São Paulo, terça-feira, 12 de julho de 2005

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MÚSICA

Discos remasterizados acrescentam apenas dois CDs à caixa lançada em 2002; músico completaria 60 anos em 2005

Relançamentos celebram mas não inovam Raul Seixas

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

O próprio site oficial de Raul Seixas (www.raulseixas.com.br) informa: desde 1981, quando estava vivo e gravando, ainda que já em decadência, foram produzidas 23 coletâneas de sua obra. Mesmo para um músico prolífico que tivesse vivido mais do que os parcos 44 anos de Raulzito, é um número obviamente exagerado.
No ano em que chegaria aos 60 -nasceu em 28 de junho de 1945, em Salvador (BA)-, Raul ganha mais um relançamento de seus discos, travestido de homenagem. Ciente de que a idolatria é fonte inesgotável de renda, a Universal remasteriza, acrescenta algumas "faixas-bônus" e põe na praça oito discos da metamorfose ambulante, ao preço médio de R$ 25 cada um.
Seis dos atuais "relançamentos" já tinham sido relançados na caixa "Maluco Beleza", em 2002 -sendo que esta pelo menos tinha o atrativo de vir com um livreto contando a história do músico, com fotos inéditas. As "novidades" ficam por conta da volta de "O Baú do Raul" (1992) e "Documento Raul Seixas" (1998), ou seja, o póstumo do póstumo.
Fica dado o aviso aos fãs: não se iludam, vocês certamente já têm tudo o que está aqui, mesmo que em outros formatos. A quem poderia, então, interessar esse lançamento? Aos mais novos, que não conhecem a obra do maluco beleza, e aos que conhecem por tabela, superficialmente -muitos dos quais devem achar insuportável a idolatria em torno do músico.
Entende-se a antipatia que Raulzito provoca em muitos. O grito de "toca Raul!" se tornou tão freqüente em qualquer lugar em que haja um som rolando e um público jovem -universitário, principalmente- que virou até piada. É justamente aí, entre a reverência dos que o adoram e a ironia dos que o detestam, que Raul Seixas deve ser ouvido.
Foi ele, um amante do rock americano de Elvis e do britânico dos Beatles, que fundiu o ritmo com o baião e mostrou que se casavam perfeitamente. Foi ele o primeiro a passear com a mesma desenvoltura -e, às vezes, no mesmo disco- pelo brega, sertanejo, tango, violão à la Bob Dylan e rock n" roll clássico.
Tome-se como exemplo "Krig-ha, Bandolo!" (referência ao grito de guerra de Tarzan, que quer dizer "cuidado, aí vem o inimigo"), seu primeiro disco-solo. É uma experiência única: do rock-macumba de "Mosca na Sopa" (onde Raul já avisava que pintou para abusar) à anticonformista "Ouro de Tolo", o disco se desenvolve com os ritmos se alternando de maneira nunca antes vista.
Mesmo que seja pelo respeito aos mais velhos: ouça e descubra esse moleque maravilhoso que faria agora 60 anos.


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