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Na casa de Elvis
Mansão do cantor, destino de turistas
do mundo todo, deve receber 50 mil
fãs nos 30 anos de sua morte
DENYSE GODOY
ENVIADA ESPECIAL A MEMPHIS (EUA)
O clima é de festa, mas numa
cidade que tem o blues como
trilha sonora sente-se sempre
um aperto no coração. Na rua
Beale, em meio a luminosos de
bares e restaurantes, um cartaz
com uma silhueta conhecida
anuncia: "Semana Elvis, 11 a 19
de agosto". Memphis promove
a celebração anual da memória
de seu filho mais ilustre.
Neste ano, completam-se 30
anos da morte do cantor. "Será
a maior comemoração já feita",
diz Kevin Kern, porta-voz da
Elvis Presley Enterprises
-companhia na qual a filha de
Elvis, Lisa Marie, tem 15% de
participação; 85% são do grupo
do ramo de entretenimento
CRX. A organização espera 50
mil pessoas, contra a média de
30 mil nos anos anteriores.
É para Graceland, a mansão
onde o astro viveu de 1957 até o
fim, que turistas do mundo inteiro rumam. Pagando de US$
25 a US$ 68 (de R$ 48 a R$ 130),
podem ver, na decoração quase
original, a sala do piano, a cozinha, o lugar onde Elvis escutava seus discos favoritos, roupas,
livros, a coleção de revólveres.
Alguns fãs enxugam lágrimas, solenes, ao chegar ao túmulo do cantor, nos fundos da
residência. Alto-falantes tocam
canções do Rei. "Mamãe, todas
as músicas dele parecem hinos
assim?", pergunta uma menina
cuja camiseta tem o rosto do
cantor pop Justin Timberlake.
Muitos pais levam os filhos a Graceland para que
conheçam a personalidade que revolucionou a
cultura dos EUA, influenciando jovens dos
anos 50 até hoje. Elvis pegou ritmos de negros da
região -que já faziam
Memphis famosa-, misturou, pôs seu toque e criou um
jeito novo de cantar e dançar.
"É inexplicável, mexe com a
alma", diz a americana Heaven
Cabrejos, 10. Na última quarta-feira, ela tirou fotos com o único cover de Elvis que dava sopa
por lá: o empresário brasileiro
Fabiano Feltrin, 38. "Dois anos
e meio atrás, em Bento Gonçalves [RS], estávamos fazendo
um evento, e o cover que havíamos contratado não foi. Subi no
palco e não parei mais", conta.
Para ele e os outros dez brasileiros do fã-clube Brazil Elvis
Presley Society que foram aos
EUA, as atrações da Semana Elvis -vigília à luz de velas na
madrugada do dia 16 para marcar o aniversário da morte do
Rei, peregrinação por locais por
onde ele passou- são a oportunidade de encontrar os que integraram o círculo de amizades
do cantor.
O alfaiate Bernard Lansky,
80, lembra-se bem de ver o garoto que trabalhava como lanterninha num cinema perto da
sua oficina, na rua Beale, olhando as vitrines. "Eu só fazia roupa para artistas negros. Brancos não passavam da porta",
conta, baixando a voz como se
dissesse algo proibido.
Lansky o convidou a entrar.
"Não tenho dinheiro", respondeu Elvis, "mas, quando ficar
rico, compro a loja". O alfaiate
replicou: "Continue comprando de mim, mas não a minha loja". A primeira camisa custou
US$ 5, fiado. Depois, veio a jaqueta dourada da estréia no
show do Ed Sullivan. O cantor
manteve-se fiel a Lansky por
toda a vida -a última encomenda ele nunca conseguiu
buscar.
Atrás do balcão, o alfaiate repete a história várias vezes ao
dia. A conversa é interrompida
por turistas que querem tirar
fotos ou apertar sua mão. Ele
sorri: "Nem preciso ir à Semana
Elvis. Ela vem até mim".
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