|
Texto Anterior | Índice
CRÍTICA ARTES PLÁSTICAS
Mostra expõe ousadia tropical em Madri
"Desvios da Deriva" traz visão alternativa de brasileiros e chilenos à arquitetura modernista e racionalista
FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A MADRI
"Eu era arquiteto e mudei
para a arquitetura da imaginação", conta o artista Roberto Matta (1911-2002), num
depoimento em vídeo, incluído na mostra "Desvios da
Deriva. Experiências, Travessias e Morfologias", com curadoria da brasileira Lisette
Lagnado, no Museu Nacional
Centro de Arte Reina Sofía,
em Madri, em cartaz até 23 de
agosto.
A tensão entre a prática da
arquitetura e uma visão tão
criativa que se torna mera
utopia marca a exposição
através de dois grupos de artistas-arquitetos: os brasileiros Lina Bo Bardi, Flávio de
Carvalho e Sérgio Bernadores, e os chilenos que, além
de Matta, são representados
por Juan Borchers e o grupo
da Escola de Valparaíso.
A sessão chilena tem curadoria de Maria Berrios. Pontua ainda a mostra uma série
de desenhos feitos pelo arquiteto francês Le Corbusier
(1887-1965), quando passou
pelo Brasil em 1936.
Le Corbusier é visto na
mostra como uma figura visionária, no sentido da busca
de uma arquitetura não apenas marcadas pelas linhas
racionais, mas também por
uma visão orgânica da construção e da busca do diálogo
com o contexto.
Além de ter influenciado
grande parte da arquitetura
brasileira, por conta de suas
constantes visitas ao país, na
mostra explicitado por seus
desenhos apresentados numa conferência em 1936, Le
Corbusier ainda abrigou Matta em seu escritório.
DESTAQUES
Construída por meio de
elegantes estantes, em vez de
paredes, a cenografia da exposição, assinada pela arquiteta Aurora Herrera em parceria com Lisette Lagnado, é
marcada pela transparência,
já que todos os móveis são
vazados.
O grande destaque da encenação da mostra, contudo,
é um dispositivo criado pela
artista francesa Dominique
Gonzalez-Foester, pelo qual
o famoso conjunto de saia e
blusa New Look para Verão,
de Flávio de Carvalho, desfila
pela exposição pendurado
em um cabide.
Com cerca de 200 obras,
entre maquetes, desenhos e
documentos, "Desvios da
Deriva" apresenta uma visão
de alternativas, no Brasil e no
Chile, ao modernismo racionalista, ao mostrar que a utopia nos trópicos não era uma
meta distante, mas consistia
na concepção de projetos
que respeitavam o ambiente
e a escala humana.
Nesse sentido, Bo Bardi se
converte num dos grandes
ícones da exposição, por viabilizar projetos inovadores
como o Masp, a restauração
do Museu de Arte Moderna
da Bahia e o Sesc Pompeia.
E Flávio de Carvalho, que
na mostra do MAM de São
Paulo parecia tão pacato,
surge de fato como o "revolucionário romântico", apelido
pelo qual era chamado por
Le Corbusier.
O jornalista FABIO CYPRIANO viajou a
convite do Centro Oficial de Turismo
Espanhol, da Photoespaña, da Iberia e da
Travel Ace
DESVIOS DA DERIVA
AVALIAÇÃO ótimo
Texto Anterior: Antonio Cicero: Nietzsche e o niilismo Índice
|