São Paulo, quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Wenders inclui "cidade limpa" em seu novo filme

Fotos de Tony de Marco mostram São Paulo sem outdoors em longa do alemão

Imagens digitais foram publicadas em revistas estrangeiras, que falam de SP como cenário de um experimento visual inédito

Tony de Marco
Outdoor removido esconde arquitetura da cidade; fotógrafo quis enfatizar silêncio visual


SILAS MARTÍ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quando a Lei Cidade Limpa varreu a publicidade do horizonte paulistano, o artista plástico Tony de Marco enxergou nos esqueletos que sustentavam os outdoors uma moldura para a beleza estranha de uma cidade que mudava de cara.
A série de 58 fotografias que fez com uma câmera digital de bolso, enquanto as placas gigantes saíam de cena, rendeu a de Marco um convite da produção do próximo filme de Wim Wenders -"The Palermo Shooting" (o tiroteio de Palermo), que contará a história de um fotógrafo em crise existencial e começa a ser rodado na Alemanha e na Itália no fim desta semana.
Cerca de 30 fotos de São Paulo devem aparecer em uma das cenas do novo filme do veterano cineasta alemão, contou o artista à Folha.
São registros feitos com pouco apuro técnico, mas que traduzem o gigantismo de SP: estruturas metálicas enormes se erguem contra um céu azul. Por coincidência, o resultado lembra o minimalismo de Wenders, que fez de seu cinema uma análise do gigantismo e dos vazios da América.
"Eu fotografei as maiores placas para todo mundo entender o tamanho da encrenca. Isso era um inferno visual", diz o artista, ao apontar a cidade da janela de seu apartamento na zona sul.
Ele lembra que antes tudo era um mar de luz. "Eu tinha que fechar a janela para ver televisão à noite, de tanto que os refletores incomodavam."
O registro desse incômodo foi postado pelo artista no site Flickr em abril. Três meses depois, a revista britânica "Creative Review" estampou na capa a foto do esqueleto de um outdoor. As imagens saíram também na revista do jornal "The Independent" e na italiana "Viaggio" e vão ilustrar, no ano que vem, o calendário da ONG antipublicidade Adbusters. Hoje, um mural na sala do artista exibe notas de agradecimento das revistas que publicaram as fotos.
As reportagens falam de São Paulo como cenário de um experimento mundial inédito: a "cidade nua", a "metrópole que disse não à publicidade" e "a capital que emerge limpa da sombra dos outdoors".
De Marco reconhece que o trabalho não tem nada de excepcional. Foram imagens feitas ao acaso, enquanto a transformação tomava conta da cidade. "Qualquer um poderia ter feito. Pensei que todos os artistas em São Paulo estariam fazendo a mesma coisa, mas não estavam." O único cuidado do artista foi escolher um céu azul, limpo, e eliminar ruídos -fotografando só as marcas deixadas para trás pelas letras removidas. Não por acaso, o texto do "Independent" diz que as fotos ilustram o som de uma metrópole que deixou de gritar com seus próprios habitantes.


Texto Anterior: João Pereira Coutinho: Me engana que eu gosto
Próximo Texto: SP "limpa" vira vinheta e anúncio de TV
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.