São Paulo, sábado, 12 de agosto de 2000


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LIVRO/LANÇAMENTO
Werneck conta quase-memórias em "Europa 1935"

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

"E uropa 1935" são as quase-memórias do escritor, jornalista e tradutor carioca Moacir Werneck de Castro. Aos 85 anos, depois de muito ver e ouvir, amigo de Mario de Andrade e Di Cavalcanti, primo de Carlos Lacerda e parceiro de Samuel Wainer, Werneck dribla as demandas de uma autobiografia formal ao oferecer aos leitores "uma aventura da juventude": uma viagem, aos 20 anos, pela Europa já grávida da Segunda Guerra.
A estratégia narrativa de Werneck, a de completar cada capítulo com um "post scriptum", desenvolvendo e atualizando as informações principais, expande "Europa 1935" para muito além das modestas intenções inicialmente declaradas. Político por natureza, jornalista antes de tudo, o autor não se contém em contextualizar sua própria história.
É assim que os preparativos da viagem de um rapazola da aristocracia rural decadente do Rio tornam-se um instantâneo das atividades da esquerda, sobretudo comunista, no final da transição entre o primeiro Brasil getulista e a ditadura do Estado Novo. Será da mesma forma durante toda a sua viagem de descobrimento pelo Velho Continente -e de autodescobrimento do jovem escritor.
Com uma carteira mais leve do que seria confortável, Werneck flanou pela Europa Ocidental de fevereiro a novembro de 1935. Paris seria para ele o epicentro da viagem, contando os tostões entre uma peça de Josephine Baker e um sarau de Louis Aragon.
São dedicadas a Paris suas páginas mais nostálgicas, mas não as mais inspiradas. Em apenas oito páginas, ele nos transporta para a difusamente tensa Lisboa dos primórdios da longa noite salazarista. Pouco mais que o terço final reconstitui a tumultuada Berlim já hitlerista, na qual o jovem "vermelho" Werneck conseguiu se sustentar ironicamente com auxílio financeiro do governo nazista aos temerosos turistas como ele.
Anedotas e personagens sucedem-se no "estilo machadiano" que Paulo Francis saudava em Werneck. Há o "fabulador" Otávio, companheiro de viagem que espera por uma herança; o polonês José, por milagre salvo das máquinas de matar de Hitler; a agressão ao autor, tomado por judeu, numa Berlim três anos antes da trágica "Kristallnacht".
Recuperados do mundo por Werneck, como texto passam a desafiar o tempo. As quase-memórias do escritor agora são também nossas.


Europa 1935     Autor: Moacir Werneck de Castro Editora: Record Quanto: R$ 20 (220 págs.)




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