São Paulo, terça-feira, 12 de julho de 2011

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Grupo iraniano encena espetáculo em SP

Após sucesso em festival, "Onde Você Estava no Dia 8 de Janeiro?" terá duas apresentações no Sesc Belenzinho

Peça do Mehr Theatre Group, que está com ingressos esgotados, reflete tensões e medos da população do Irã

GUSTAVO FIORATTI
ENVIADO ESPECIAL A SÃO JOSÉ DO RIO PRETO (SP)

Após fazer três sessões lotadas no FIT (Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto), a peça "Onde Você Estava no Dia 8 de Janeiro?", do grupo iraniano Mehr Theatre Group, vai ser apresentada em São Paulo.
Os espetáculos acontecem amanhã e quinta no Sesc Belenzinho, em São Paulo. Os ingressos estão esgotados. Escrita e dirigida por Amir Reza Koohestani, a peça estreou no ano passado. O Mehr Theatre Group é subsidiado pelo governo iraniano e existe há 15 anos.
A montagem ocupa um corredor formado por duas arquibancadas paralelas. Seis personagens dividem esse mesmo espaço, embora eles estejam, durante grande parte da história, em pontos geográficos diferentes da capital iraniana.
Os diálogos são travados por meio de telefones celulares. Um soldado do Exército, que teve sua pistola roubada enquanto dormia, faz investigação desesperada entre pessoas de seu convívio sobre o paradeiro da arma.
Outros cinco sujeitos compartilham a ação do roubo. Resta à vítima descobrir onde está a pistola e para que fim ela será usada.
A tensão é amplificada pelo medo que os personagens têm de falar ao telefone, temor comum entre iranianos, que vivem sob o regime de Mahmoud Ahmadinejad.
A palavra "peruca" substitui a palavra "arma" em boa parte dos diálogos. E nada é dito objetivamente, o que cria ruídos de compreensão, tanto para os personagens como para a plateia.
"No Irã, o medo de falar ao telefone resulta em muito desentendimento. Mesmo quando eu falo coisas simples com meus pais, por exemplo, eles não falam diretamente aquilo que querem dizer. As pessoas tentam se decifrar o tempo inteiro", conta a atriz Mahin Sadri.
O próprio texto em farsi, com legendas em português, dá voltas para se posicionar politicamente.
"A censura existe no Irã, todo mundo sabe. Mas eu acho que nós, artistas, sempre conseguimos dizer aquilo que pretendemos, ainda que seja de forma indireta."
Ela conta que os textos da companhia têm sempre de ser submetidos à aprovação de um órgão ligado ao Ministério da Cultura do Irã.
Antes de estrear, os espetáculos ainda devem ser mostrados para agentes do ministério. "Mas eles acabam cortando basicamente palavrões ou palavras específicas, como "líder". Eles procuram não fazer muita pressão sobre o grupo, porque eles também querem mostrar que têm orgulho do que fazemos", diz Sadri.

O jornalista GUSTAVO FIORATTI viajou a convite do FIT

ONDE VOCÊ ESTAVA NO DIA 8 DE JANEIRO?

QUANDO amanhã e quinta, às 21h
ONDE Sesc Belenzinho (rua Padre Adelino, 1.000; tel. 0/xx/11/ 2076-9700)
QUANTO ingressos esgotados
CLASSIFICAÇÃO 16 anos


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