Sucesso nos Estados Unidos, "Logicomix" narra de maneira digerível a trajetória do britânico Bertrand Russell

HQ confunde leitor com tempos diferentes e diálogos sobre a própria produção, terminando apressada e sem clímax

DIOGO BERCITO
DE SÃO PAULO

O gibi "Logicomix" faz pela matemática um favor semelhante ao feito à filosofia pelo livro "O Mundo de Sofia" (publicado em 1991 pelo norueguês Jostein Gaarder).
Ambos partiram de um tema complicado e entregaram um produto não apenas digerível, mas saboroso em si.
A HQ, lançada nos Estados Unidos em 2009, chega ao Brasil pela WMF Martins Fontes, narrando a história do matemático britânico Bertrand Russell (1872-1970).
Tendo esse personagem como fio condutor, o gibi destrincha os avanços e impasses da lógica e da matemática no início do século 20.
Mais do que isso, o título mostra a busca pessoal de Russell por uma ciência exata -procura que quase lhe custou a sanidade.
O gibi fez sucesso. Na época do lançamento, chegou a liderar a lista dos mais vendidos do "New York Times".
Os responsáveis pelo êxito são os roteiristas gregos Apostolos Doxiadis e Christos Papadimitriou, somados aos artistas Alecos Papadatos, também grego, e Annie di Donna, argelina.
A equipe multicultural é também personagem, aparecendo em interlúdios da história e dando pistas de como foi a produção do livro.
Com essas intervenções, a narrativa se desenrola em três tempos distintos, às vezes confundindo o leitor, perdido entre tantos dados.
As ilustrações simples, claras e coloridas, por sua vez, trazem alívio por facilitarem a leitura do gibi.
Ponto positivo também para o bom uso dos quadros, que variam de tamanho e de forma e às vezes somem.
O que igualmente desaparece é o interesse do leitor conforme ele chega ao fim do gibi. Sem clímax, o enredo termina de repente, e a moral da história é apenas esboçada no último diálogo entre os roteiristas-personagens.
Então Apostolos Doxiadis se dirige ao público: "Estou aborrecido demais para me despedir como deveria". E narra, nas seis páginas finais, uma cena da peça Oresteia, de Ésquilo. Fim.