São Paulo, sexta-feira, 12 de agosto de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRÍTICA

Filme é bom, seja qual for o parâmetro

SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL

Fui assistir a "Água Negra", o novo longa do brasileiro Walter Salles, preparado para não gostar. Como Judas cinematográfico, ele foi malhado pela crítica local, parte da estrangeira e até mesmo por tablóides nova-iorquinos, que aproveitaram o filme para noticiar uma suposta revolta dos moradores da Roosevelt Island, ilhota entre Manhattan e Queens onde se passa a trama e que teria sido mal retratada.
Injustiça. "Água Negra" é bom, seja qual for o parâmetro: seja a obra de Walter Salles, o gênero "novo terror japonês", o subgênero "novo terror japonês refilmado por Hollywood" e o clássico filão "terror imobiliário", cujo patrono é Roman Polanski, óbvia inspiração de Salles aqui -além de uma citação ao hitchcockiano "Psicose" em cena bem no final.
Ocorre com o cineasta brasileiro o mesmo que com os políticos: espera-se que eles sejam melhores que seus espectadores-eleitores. Não são, só os refletem e, com alguma sorte, como é o caso da delicada obra de Salles, os conduzem a experiências estéticas mais elevadas do que o dia-a-dia permite.
É assim que deve ser encarado "Água Negra", um filme hollywoodiano feito por contrato e que teve o final reeditado pelo estúdio que o contratou, como acontece com 99% dos três filmes que a indústria de lá põe na rua a cada dia.
Mas, e é nesse "mas" que mora a diferença, pelas mãos de Salles, o que era para ser apenas mais um "O Grito" virou o oposto: uma muito humana e desconfortavelmente próxima relação mãe-filha ameaçada pelo fantasma do abandono e da falta de lucidez, embalada por situações de medo e de terror, e não o contrário, como costuma acontecer no gênero.
Dahlia (Jennifer Connelly), recém-separada de um marido infiel, e Ceci (Ariel Gade), sua filha, mudam-se para um apartamento na tal ilha, convencidas por um corretor inescrupuloso (John C. Reilly), vigiadas por um zelador misterioso (Pete Postlethwaite) e ajudadas por um advogado ético (Tim Roth) -elenco impecável.
Não há Brasil, no sentido de camisa verde-e-amarela, a não ser nos nomes das personagens principais, mas é uma mão diferente da manada habitual que empunha as câmeras, tenha certeza.


Água Negra
Dark Water
   
Direção: Walter Salles
Produção: EUA, 2005
Com: Jennifer Connelly, Tim Roth
Quando: a partir de hoje nos cines Espaço Unibanco, Paulista e circuito


Texto Anterior: Para a atriz Jennifer Connelly, "Walter é maravilhoso" e "fantástico"
Próximo Texto: Mônica Bergamo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.