São Paulo, sábado, 12 de setembro de 2009

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Crítica/"Creation"

Filme expõe dilemas e vida afetiva de Charles Darwin

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A TORONTO

"Creation", filme que abriu anteontem a 34ª edição do Festival de Toronto, considerado uma pista de testes dos pré-candidatos ao Oscar, entrega o ouro já no duplo sentido do título, que pode se referir tanto à principal criação de Charles Darwin, "Origem das Espécies", como à Criação divina, a Terra e todos os seres viventes.
A cinebiografia, a primeira que tem como tema principal o naturalista britânico cujo bicentenário de nascimento é comemorado em 2009, se propõe a narrar não o impacto da obra, que aos 150 anos continua importante, mas o ambiente familiar em que ela foi concebida.
O estudo sobre a evolução das espécies já foi chamado de a principal ideia original da história; o filme se interessa pela história por trás dessa ideia. Para tanto, segue o livro "Annie's Box - Charles Darwin, His Daughter, and Human Evolution" (A Caixa de Annie - Charles Darwin, Sua Filha e a Evolução Humana, Riverhead Hardcover, 2002), de Randal Keynes, tetraneto do britânico.
Segundo o relato, Darwin se culpava pela morte da filha Annie aos 10 anos e achava que a mulher fazia o mesmo -em vez de recorrer à medicina tradicional, ele a afastou da família e das orações da mãe, optando por um tratamento alternativo a base da banhos frios.
Uma das teorias sobre a razão pela qual Darwin retardou a conclusão e publicação de "Origem das Espécies" é a de que teria receio de magoar a mulher, muito religiosa.
O embate entre razão e fé domina o filme, que traz o britânico Paul Bettany e a norte-americana Jennifer Connelly nos papéis principais -marido e mulher na vida real que interpretam o casal de primos que eram Charles e Emma Darwin.
É um embate na vida privada que os espectadores sabem que no século e meio seguinte se repetiria na vida pública, e aí mora a sacada do longa realizado pelo diretor Jon Amiel, de carreira esquecível até agora.


Avaliação: bom




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