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ERUDITO
Versão que chega ao Theatro da Paz, em Belém, tem direção cênica de Cleber Papa e musical do suíço Karl Martin
"Carmen" "criativa e atual" abre festival de ópera
IRINEU FRANCO PERPETUO
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM BELÉM
Uma montagem da ópera "Carmen", de Bizet, abre hoje, em Belém, o 3º Festival de Ópera do
Theatro da Paz. Realizado pela secretaria estadual da Cultura do
Pará e produzido pela São Paulo
Imagem Data, o evento vai até
15/9 na casa de ópera fundada em
1878 e restaurada em 2002.
O teatro, hoje, tem uma das melhores acústicas do Brasil, e o festival apresenta, além de "Carmen", montagens das óperas "La
Serva Padrona", de Pergolesi (de
27 a 29/8) e "O Barbeiro de Sevilha", de Rossini (de 9 a 13/9).
Outros destaques são o recital
de piano a quatro mãos de Ira Levin, da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo, e Ana Cláudia Britto, em 3/9; e o recital (18/8)
de Adriane Queiroz, soprano paraense que faz parte do elenco estável da Staatsoper, o melhor dos
três teatros de ópera de Berlim.
Em "Carmen", Queiroz canta o
papel de Micaela. O personagem-título fica a cargo da mezzo-soprano Denise de Freitas, que, embora esteja debutando na parte,
mostrou grande domínio e desenvoltura nos ensaios. O tenor mineiro Eduardo Itaborahy faz o
soldado Don José, enquanto o
toureiro Escamillo é vivido por
Stephen Bronk, baixo norte-americano radicado em Belo Horizonte. Os ingressos para todas as
récitas já estão esgotados.
Com três horas e meia de duração, quatro atos e um intervalo, a
ópera estreou em março de 1875,
pouco antes da morte de seu compositor. No mesmo ano, depois
da morte de Bizet, para uma apresentação em Viena, Ernest Guiraud, amigo e aluno do compositor, transformou parte de seus
diálogos falados em recitativos.
Esta é a versão que está sendo
apresentada em Belém -medida
prudente quando nem elenco
nem público são francófonos.
Cleber Papa assina a direção cênica de uma montagem que tenta
ser criativa sem apelar para invencionices. "É uma montagem tradicional, que busca sutilezas de
subtexto para tentar trazer a história para perto de nosso cotidiano", afirma Papa.
"Não posso entender Carmen
como uma precursora do feminismo ou da sexualidade livre",
diz o diretor. "Na verdade, trata-se de uma mulher triste, que coloca uma máscara de felicidade e liberdade."
Papa introduz um elemento de
ambigüidade no final da ópera,
em que, depois de Carmen tê-lo
trocado por Escamillo, Don José
assassina a cigana. Na montagem
de Belém, o soldado hesita antes
de matar a amante, que puxa o
braço com o qual ele segura a faca
-o crime de Don José, pode, assim, ser lido também como o suicídio de Carmen.
A direção musical é de Karl
Martin, um seguro e experiente
maestro suíço que divide seu tempo entre Palermo (Itália) e Zurique (Suíça), e já atuou como convidado nas principais capitais
brasileiras, destacando-se sua regência da ópera "Tannhäuser", de
Richard Wagner, no Rio de Janeiro, com direção cênica do cineasta
alemão Werner Herzog, em 2001.
Martin, neste ano, regeu as orquestras de Brasília e São Leopoldo (RS), e está dando duro para
extrair o máximo dos esforçados
amadores do Coral Lírico Marina
Monarcha e da limitadíssima Orquestra Sinfônica do Teatro da
Paz. A trabalheira já lhe custou
uma bursite no braço direito. Ao
voltar para a Europa, ele dirige
"Carmina Burana", de Carl Orff,
com a orquestra da Academia de
Santa Cecília, em Roma.
O jornalista Irineu Franco Perpetuo
viajou a convite do festival
CARMEN. Onde: Theatro da Paz (r. da
Paz, s/n.º, Belém (Pará), tel. 0/xx/91/212-7915). Quando: hoje, sáb e terça, às 20h.
Quanto: de R$ 10 a R$ 40.
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