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"O HOMEM QUE MATOU O ESCRITOR"
Sérgio Rodrigues é um autor malvado
CYNARA MENEZES
ESPECIAL PARA A FOLHA
O jornalista Sérgio Rodrigues, estreando na ficção
com "O Homem Que Matou o Escritor", não é um mau escritor, ao
contrário: econômico em metáforas, parcimonioso em adjetivos,
avarento de frases de efeito, é um
bom autor. Mas é um escritor
mau. Terrível. Cruel.
Não satisfeito em matar o escritor do título, mata a jovenzinha
paralítica, a pobre prostituta brasileira em Miami, até a mãe. Seus
personagens são absolutamente
descarados, traidores sem culpa,
gente sem fé nem moral. Ou com
uma moral própria, porque são
também sobreviventes. E sobreviver não é fácil.
O caso do escritor que dá nome
ao livro é exemplar: é óbvio que
não consegue sobreviver sendo
um autor frustrado e cheio de inveja do amigo que se tornou best
seller. Quando a mulher o abandona, é normal que se apodere cinicamente da obra de um cadáver. Assumindo os créditos, claro.
A amiga negra prostituta do
brazuca em Miami também faz o
possível para sobreviver. Quando
se torna vítima do cafetão branco
bronzeado que a protege, é perfeitamente coerente que tudo descambe para a carnificina -ambientado em um retiro para macacos aposentados do show business, é esse o melhor dos cinco
contos.
O autor tem umas obsessões bizarras. A menininha desaparecida aos 2 anos de idade na praia se
chama Lurian, como a filha de
Luiz Inácio Lula da Silva, revelada
ao Brasil em 89. Não há muitas
Lurians por aí. A moça que quer
se atirar da janela se chama Ana,
como a poeta Ana Cristina César,
que se jogou do edifício onde morava, em 83.
O mundo de Sérgio Rodrigues
não é inverossímil, embora impressionante. É "A Vida Como
Ela É", ele mesmo define no primeiro conto, quando o Nelson
também escritor visita o cronista
canalha no hospital para consolá-lo. Nelson Rodrigues parece ser
influência assumida do xará no
sobrenome e no gosto pelo bizarro e pelo cruel.
Frases divertidas como "Dorinha era a discrição em forma de
louraça" parecem ter saído da pena de Nelson, pairando fantasmagórico, como no conto, sobre as
perversidades que perpetra Sérgio, e repetindo: "Uma coisa tremenda!".
As obsessões rodriguianas em
torno da família -as mães de
Sérgio Rodrigues são monstros
escondidos sob a forma de velhinhas e enfermeiras- e a figura da
"mulher honesta" também estão
lá.
Sérgio Rodrigues, não há dúvida, é um escritor mau. Malvado. E
a impressão que deixa seu primeiro livro é de que, quando decidir
escancarar de vez a ruindade, ainda melhor escritor será.
O Homem Que Matou o Escritor
Autor: Sérgio Rodrigues
Editora: Objetiva
Quanto: R$ 18,50 (126 págs.)
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