São Paulo, terça-feira, 12 de junho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FERNANDO BONASSI

Velhos conselhos de ética

Roupa suja se lava em casa, por maiores e mais resistentes que sejam as manchas aos sabões

PARA O MAL da corrupção e para o bem da comunicação entre os cidadãos civilizados, convém esclarecer aos senhores leitores, eleitores e eleitos desavisados:
Roubar continua sendo crime.
Roubar mas fazer também, ou ainda, é crime.
Estuprar é hediondo.
Matar é insuportável.
Estuprar mas não matar é igualmente horrendo e abominável, apesar do que os boçais possam vir a afirmar em contrário, ou por contradições de seus atos falhos mais fascistas.
As exceções da ditadura não devem esterilizar a cultura da democracia. Assim, os vigaristas profissionais e criminosos protocolares não deveriam receber imunidades parlamentares dos seus amigos mais leais.
Democracias liberais -se a querem de verdade- não se baseiam nas entrelinhas ou mentirinhas de leis imorais.
As leis mais legais nas mãos dos doutores juramentados podem ter o prejuízo dos legisladores sobre aquilo que não lhes pertence de fato; um dado que não obriga senadores e deputados a prenderem os rabos nas contas dos financiadores de suas campanhas de promessas, por maior educação e elegância que exista na "retribuição de gentilezas".
Os grandes projetos à mesa aprovados a toque de caixa não devem ser sigilosamente reciclados em malcheirosos dejetos superfaturados, para que, por exemplo, as estradas contratadas em concorrências abertas e diretas não sejam desviadas, num momento, por regalias e obstáculos obscuros.
Quanto a isso, é bom que se liguem que a luz seja acesa para todos, pois do contrário a escuridão da pena de morte pode nem ser a pena máxima para os motoristas drogados e lobistas prensados nas engrenagens e ferragens do sistema.
O que mesmo foi dito no poema? "Amigo é coisa pra se "guardar'", não "ocultar", por baixo de sete chaves, não é mesmo?
Amigos mesmo são aqueles que nos apontam as faltas graves, não os que tentam esquecê-las como amenas, pequenas ou pessoais.
Ademais, querer absolver é tão justo quanto querer condenar. Por isso é que roupa suja se lava em casa, por maiores e mais resistentes que sejam as manchas aos detergentes. De forma que a coisa pública não deve ser transformada em coisa púbica, sob pena de verem-se assuntos de privada em ventiladores e cadeiras mais solenes do que aquela onde nos aliviamos.
A propósito de alívio, os papagaios mais malandros são aqueles que julgam sem ver, nem querem saber e repetem suas sentenças para se desviar das desavenças que querem esconder...
Talvez até por terem algo a temer no que podem se enxergar, não!?
Vai saber...
Saber até os piores sabem que o melhor dos mundos é que cada um seja responsável por seus proventos e pagamentos, por mais escusas, excitantes e amigáveis que sejam as seduções dos engenheiros, empreiteiros e jornalistas.
Em tempo: é favor não confundir chapa-branca com chapa fria.
O que é público é de todos, mesmo que administrado pelos parentes de uns e outros.
Os que forem contra o dízimo que exibam seus extratos demaquilados e abram as contabilidades de suas alianças!
Ademais, enquanto a boca-de-fumo for mais divertida que a escola, os traficantes continuarão sendo a melhor esperança de futuro tolerável para a juventude destrambelhada.
Isso se evita com taxação de renda improdutiva e salário real distributivo, não apenas com crescimento econômico vegetativo e à custa do recrudescimento da força de trabalho.
Aliás, companheiros sindicalistas, o nobre nome do trabalho vem de um instrumento de tortura medieval, não dos ideais pacíficos da revolução internacional.
Por falar em guerra e paz, também não é decente que a força policial de um país medíocre assuma os compromissos dos estragos de golpes de Estado dados contra países ainda mais miseráveis do que a si mesmo, mesmo querendo uma cadeira desconfortável no desconserto das nações e até mesmo quando os exércitos mais poderosos, ou preguiçosos, do mundo, os obriguem.
Os franceses mais covardes ou coitados do Caribe e as crianças sudanesas dos morros latino-americanos não têm culpa das desculpas desumanas que lhes dermos, mas a maioria deles há de vir a querer a sua parte em dólar, em fama ou na ponta da faca.
Moral dessa "História": quem espera o pior sempre alcança.


Texto Anterior: Resumo das novelas
Próximo Texto: Cinema: "Cão sem Dono" tem pré-estréia na quinta
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.