São Paulo, sábado, 12 de agosto de 2006

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Jornalistas relativizam o poder político da mídia

Debate conclui que imprensa não influencia votos

DA SUCURSAL DO RIO

O poder da mídia é menor do que se pensa. Este foi o denominador comum entre os quatro expositores da mesa "A Cultura Midiática: Persuasão e Poder?", realizada na noite de quinta-feira dentro do seminário "Brasil, Brasil", da Academia Brasileira de Letras.
Josias de Souza, da Folha, José Nêumanne Pinto, do "Jornal da Tarde" e de "O Estado de S. Paulo", Merval Pereira, de "O Globo", CBN e Globonews, e Tereza Cruvinel, de "O Globo", procuraram mostrar como as transformações da sociedade, em especial por causa da internet, relativizaram a capacidade da imprensa de "fazer cabeças", expressão que havia sido usada no início pelo acadêmico Domício Proença Filho.

Desinformação
"A sociedade da informação já era. Vivemos a sociedade da desinformação. É o primado da versão", afirmou Nêumanne.
Para ele, a internet é o "grande arauto" dessa sociedade. Como exemplos de desinformação, citou os falsos textos atribuídos a autores famosos e à Wikipedia, a enciclopédia da rede em que todos escrevem, podendo dar suas versões sobre pessoas, fatos e qualquer outro assunto.
"É uma sociedade que estabelece o primado da canalhice", disse ele, descrente da força da imprensa: "Se informação valesse alguma coisa, Lula estaria preso, e não reeleito".

"Não combinam"
Josias concordou nesse aspecto e ressaltou que "as pesquisas [eleitorais] não combinam com o cenário que vivenciamos", referindo-se ao fato de meses de reportagens sobre escândalos envolvendo o governo não terem abalado a popularidade do presidente.
"O poder que a nós é atribuído não existe", disse ele, para quem um programa como o Bolsa-Família influencia mais o eleitor do que as investigações da imprensa: "Imaginava-se que o episódio Collor teria um efeito didático. Mas os escândalos foram se sucedendo, e as pessoas foram ficando anestesiadas."
Merval lembrou, entre outros exemplos, que o referendo do desarmamento, realizado no ano passado, foi uma prova do papel frágil da mídia e dos chamados formadores de opinião, já que venceu a corrente contrária a eles -a da manutenção da venda de armas.
"[As pessoas] passaram ao largo das mídias tradicionais e dos partidos políticos", observou Merval.
Na abertura da mesa, coordenada pelo acadêmico e jornalista Arnaldo Niskier, o presidente da ABL, Marcos Vilaça, registrou os 85 anos de fundação da Folha.


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