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LIVRO/LANÇAMENTO
Werneck conta quase-memórias em "Europa 1935"
AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
"E uropa 1935" são as quase-memórias do escritor,
jornalista e tradutor carioca Moacir Werneck de Castro. Aos 85
anos, depois de muito ver e ouvir,
amigo de Mario de Andrade e Di
Cavalcanti, primo de Carlos Lacerda e parceiro de Samuel Wainer, Werneck dribla as demandas
de uma autobiografia formal ao
oferecer aos leitores "uma aventura da juventude": uma viagem,
aos 20 anos, pela Europa já grávida da Segunda Guerra.
A estratégia narrativa de Werneck, a de completar cada capítulo com um "post scriptum", desenvolvendo e atualizando as informações principais, expande
"Europa 1935" para muito além
das modestas intenções inicialmente declaradas. Político por
natureza, jornalista antes de tudo,
o autor não se contém em contextualizar sua própria história.
É assim que os preparativos da
viagem de um rapazola da aristocracia rural decadente do Rio tornam-se um instantâneo das atividades da esquerda, sobretudo comunista, no final da transição entre o primeiro Brasil getulista e a
ditadura do Estado Novo. Será da
mesma forma durante toda a sua
viagem de descobrimento pelo
Velho Continente -e de autodescobrimento do jovem escritor.
Com uma carteira mais leve do
que seria confortável, Werneck
flanou pela Europa Ocidental de
fevereiro a novembro de 1935. Paris seria para ele o epicentro da
viagem, contando os tostões entre
uma peça de Josephine Baker e
um sarau de Louis Aragon.
São dedicadas a Paris suas páginas mais nostálgicas, mas não as
mais inspiradas. Em apenas oito
páginas, ele nos transporta para a
difusamente tensa Lisboa dos primórdios da longa noite salazarista. Pouco mais que o terço final
reconstitui a tumultuada Berlim
já hitlerista, na qual o jovem "vermelho" Werneck conseguiu se
sustentar ironicamente com auxílio financeiro do governo nazista
aos temerosos turistas como ele.
Anedotas e personagens sucedem-se no "estilo machadiano"
que Paulo Francis saudava em
Werneck. Há o "fabulador" Otávio, companheiro de viagem que
espera por uma herança; o polonês José, por milagre salvo das
máquinas de matar de Hitler; a
agressão ao autor, tomado por judeu, numa Berlim três anos antes
da trágica "Kristallnacht".
Recuperados do mundo por
Werneck, como texto passam a
desafiar o tempo. As quase-memórias do escritor agora são também nossas.
Europa 1935
Autor: Moacir Werneck de Castro
Editora: Record
Quanto: R$ 20 (220 págs.)
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