São Paulo, quarta-feira, 12 de julho de 2006

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Cena psicodélica perde Syd Barrett

Líder fundador do Pink Floyd morreu na última sexta-feira, aos 60 anos, provavelmente em decorrência de diabetes

Protagonista do mito do freak, Barrett mantinha-se como testemunha do que pode acontecer a um gênio que se entrega às drogas


ALEXANDRE MATIAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Está certo que o luto à psicodélica é mais sombrio que technicolor, mas a morte de Syd Barrett, líder fundador do grupo Pink Floyd, que aconteceu em Cambridgeshire na última sexta-feira, não deixa de ser um choque. Principal protagonista do mito do freak -o porra-louca que, quase sempre via ácido, viaja e não consegue voltar-, Barrett mantinha-se vivo como a testemunha definitiva do que pode acontecer a um gênio quando ele se entrega.
Não foi por menos que Roger Waters, um dos líderes da banda após sua saída no fatídico 1968, saudou a volta da formação original do Pink Floyd, que aconteceu em julho de 2005. "É muito intenso estar aqui com esses três caras depois destes anos todos", comemorou incrédulo, "mas, na verdade, estamos fazendo isso para todos que não podem estar aqui, e, particularmente, para Syd".
O anúncio de sua morte, em provável decorrência de diabetes que sofria havia anos, aconteceu ontem, e o grupo logo publicou uma declaração a respeito do ocorrido: "A banda está naturalmente triste ao saber da morte de Syd Barrett. Syd era o farol na formação inicial do grupo e deixa um legado que continua a inspirar". Não deixa de ser irônico o fato de esta ter sido a primeira vez em que Roger Waters, David Gilmour, Rick Wright e Nick Mason se autodenominam "a banda", em 24 anos.
Capricorniano do dia 6 de janeiro de 1946, Barrett nasceu em Cambridge, onde formou o Pink Floyd, inspirado pela onda de rock de garagem dos anos 60 e pelo rhythm'n'blues original. Mas, na medida em que começou a se envolver com drogas, começou a derreter aquele rhythm'n'blues em algo mais... lisérgico.
Acompanhado de Rick, Roger e Nick, começou a interferir radicalmente na estrutura das canções, adicionando elementos orientais, jazzísticos, caóticos -tudo tocado de forma simplista, com técnica limitada e ímpeto juvenil, mas que criava uma atmosfera única, multicolorida e excitante, que melhor traduziu as mudanças que fizeram a capital inglesa renascer das cicatrizes do Pós-Guerra. Não é exagero dizer que o Pink Floyd de Syd Barrett foi a força motriz e o catalisador da Swinging London.
Gravaram seu disco de estréia -o maiúsculo "The Piper at the Gates of Dawn", de 1967- ao lado do estúdio em que os Beatles gravavam "Sgt. Pepper's", mas Syd cedeu às drogas e à loucura e teve de ser substituído pelo colega David Gilmour. Dali, começaria uma nova jornada, a transformação do Pink Floyd de culto underground a um dos maiores nomes da história do rock.
E a consolidação de Syd Barrett como a primeira e emblemática vítima do excesso. Outros -fatais- vieram logo depois (Jim, Jimi, Janis, Jones), mas Syd, vivo, lançando discos de psicodelia dark ("Madcap Laughs", "Barrett", "Opel") ao mesmo tempo em que a banda renovada cultuava sua loucura rumo ao megaestrelato, em discos como "Dark Side of the Moon" e "Wish You Were Here", só aumentava a luz de uma carreira rápida, mas brilhante. Que parecia nunca se apagar, mas, de repente, se apagou. Ou não: faça uma busca por "Syd Barrett" no YouTube.com.


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