São Paulo, quarta-feira, 12 de julho de 2006

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SÃO PAULO FASHION WEEK - VERÃO 2007

SPFW quer redescobrir a África

Evento ganha tom político ao festejar a cultura africana no momento em que o Brasil debate cotas para negros

DA REDAÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em busca de sua identidade -muito discutida mas de contornos ainda pouco definidos-, a moda brasileira foi procurar na África as pistas sobre suas raízes e o seu futuro. Esse movimento de reaproximação com o continente não é inédito, mas aparece agora com novo foco: a prioridade não é listar elementos de heranças tribais, mas descobrir a cara mais pop da África contemporânea.
"Vivemos um momento de trocas culturais, e os africanos interessam a todos com a sua riqueza cultural, sua vibração e energia criativa", afirma o empresário Paulo Borges, organizador da São Paulo Fashion Week, que nesta edição terá a cultura da África como tema.
A inspiração africana do evento não determina o estilo das 48 coleções que serão mostradas de hoje até terça, mas alguns estilistas decidiram abordar a África nos desfiles.
"O conhecimento que temos de nossas raízes é muito superficial. Estamos passando por um momento de revisão", diz o estilista Mario Queiroz. Ele apresentará uma coleção com referências aos trajes cerimoniais africanos e à moda de Salvador dos anos 40. "Além dessa grande tendência que é olhar para a África, acredito que esta será a primeira estação em que os modelos negros realmente terão grande destaque", aposta.
Para estilistas da SPFW, embora a moda não tenha participação primordial na luta contra preconceitos, ela começa a refletir uma nova atitude em relação aos negros. "A melhor e mais nova atitude em relação a este problema está vindo dos jovens. A geração globalizada está assimilando a riqueza da miscigenação de uma forma muito positiva", analisa a designer Clô Orozco, da Huis Clos. "A moda sempre tratou a relação de Brasil e África de forma decorativa. Isso deve mudar", diz o estilista Ronaldo Fraga.

Moda e política
O destaque dado à África e à cultura negra na SPFW ganhou um imprevisto rumo político na última semana, com as discussões a respeito da criação de cotas para afro-descendentes nas universidades.
Como no Congresso, os fashionistas também estão divididos a respeito. "Sou a favor, mas não só na universidade. Tem que começar na pré-escola, onde se inicia o Apartheid", diz Ronaldo Fraga. "Defendo os aspectos positivos das cotas, mas só isso não resolve a situação. Precisamos de um trabalho de base na educação", afirma Mario Queiroz.
Já Clô Orozco e Amir Slama -que transferiu o desfile da Rosa Chá para Nova York e participa apenas com a Sais, sua segunda linha- são contra as cotas, que, para eles, podem aumentar o preconceito. "Deveria ser levado em conta o grau de pobreza e não o elemento racial", afirma Slama, que já foi professor de história.
Paulo Borges ainda não tem uma posição pessoal sobre as cotas, mas comemora o fato de seu evento abrir certo espaço para discussões sociais. "Não é nossa intenção fazer política, mas somos também uma espécie de alto-falante para a vida brasileira. A moda não é algo que se esgota nela mesma."

O quente do verão
Polêmicas à parte, na passarela o clima será de muito calor e muita cor. Os vestidos são destaque, e os comprimentos anunciam um verão ultraquente. "O desejo pelos curtos vem com força total", adianta Clô.
Já os biquínis, como se viu no Fashion Rio, crescem um pouco. "O conforto vem tomando o lugar dos modismos. As peças de banho estão ficando maiores", diz Amir Slama. Para o estilista, a cara da praia está mudando. "Estamos vendo um novo conceito de sensualidade."
(ALCINO LEITE NETO E VIVIAN WHITEMAN)

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