São Paulo, sábado, 12 de junho de 2010

Texto Anterior | Índice

CRÍTICA ARTES PLÁSTICAS

Mostra expõe ousadia tropical em Madri

"Desvios da Deriva" traz visão alternativa de brasileiros e chilenos à arquitetura modernista e racionalista

FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A MADRI

"Eu era arquiteto e mudei para a arquitetura da imaginação", conta o artista Roberto Matta (1911-2002), num depoimento em vídeo, incluído na mostra "Desvios da Deriva. Experiências, Travessias e Morfologias", com curadoria da brasileira Lisette Lagnado, no Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofía, em Madri, em cartaz até 23 de agosto.
A tensão entre a prática da arquitetura e uma visão tão criativa que se torna mera utopia marca a exposição através de dois grupos de artistas-arquitetos: os brasileiros Lina Bo Bardi, Flávio de Carvalho e Sérgio Bernadores, e os chilenos que, além de Matta, são representados por Juan Borchers e o grupo da Escola de Valparaíso.
A sessão chilena tem curadoria de Maria Berrios. Pontua ainda a mostra uma série de desenhos feitos pelo arquiteto francês Le Corbusier (1887-1965), quando passou pelo Brasil em 1936. Le Corbusier é visto na mostra como uma figura visionária, no sentido da busca de uma arquitetura não apenas marcadas pelas linhas racionais, mas também por uma visão orgânica da construção e da busca do diálogo com o contexto.
Além de ter influenciado grande parte da arquitetura brasileira, por conta de suas constantes visitas ao país, na mostra explicitado por seus desenhos apresentados numa conferência em 1936, Le Corbusier ainda abrigou Matta em seu escritório.

DESTAQUES
Construída por meio de elegantes estantes, em vez de paredes, a cenografia da exposição, assinada pela arquiteta Aurora Herrera em parceria com Lisette Lagnado, é marcada pela transparência, já que todos os móveis são vazados.
O grande destaque da encenação da mostra, contudo, é um dispositivo criado pela artista francesa Dominique Gonzalez-Foester, pelo qual o famoso conjunto de saia e blusa New Look para Verão, de Flávio de Carvalho, desfila pela exposição pendurado em um cabide.
Com cerca de 200 obras, entre maquetes, desenhos e documentos, "Desvios da Deriva" apresenta uma visão de alternativas, no Brasil e no Chile, ao modernismo racionalista, ao mostrar que a utopia nos trópicos não era uma meta distante, mas consistia na concepção de projetos que respeitavam o ambiente e a escala humana.
Nesse sentido, Bo Bardi se converte num dos grandes ícones da exposição, por viabilizar projetos inovadores como o Masp, a restauração do Museu de Arte Moderna da Bahia e o Sesc Pompeia.
E Flávio de Carvalho, que na mostra do MAM de São Paulo parecia tão pacato, surge de fato como o "revolucionário romântico", apelido pelo qual era chamado por Le Corbusier.

O jornalista FABIO CYPRIANO viajou a convite do Centro Oficial de Turismo Espanhol, da Photoespaña, da Iberia e da Travel Ace


DESVIOS DA DERIVA

AVALIAÇÃO ótimo




Texto Anterior: Antonio Cicero: Nietzsche e o niilismo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.