São Paulo, terça-feira, 12 de julho de 2005

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Radialista criou serviço de previsão há 40 anos

Morre em SP Narciso Vernizzi, "o homem do tempo", aos 86 anos

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Sua última previsão foi ao ar no sábado, dia 2: tempo bom. Aos 86 anos, "o homem do tempo" havia mais de 40, Narciso Vernizzi morreu na manhã de ontem.
Funcionário da Jovem Pan desde a década de 40, ele inaugurou o serviço de meteorologia no rádio nos anos 60. Pouco depois, levou a novidade à TV Record, num programa que durou 20 anos.
Não era uma época de tecnologia de ponta nem de mocinhas bonitas ao lado de mapas virtuais. Mas Vernizzi garantiu certa vez em entrevista à Folha, orgulhoso, que nunca errara uma previsão.
Celso Vernizzi, 53, seu filho e seguidor -atuou na Record, Pan, Band e Globo, entre outros-, conta que o pai foi autodidata.
"Quando ele começou, não havia quase nada sobre o assunto. Aprendeu tudo sozinho, sem faculdade. Até curso por correspondência com a Nasa ele fez."
Considerado "patrimônio" da Pan, Vernizzi foi reprovado no primeiro teste da então rádio Panamericana, em 1946. Falava com a boca muito fechada e não conseguia pronunciar o nome das músicas em inglês. Fez curso e entrou na emissora em 48. Como era árbitro de futebol amador, começou em um programa sobre várzea.
Como "homem do tempo", tornou-se grife e montou em seu sítio, em São Roque (interior de SP), o Instituto Jovem Pan de Meteorologia, no qual trabalhava com seu outro filho, Sérgio, 64, que também seguiu sua carreira.
A Pan prevê dificuldades para substituí-lo. Nas duas férias que costumava tirar ao longo do ano, era difícil dar conta dos telefonemas com reclamação do público.
Simples, Vernizzi parava nas ruas para conversar com quem o reconhecia. Tinha paciência com os que o procuravam atrás de previsões "personalizadas". "Vou fazer uma festa no dia tal. Será que o seu Narciso Vernizzi sabe se vai chover?", indagava um ouvinte a uma secretária da rádio. E ele retornava a ligação com a resposta.
Até seu último dia de trabalho, entrava no ar de hora em hora, das 5h ao meio-dia. No domingo, 3, caiu em casa, ao tropeçar no chinelo. Com fratura exposta no cotovelo, teve de ser operado. Como efeito colateral da anestesia, sofreu uma isquemia cerebral e hemorragia gástrica, que o levou à morte. O enterro será hoje, às 13h, no Cemitério da Paz (Morumbi). Além dos dois filhos, Vernizzi deixa a viúva Alice, 80, e 12 netos.


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