Após série de shows conceituais, cantora busca o grande público com o show "Topo Todas Tour", em que revê a carreira a partir de trilhas de novelas; aos 51 anos, diz que perdeu a timidez e que adora a Bebel, de "Paraíso Tropical"

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 51 anos, Marina Lima liberou geral. Está topando tudo. Após série de shows restritos a um público menor, a mais emblemática cantora da juventude dos anos 80 quer (re)encontrar as massas. Cartas na manga ela tem. Com um repertório que inclui hits de inúmeros verões passados, a tarefa não é das mais difíceis. Vai direto ao ponto e aproveita o lançamento da coletânea "Marina Lima - Novelas" para sair em nova turnê, a "Topo Todas Tour", que passa hoje e amanhã por São Paulo. "Sou a mulher com o maior número de músicas em trilhas de novelas. E o engraçado é que nunca compus exclusivamente para uma novela", diz a cantora. Com sucessos na mão, Marina resolveu economizar. Ou melhor, fazer shows em casas com preços mais acessíveis, em uma estrutura enxuta, que lhe permite viajar pelo Brasil. Ao lado dela, apenas o trio Fernando Vidal (guitarras), Dudu Trentin (teclados) e Cristiano Galvão (bateria), além de Renato Alsher na programação.
A cantora deixa, assim, de lado conceitos cênicos que guiaram seu espetáculo anterior, "Primórdios", e locais mais elitistas, como o Baretto, em que cada um dos 60 espectadores pagava entrada de R$ 250. "Não curto lançar coletâneas, mas achei que era um bom momento. Estou fazendo essa turnê para aquelas pessoas que não conhecem toda a minha carreira, para aquelas que só conhecem alguns hits", conta.
Se a contradição não é grande o suficiente para aproximá-la do companheiro de geração Lobão -que, após anos de brigas com gravadoras, embarcou em processo de revisão da carreira-, alguns de seus argumentos são similares. "Eu vivo disso, esse é o meu ganha-pão. Hoje, com a situação econômica do Brasil, é difícil excursionar sem um patrocínio, sem um repertório conhecido", diz Marina, que não lembra sua época de ouro, os anos 80, com romantismo.
"Não falo em nome da minha geração. Ao contrário da turma anterior, do Caetano, do Gil, minha geração não se comunicava muito. Até hoje é assim. Talvez seja uma característica de isolamento", afirma.
Mas é justamente o maior ícone do período que lhe vem à mente quando fala sobre sua turnê. "O Renato [Russo, 1960-1996] sempre me falava: "Marina, você é rock, e não pop", diz. A cantora acredita que atualmente está mais "intensa", e que há, sim, uma pegada mais rock'n'roll nesse sentido, apesar de as canções continuarem com seus arranjos pop.

Noveleira
Mesmo com tantas músicas em novelas, ela diz que nunca teve muito tempo para assisti-las. Hoje, afirma ter mudado. "A de agora ["Paraíso Tropical'] eu estou vendo. Tô adorando a Camila Pitanga", conta. A nova versão de Marina para sua canção "Difícil", aliás, serviu de tema para a personagem da atriz, a prostituta Bebel. "Ter uma música em novela da Globo ajuda muito na carreira. Meu disco tá nas Lojas Americanas! Mas não é uma coisa gananciosa, de querer ganhar dinheiro. Minha música é para ser ouvida."
Em nenhum momento a cantora sente que está recomeçando. "Aquela fase já passou. Agora estou excitada", diz, referindo-se ao período de depressão em que ficou sem cantar. Afirma que perdeu as inibições no palco, que não está mais tímida. Que, antes, seu prazer era compor, "para eternizar suas obras", mas que agora é o palco que lhe satisfaz.
De mais imediato, prevê um DVD com o show "Primórdios" e um CD com os shows no Baretto, em edição limitada para colecionadores; disco de inéditas, só ano que vem. O nome da turnê, "Topo Todas Tour", foi escolhido em um concurso pela internet. "Gosto do nome porque resume a idéia. E porque é sacana, safado." Marina já passou das preliminares.

MARINA LIMA - TOPO TODAS TOUR