São Paulo, sábado, 12 de agosto de 2006

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4ª FESTA LITERÁRIA INTERNACIONAL DE PARATI

Tariq Ali critica Israel e é vaiado na Flip

Parte da platéia de debate na festa literária de Parati reprova fala do autor anglo-paquistanês contra ataques no Líbano

Escritor, que fará obra sobre a América Latina, declara ser admirador de Chávez e diz que Lula ignorou os que o elegeram e cedeu ao FMI


EDUARDO SIMÕES
MARCOS STRECKER
SYLVIA COLOMBO
ENVIADOS ESPECIAIS A PARATI

As coisas não saíram bem como Tariq Ali esperava. Intelectual de esquerda que virou espécie de pop star por fazer duros e repetitivos ataques aos governos Bush e Blair, o escritor anglo-paquistanês foi vaiado mais de uma vez em sua apresentação, ontem, na Festa Literária Internacional de Parati.
Uma delas foi quando leu o manifesto, preparado por ele, Toni Morrison, Alonso Cueto e Mourid Barghouti, contra a ação de Israel no Líbano; a outra, quando sugeriu que Israel acabaria sendo implodido a partir de dentro.
Aplaudido ao ser apresentado pela organizadora do evento, a britânica Liz Calder, como o "principal intelectual de esquerda do Reino Unido", Ali disse que falaria de literatura, mas que era impossível separá-la da política.
Para exemplificar, enumerou escritores latino-americanos que viraram políticos, como Rómulo Gallegos, que foi presidente da Venezuela, e Mario Vargas Llosa, que concorreu à Presidência do Peru.
O interesse de Tariq Ali pela América Latina cresceu nos últimos tempos. O autor trabalha atualmente num livro que deve se chamar "Os Piratas do Caribe" e que vai abordar experiências recentes da esquerda no continente, principalmente a de Hugo Chávez -o escritor diz ser grande admirador do atual governo venezuelano.
Questionado sobre o Brasil, disse que o PT foi afetado pela doença do dinheiro e do poder. Também, que Lula, depois de eleito, tinha duas alternativas: ou fazer o que as pessoas que o elegeram queriam ou o que desejavam as que não o haviam eleito, cedendo às pressões do FMI e Banco Mundial. E que preferiu a segunda opção.
O escritor defendeu, ainda, que se faça uma campanha internacional para que mais livros sejam traduzidos, pois disso depende a consciência política das pessoas. "É preciso entender os mecanismos de controle sobre o que é publicado, o que não é e a razão." Chamou a atenção para a crescente importância da língua espanhola no mundo. "Uma coisa sabemos ao certo, é que três línguas chegarão até o fim deste século: o inglês, o espanhol e o chinês."
Sobre os EUA, seu alvo preferido, Ali disse que esta é a única vez na história em que o mundo é governado por um só império. "E esse império está sendo encabeçado por pessoas que não são sérias." Disse que Bush, por ser frágil, cercou-se de uma espécie de politburo que diz o que ele deve fazer. Quanto ao Iraque, afirmou que é "evidente que a operação falhou, basta olhar para constatar".
O manifesto apresentado ontem contém três itens. Pede, em primeiro lugar, "a retirada imediata das tropas israelenses do Líbano, a libertação de todos os prisioneiros palestinos e árabes das prisões israelenses, incluindo os representantes eleitos do povo palestino, assim como a libertação dos três soldados israelenses, e o fim da ocupação do Iraque e dos territórios palestinos ocupados".


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