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CRÍTICA
Filme é bom, seja qual for o parâmetro
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
Fui assistir a "Água Negra", o
novo longa do brasileiro Walter Salles, preparado para não
gostar. Como Judas cinematográfico, ele foi malhado pela crítica
local, parte da estrangeira e até
mesmo por tablóides nova-iorquinos, que aproveitaram o filme
para noticiar uma suposta revolta
dos moradores da Roosevelt Island, ilhota entre Manhattan e
Queens onde se passa a trama e
que teria sido mal retratada.
Injustiça. "Água Negra" é bom,
seja qual for o parâmetro: seja a
obra de Walter Salles, o gênero
"novo terror japonês", o subgênero "novo terror japonês refilmado
por Hollywood" e o clássico filão
"terror imobiliário", cujo patrono
é Roman Polanski, óbvia inspiração de Salles aqui -além de uma
citação ao hitchcockiano "Psicose" em cena bem no final.
Ocorre com o cineasta brasileiro o mesmo que com os políticos:
espera-se que eles sejam melhores
que seus espectadores-eleitores.
Não são, só os refletem e, com alguma sorte, como é o caso da delicada obra de Salles, os conduzem
a experiências estéticas mais elevadas do que o dia-a-dia permite.
É assim que deve ser encarado
"Água Negra", um filme hollywoodiano feito por contrato e que
teve o final reeditado pelo estúdio
que o contratou, como acontece
com 99% dos três filmes que a indústria de lá põe na rua a cada dia.
Mas, e é nesse "mas" que mora a
diferença, pelas mãos de Salles, o
que era para ser apenas mais um
"O Grito" virou o oposto: uma
muito humana e desconfortavelmente próxima relação mãe-filha
ameaçada pelo fantasma do abandono e da falta de lucidez, embalada por situações de medo e de
terror, e não o contrário, como
costuma acontecer no gênero.
Dahlia (Jennifer Connelly), recém-separada de um marido infiel, e Ceci (Ariel Gade), sua filha,
mudam-se para um apartamento
na tal ilha, convencidas por um
corretor inescrupuloso (John C.
Reilly), vigiadas por um zelador
misterioso (Pete Postlethwaite) e
ajudadas por um advogado ético
(Tim Roth) -elenco impecável.
Não há Brasil, no sentido de camisa verde-e-amarela, a não ser
nos nomes das personagens principais, mas é uma mão diferente
da manada habitual que empunha as câmeras, tenha certeza.
Água Negra
Dark Water
Direção: Walter Salles
Produção: EUA, 2005
Com: Jennifer Connelly, Tim Roth
Quando: a partir de hoje nos cines Espaço Unibanco, Paulista e circuito
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