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CINEMA/ESTREIAS
Ator faz périplo religioso para filme
Daniel de Oliveira encarna líder profético em "A Festa da Menina Morta", estreia de Matheus Nachtergaele na direção
Visitas a pai-de-santo, pajés e curandeiras marcaram preparação do ator para filme, que teve pré-estreia no Festival de Cannes 2008
FERNANDA EZABELLA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Sonhos com exu, cerimônia
do daime, visitas a pajés. E, alguns galos mortos mais tarde,
nasceu Santinho, ou melhor,
Daniel de Oliveira achou o tom
de seu personagem messiânico,
o mais intenso de sua carreira.
O ator mineiro de 31 anos encarna em "A Festa da Menina
Morta" um garoto adorado e temido pela pequena comunidade ribeirinha de Barcelos, a 400
km de Manaus. Ele faz Santinho, líder de um grupo religioso, formado após o aparecimento de um vestido rasgado
de uma menina desaparecida.
A preparação para o longa
durou alguns meses entre 2006
e 2007, incluindo ensaios no
apartamento do diretor Matheus Nachtergaele no Rio e
quatro semanas de aclimatação
na cidade amazônica. Exercícios de butô e longas improvisações faziam parte do dia a dia
do elenco, que tem também
Cassia Kiss e Jackson Antunes.
"Teve uma improvisação, por
exemplo, de quase cinco horas,
dentro da casa-santuário do
Santinho", lembra Daniel à Folha. "Ficamos tão tomados com
aquilo que ninguém queria sair
dos personagens depois."
Daniel, que ficou famoso no
papel de Cazuza no cinema,
também fez uma espécie de périplo religioso para entrar no
personagem. Foi a curandeiras
e fez até um trabalho com galos
a pedido de um pai-de-santo.
"Foi um trabalho meio louco,
até com matança [de galos], que
eu não sou muito chegado, mas
fiz por causa [da preparação] do
filme", conta. "Essa época foi
intensa, sonhava muito."
Daniel ainda se submeteu ao
"sacrifício" de depilar as pernas, com ajuda da mulher, a
atriz Vanessa Giácomo. "Isso
foi o pior", diz, rindo. Também
aprendeu a bordar e aparou as
sobrancelhas, tudo para ajudar
a fazer de Santinho um personagem extremamente feminino, que tem uma relação heterodoxa com o pai e vive paparicado pelas mulheres da região.
"Fui respeitando muito este
personagem. Comprei uma briga pesada, não podia titubear
[...] porque, se eu errasse, seria
ridículo", diz. "Se errasse, acho
que até desistiria de ser ator."
O filme se passa em dois dias,
um para a preparação da festa
dedicada à menina morta, a
qual Santinho costuma "ouvir",
e outro para a cerimônia em si.
No processo de benzer os
moradores, Santinho entoa um
cântico, bolado pelo próprio
Daniel durante um sonho. "Eu
só acordei, levantei e escrevi,
veio com a melodia e tal."
Próximos filmes
Mas a espiral mística ficou
para trás na vida de Daniel, que
tem emendado um trabalho no
outro desde então, incluindo as
minisséries da Globo "Decamerão" e "Som e Fúria".
Sua religião agora é a "Boca
do Lixo", filme que está rodando no momento, sobre Hiroito
Joanides, marginal ligado a
prostitutas e traficantes do
centro de SP nos anos 50 e 60.
Enquanto o ator falava com a
reportagem, anteontem, fazia a
barba dentro de um banheiro
caindo aos pedaços no Cambridge Hotel, desativado há
muito tempo, mas locação para
o longa de Flavio Frederico.
Antes, neste ano ainda, veio
outro marginal, desta vez da cena carioca, para o filme "400
Contra 1 - Uma História do Comando Vermelho", de Caco
Souza, previsto para estrear no
início de 2010. Daniel interpreta William da Silva Lima, um
dos fundadores do CV, que passou mais de 30 anos preso.
"Tenho uma quedinha para
fazer uns esquisitos", resume
Daniel, com um óculos fundo
de garrafa e orelhas levemente
de abano, após maquiagem,
pronto para viver o rei da Boca
num prostíbulo paulistano.
A FESTA DA MENINA MORTA
Direção: Matheus Nachtergaele
Produção: Brasil, 2008
Com: Daniel de Oliveira, Dira Paes
Onde: Reserva Cultural, Espaço Unibanco Pompeia e circuito
Classificação: 18 anos
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