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SÃO PAULO FASHION WEEK - VERÃO 2007
SPFW quer redescobrir a África
Evento ganha tom político ao festejar a cultura africana
no momento em que o Brasil debate cotas para negros
DA REDAÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em busca de sua identidade
-muito discutida mas de contornos ainda pouco definidos-,
a moda brasileira foi procurar
na África as pistas sobre suas
raízes e o seu futuro. Esse movimento de reaproximação
com o continente não é inédito,
mas aparece agora com novo
foco: a prioridade não é listar
elementos de heranças tribais,
mas descobrir a cara mais pop
da África contemporânea.
"Vivemos um momento de
trocas culturais, e os africanos
interessam a todos com a sua
riqueza cultural, sua vibração e
energia criativa", afirma o empresário Paulo Borges, organizador da São Paulo Fashion
Week, que nesta edição terá a
cultura da África como tema.
A inspiração africana do
evento não determina o estilo
das 48 coleções que serão mostradas de hoje até terça, mas alguns estilistas decidiram abordar a África nos desfiles.
"O conhecimento que temos
de nossas raízes é muito superficial. Estamos passando por
um momento de revisão", diz o
estilista Mario Queiroz. Ele
apresentará uma coleção com
referências aos trajes cerimoniais africanos e à moda de Salvador dos anos 40. "Além dessa
grande tendência que é olhar
para a África, acredito que esta
será a primeira estação em que
os modelos negros realmente
terão grande destaque", aposta.
Para estilistas da SPFW, embora a moda não tenha participação primordial na luta contra
preconceitos, ela começa a refletir uma nova atitude em relação aos negros. "A melhor e
mais nova atitude em relação a
este problema está vindo dos
jovens. A geração globalizada
está assimilando a riqueza da
miscigenação de uma forma
muito positiva", analisa a designer Clô Orozco, da Huis Clos.
"A moda sempre tratou a relação de Brasil e África de forma
decorativa. Isso deve mudar",
diz o estilista Ronaldo Fraga.
Moda e política
O destaque dado à África e à
cultura negra na SPFW ganhou
um imprevisto rumo político
na última semana, com as discussões a respeito da criação de
cotas para afro-descendentes
nas universidades.
Como no Congresso, os fashionistas também estão divididos a respeito. "Sou a favor,
mas não só na universidade.
Tem que começar na pré-escola, onde se inicia o Apartheid",
diz Ronaldo Fraga. "Defendo os
aspectos positivos das cotas,
mas só isso não resolve a situação. Precisamos de um trabalho de base na educação", afirma Mario Queiroz.
Já Clô Orozco e Amir Slama
-que transferiu o desfile da
Rosa Chá para Nova York e participa apenas com a Sais, sua segunda linha- são contra as cotas, que, para eles, podem aumentar o preconceito. "Deveria
ser levado em conta o grau de
pobreza e não o elemento racial", afirma Slama, que já foi
professor de história.
Paulo Borges ainda não tem
uma posição pessoal sobre as
cotas, mas comemora o fato de
seu evento abrir certo espaço
para discussões sociais. "Não é
nossa intenção fazer política,
mas somos também uma espécie de alto-falante para a vida
brasileira. A moda não é algo
que se esgota nela mesma."
O quente do verão
Polêmicas à parte, na passarela o clima será de muito calor
e muita cor. Os vestidos são
destaque, e os comprimentos
anunciam um verão ultraquente. "O desejo pelos curtos vem
com força total", adianta Clô.
Já os biquínis, como se viu no
Fashion Rio, crescem um pouco. "O conforto vem tomando o
lugar dos modismos. As peças
de banho estão ficando maiores", diz Amir Slama. Para o estilista, a cara da praia está mudando. "Estamos vendo um novo conceito de sensualidade."
(ALCINO LEITE NETO E VIVIAN WHITEMAN)
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