São Paulo, domingo, 12 de julho de 2009

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TV se abre para a animação nacional

Produtores investem em séries para crianças por ser mercado de menor risco e aproveitam fundos internacionais

Anima Mundi discute bom momento em fórum, a partir de quarta, no Rio; sete séries já têm contrato de exibição em emissoras

LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado de animação brasileiro anda a passo de papa-léguas. É a opinião de Cesar Coelho, diretor do Anima Mundi, que percebeu o momento fértil do setor e reunirá os produtores nacionais para o fórum do festival, que começa na próxima quarta, apenas no Rio.
"No princípio do Anima Mundi a gente promovia esse tipo de encontro, mas nunca com convidados locais, porque a produção não existia. Nesta edição, resgatamos o projeto e só com séries brasileiras. É um momento histórico, que reflete a conquista de mercado", diz.
Sete seriados já têm contratos de exibição -alguns deles também englobando canais internacionais. A ideia é discutir os casos de sucesso para entender o que funciona e viabilizar outras parcerias com distribuidores estrangeiros.
Também de olho nisso, Coelho criou o Anima Business, em que um comitê internacional avalia projetos interessados em coprodução ou distribuição lá fora (inscrições em www.animamundi.com.br).
Andrés Lieban tem dois desenhos já comprados: "Quarto do Jobi" é curto, com um minuto de duração, e veiculação na TV Rá-Tim-Bum e na TV Brasil; mais longa, com 52 episódios de 11 minutos cada um, "Meu Amigãozão" vai passar na TV Brasil e no Canadá, que é coprodutor da série. A parceria permite utilizar os fundos de incentivo estrangeiros.
Lieban vê potencial para crescer, mas acha que o Brasil ainda está se estruturando e precisa criar uma indústria. "A forma artesanal não seduz o investidor. Então ainda é preciso um empurrão governamental. Acho que o mercado demanda novos estilos. A produção autoral daqui vem a calhar."
Coelho faz coro: "O mercado é cruel, mas a gente tem uma cultura antropofágica, que permite passar os programas em outros países. Tem grande trânsito essa absorção de conteúdo que fazemos".
A produção é essencialmente infantil, porque é a faixa etária de maior consumo. Por outro lado, é também onde tem mais concorrência atualmente.
A série "Peixonauta", hoje líder no horário no Discovery Kids, montou o projeto em 2004. Os autores, Kiko Mistrorigo e Célia Catunda, demoraram dois anos para fechar o contrato. É o primeiro projeto do canal na América Latina.

Independentes
"No Brasil, a TVs querem produzir tudo o que veiculam", diz Mistrorigo. Só agora, com o custo mais baixo para as emissoras, as produtoras independentes estão conseguindo mais espaço. "O mercado quer o sucesso de um novo "Bob Esponja", mas sem correr riscos. Reage mal a novidades. É maluco."
Para a Discovery, o risco valeu a pena. A série já foi vendida para a rede Al Jazeera, que a exporta para 27 países do Oriente Médio. Também lidera o horário na Colômbia, por exemplo. No ano que vem, vai virar longa-metragem e peça teatral.
"Escola pra Cachorro", de Stefan Leblanc, também investiu nos canais fechados primeiro. A série começa a ser exibida em outubro na Nickelodeon. Só no ano que vem entra na TV Cultura. Antes, deve estrear em duas redes canadenses.
"As Aventuras de Gui & Estopa", de Mariana Caltabiano, está em formato de longa (fora de competição) no Anima Mundi, mas sua versão em pequenos episódios entra no ar no Cartoon Network em agosto.
Ale McHaddo, do premiado curta "A Lasanha Assassina", acha que pode ter outro modelo para viabilizar uma animação.
Sua produtora, em parceria com a Videobrinquedo, lançou "Escola de Princesinhas" direto em DVD. Com 12 episódios prontos, venderam os direitos para a TV Rá-Tim-Bum.
A infanto-juvenil "Cordélicos", sobre um bando de cangaceiros que enfrenta o Cabra da Peste no futuro, ainda não foi comercializada para a TV.
Mas ele não vai esperar. Deve lançar os primeiros quatro episódios em DVD enquanto as emissoras não decidem apostar no desenho. "É difícil quando só se tem o mercado brasileiro para pagar a conta", reclama.


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