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Cena psicodélica perde Syd Barrett
Líder fundador do Pink Floyd morreu na última sexta-feira, aos 60 anos, provavelmente em decorrência de diabetes
Protagonista do mito do freak, Barrett mantinha-se como testemunha do que pode acontecer a um gênio que se entrega às drogas
ALEXANDRE MATIAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Está certo que o luto à psicodélica é mais sombrio que technicolor, mas a morte de Syd
Barrett, líder fundador do grupo Pink Floyd, que aconteceu
em Cambridgeshire na última
sexta-feira, não deixa de ser um
choque. Principal protagonista
do mito do freak -o porra-louca que, quase sempre via ácido,
viaja e não consegue voltar-,
Barrett mantinha-se vivo como
a testemunha definitiva do que
pode acontecer a um gênio
quando ele se entrega.
Não foi por menos que Roger
Waters, um dos líderes da banda após sua saída no fatídico
1968, saudou a volta da formação original do Pink Floyd, que
aconteceu em julho de 2005. "É
muito intenso estar aqui com
esses três caras depois destes
anos todos", comemorou incrédulo, "mas, na verdade, estamos fazendo isso para todos
que não podem estar aqui, e,
particularmente, para Syd".
O anúncio de sua morte, em
provável decorrência de diabetes que sofria havia anos, aconteceu ontem, e o grupo logo publicou uma declaração a respeito do ocorrido: "A banda está
naturalmente triste ao saber da
morte de Syd Barrett. Syd era o
farol na formação inicial do
grupo e deixa um legado que
continua a inspirar". Não deixa
de ser irônico o fato de esta ter
sido a primeira vez em que Roger Waters, David Gilmour,
Rick Wright e Nick Mason se
autodenominam "a banda", em
24 anos.
Capricorniano do dia 6 de janeiro de 1946, Barrett nasceu
em Cambridge, onde formou o
Pink Floyd, inspirado pela onda de rock de garagem dos anos
60 e pelo rhythm'n'blues original. Mas, na medida em que começou a se envolver com drogas, começou a derreter aquele
rhythm'n'blues em algo mais...
lisérgico.
Acompanhado de Rick, Roger e Nick, começou a interferir
radicalmente na estrutura das
canções, adicionando elementos orientais, jazzísticos, caóticos -tudo tocado de forma
simplista, com técnica limitada
e ímpeto juvenil, mas que criava uma atmosfera única, multicolorida e excitante, que melhor traduziu as mudanças que
fizeram a capital inglesa renascer das cicatrizes do Pós-Guerra. Não é exagero dizer que o
Pink Floyd de Syd Barrett foi a
força motriz e o catalisador da
Swinging London.
Gravaram seu disco de estréia -o maiúsculo "The Piper
at the Gates of Dawn", de
1967- ao lado do estúdio em
que os Beatles gravavam "Sgt.
Pepper's", mas Syd cedeu às
drogas e à loucura e teve de ser
substituído pelo colega David
Gilmour. Dali, começaria uma
nova jornada, a transformação
do Pink Floyd de culto underground a um dos maiores nomes da história do rock.
E a consolidação de Syd Barrett como a primeira e emblemática vítima do excesso. Outros -fatais- vieram logo depois (Jim, Jimi, Janis, Jones),
mas Syd, vivo, lançando discos
de psicodelia dark ("Madcap
Laughs", "Barrett", "Opel") ao
mesmo tempo em que a banda
renovada cultuava sua loucura
rumo ao megaestrelato, em discos como "Dark Side of the
Moon" e "Wish You Were Here", só aumentava a luz de uma
carreira rápida, mas brilhante.
Que parecia nunca se apagar,
mas, de repente, se apagou. Ou
não: faça uma busca por "Syd
Barrett" no YouTube.com.
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