São Paulo, domingo, 12 de agosto de 2007

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Na casa de Elvis

Mansão do cantor, destino de turistas do mundo todo, deve receber 50 mil fãs nos 30 anos de sua morte

DENYSE GODOY
ENVIADA ESPECIAL A MEMPHIS (EUA)

O clima é de festa, mas numa cidade que tem o blues como trilha sonora sente-se sempre um aperto no coração. Na rua Beale, em meio a luminosos de bares e restaurantes, um cartaz com uma silhueta conhecida anuncia: "Semana Elvis, 11 a 19 de agosto". Memphis promove a celebração anual da memória de seu filho mais ilustre.
Neste ano, completam-se 30 anos da morte do cantor. "Será a maior comemoração já feita", diz Kevin Kern, porta-voz da Elvis Presley Enterprises -companhia na qual a filha de Elvis, Lisa Marie, tem 15% de participação; 85% são do grupo do ramo de entretenimento CRX. A organização espera 50 mil pessoas, contra a média de 30 mil nos anos anteriores.
É para Graceland, a mansão onde o astro viveu de 1957 até o fim, que turistas do mundo inteiro rumam. Pagando de US$ 25 a US$ 68 (de R$ 48 a R$ 130), podem ver, na decoração quase original, a sala do piano, a cozinha, o lugar onde Elvis escutava seus discos favoritos, roupas, livros, a coleção de revólveres.
Alguns fãs enxugam lágrimas, solenes, ao chegar ao túmulo do cantor, nos fundos da residência. Alto-falantes tocam canções do Rei. "Mamãe, todas as músicas dele parecem hinos assim?", pergunta uma menina cuja camiseta tem o rosto do cantor pop Justin Timberlake.
Muitos pais levam os filhos a Graceland para que conheçam a personalidade que revolucionou a cultura dos EUA, influenciando jovens dos anos 50 até hoje. Elvis pegou ritmos de negros da região -que já faziam Memphis famosa-, misturou, pôs seu toque e criou um jeito novo de cantar e dançar.
"É inexplicável, mexe com a alma", diz a americana Heaven Cabrejos, 10. Na última quarta-feira, ela tirou fotos com o único cover de Elvis que dava sopa por lá: o empresário brasileiro Fabiano Feltrin, 38. "Dois anos e meio atrás, em Bento Gonçalves [RS], estávamos fazendo um evento, e o cover que havíamos contratado não foi. Subi no palco e não parei mais", conta.
Para ele e os outros dez brasileiros do fã-clube Brazil Elvis Presley Society que foram aos EUA, as atrações da Semana Elvis -vigília à luz de velas na madrugada do dia 16 para marcar o aniversário da morte do Rei, peregrinação por locais por onde ele passou- são a oportunidade de encontrar os que integraram o círculo de amizades do cantor.
O alfaiate Bernard Lansky, 80, lembra-se bem de ver o garoto que trabalhava como lanterninha num cinema perto da sua oficina, na rua Beale, olhando as vitrines. "Eu só fazia roupa para artistas negros. Brancos não passavam da porta", conta, baixando a voz como se dissesse algo proibido.
Lansky o convidou a entrar. "Não tenho dinheiro", respondeu Elvis, "mas, quando ficar rico, compro a loja". O alfaiate replicou: "Continue comprando de mim, mas não a minha loja". A primeira camisa custou US$ 5, fiado. Depois, veio a jaqueta dourada da estréia no show do Ed Sullivan. O cantor manteve-se fiel a Lansky por toda a vida -a última encomenda ele nunca conseguiu buscar.
Atrás do balcão, o alfaiate repete a história várias vezes ao dia. A conversa é interrompida por turistas que querem tirar fotos ou apertar sua mão. Ele sorri: "Nem preciso ir à Semana Elvis. Ela vem até mim".


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