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TV se abre para a animação nacional
Produtores investem em séries para crianças por ser mercado de menor risco e aproveitam fundos internacionais
Anima Mundi discute bom momento em fórum, a partir de quarta, no Rio; sete séries já têm contrato de exibição em emissoras
LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL
O mercado de animação brasileiro anda a passo de papa-léguas. É a opinião de Cesar Coelho, diretor do Anima Mundi,
que percebeu o momento fértil
do setor e reunirá os produtores nacionais para o fórum do
festival, que começa na próxima quarta, apenas no Rio.
"No princípio do Anima
Mundi a gente promovia esse
tipo de encontro, mas nunca
com convidados locais, porque
a produção não existia. Nesta
edição, resgatamos o projeto e
só com séries brasileiras. É um
momento histórico, que reflete
a conquista de mercado", diz.
Sete seriados já têm contratos de exibição -alguns deles
também englobando canais internacionais. A ideia é discutir
os casos de sucesso para entender o que funciona e viabilizar
outras parcerias com distribuidores estrangeiros.
Também de olho nisso, Coelho criou o Anima Business, em
que um comitê internacional
avalia projetos interessados em
coprodução ou distribuição lá
fora (inscrições em www.animamundi.com.br).
Andrés Lieban tem dois desenhos já comprados: "Quarto
do Jobi" é curto, com um minuto de duração, e veiculação
na TV Rá-Tim-Bum e na TV
Brasil; mais longa, com 52 episódios de 11 minutos cada um,
"Meu Amigãozão" vai passar
na TV Brasil e no Canadá, que é
coprodutor da série. A parceria
permite utilizar os fundos de
incentivo estrangeiros.
Lieban vê potencial para
crescer, mas acha que o Brasil
ainda está se estruturando e
precisa criar uma indústria. "A
forma artesanal não seduz o investidor. Então ainda é preciso
um empurrão governamental.
Acho que o mercado demanda
novos estilos. A produção autoral daqui vem a calhar."
Coelho faz coro: "O mercado
é cruel, mas a gente tem uma
cultura antropofágica, que permite passar os programas em
outros países. Tem grande
trânsito essa absorção de conteúdo que fazemos".
A produção é essencialmente
infantil, porque é a faixa etária
de maior consumo. Por outro
lado, é também onde tem mais
concorrência atualmente.
A série "Peixonauta", hoje líder no horário no Discovery
Kids, montou o projeto em
2004. Os autores, Kiko Mistrorigo e Célia Catunda, demoraram dois anos para fechar o
contrato. É o primeiro projeto
do canal na América Latina.
Independentes
"No Brasil, a TVs querem
produzir tudo o que veiculam",
diz Mistrorigo. Só agora, com o
custo mais baixo para as emissoras, as produtoras independentes estão conseguindo mais
espaço. "O mercado quer o sucesso de um novo "Bob Esponja", mas sem correr riscos. Reage mal a novidades. É maluco."
Para a Discovery, o risco valeu a pena. A série já foi vendida
para a rede Al Jazeera, que a exporta para 27 países do Oriente
Médio. Também lidera o horário na Colômbia, por exemplo.
No ano que vem, vai virar longa-metragem e peça teatral.
"Escola pra Cachorro", de
Stefan Leblanc, também investiu nos canais fechados primeiro. A série começa a ser exibida
em outubro na Nickelodeon. Só
no ano que vem entra na TV
Cultura. Antes, deve estrear em
duas redes canadenses.
"As Aventuras de Gui & Estopa", de Mariana Caltabiano, está em formato de longa (fora de
competição) no Anima Mundi,
mas sua versão em pequenos
episódios entra no ar no Cartoon Network em agosto.
Ale McHaddo, do premiado
curta "A Lasanha Assassina",
acha que pode ter outro modelo
para viabilizar uma animação.
Sua produtora, em parceria
com a Videobrinquedo, lançou
"Escola de Princesinhas" direto em DVD. Com 12 episódios
prontos, venderam os direitos
para a TV Rá-Tim-Bum.
A infanto-juvenil "Cordélicos", sobre um bando de cangaceiros que enfrenta o Cabra da
Peste no futuro, ainda não foi
comercializada para a TV.
Mas ele não vai esperar. Deve
lançar os primeiros quatro episódios em DVD enquanto as
emissoras não decidem apostar
no desenho. "É difícil quando
só se tem o mercado brasileiro
para pagar a conta", reclama.
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