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Jornalistas relativizam o poder político da mídia
Debate conclui que imprensa não influencia votos
DA SUCURSAL DO RIO
O poder da mídia é menor do
que se pensa. Este foi o denominador comum entre os quatro expositores da mesa "A Cultura Midiática: Persuasão e Poder?", realizada na noite de
quinta-feira dentro do seminário "Brasil, Brasil", da Academia Brasileira de Letras.
Josias de Souza, da Folha,
José Nêumanne Pinto, do
"Jornal da Tarde" e de "O Estado de S. Paulo", Merval Pereira,
de "O Globo", CBN e Globonews, e Tereza Cruvinel, de "O
Globo", procuraram mostrar
como as transformações da sociedade, em especial por causa
da internet, relativizaram a capacidade da imprensa de "fazer
cabeças", expressão que havia
sido usada no início pelo acadêmico Domício Proença Filho.
Desinformação
"A sociedade da informação
já era. Vivemos a sociedade da
desinformação. É o primado da
versão", afirmou Nêumanne.
Para ele, a internet é o "grande arauto" dessa sociedade. Como exemplos de desinformação, citou os falsos textos atribuídos a autores famosos e à
Wikipedia, a enciclopédia da
rede em que todos escrevem,
podendo dar suas versões sobre
pessoas, fatos e qualquer outro
assunto.
"É uma sociedade que estabelece o primado da canalhice",
disse ele, descrente da força da
imprensa: "Se informação valesse alguma coisa, Lula estaria
preso, e não reeleito".
"Não combinam"
Josias concordou nesse aspecto e ressaltou que "as pesquisas [eleitorais] não combinam com o cenário que vivenciamos", referindo-se ao fato de
meses de reportagens sobre escândalos envolvendo o governo
não terem abalado a popularidade do presidente.
"O poder que a nós é atribuído não existe", disse ele, para
quem um programa como o
Bolsa-Família influencia mais
o eleitor do que as investigações da imprensa: "Imaginava-se que o episódio Collor teria
um efeito didático. Mas os escândalos foram se sucedendo, e
as pessoas foram ficando anestesiadas."
Merval lembrou, entre outros exemplos, que o referendo
do desarmamento, realizado
no ano passado, foi uma prova
do papel frágil da mídia e dos
chamados formadores de opinião, já que venceu a corrente
contrária a eles -a da manutenção da venda de armas.
"[As pessoas] passaram ao
largo das mídias tradicionais e
dos partidos políticos", observou Merval.
Na abertura da mesa, coordenada pelo acadêmico e jornalista Arnaldo Niskier, o presidente da ABL, Marcos Vilaça, registrou os 85 anos de fundação da
Folha.
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