias, já que não faltam ali homens e mulheres exóticas e casos curiosos. A grande figura, contudo, é mesmo George Whitman, que reaparece a todo instante no texto, com seu ideário anarquista e comunista e com uma paixão intensa por livros e mulheres.
Daí a boa definição de Mercer: "No final, sim, é uma livraria famosa, e, sim, sua importância literária não é pequena.
Mas, acima de tudo, a Shakespeare and Company é um refúgio, como a igreja do outro lado do rio. Um lugar onde o proprietário permite que todos peguem o que precisam e dêem o que podem".


ADRIANO SCHWARTZ é professor de literatura da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP

UM LIVRO POR DIA - MINHA TEMPORADA PARISIENSE NA SHAKESPEARE AND COMPANY
Autor:
Jeremy Mercer
Tradução: Alexandre Martins
Editora: Casa da Palavra
Quanto: R$ 39,90 (nas livrarias a partir de 10 de julho)
Avaliação: bom


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