São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2010

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Mônica Bergamo

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Em nome do pai

Filho do diretor Jayme Monjardim e protagonista da novela das seis, Jayme Matarazzo diz que só virou ator depois que Arnaldo Jabor lhe deu "o papel mais importante da vida" do cineasta

Fotos Luciana Whitaker/Folhapress
Jayme Matarazzo na praia da Barra da Tijuca, no Rio

Numa quinta-feira à tarde, 15 pessoas se aglomeram num canto da praia da Barra da Tijuca, no Rio. No meio, um garoto de olhos azuis, 1,74 m e 63 kg posa para fotos encabulado. "E aí, Daniel, tu tá morto ou tá vivo?", pergunta um menino ao ator Jayme Matarazzo, 24, que interpreta o espírito Daniel na novela das seis da TV Globo, "Escrito nas Estrelas", que termina no dia 24. "Uma vez, no supermercado, dei um sorrisinho para uma mulher que me olhava. Ela largou o carrinho e saiu correndo."

 


Filho do diretor Jayme Monjardim e neto da cantora Maysa, Jayminho, como é conhecido, ainda não se acostumou com a vida de protagonista de novela. "Não conheci a minha avó [morta em 1977] e morei até os 19 anos em SP, com a minha mãe [a produtora Fernanda Lauer, de quem Monjardim se separou quando o ator tinha cinco anos] e a minha irmã [Maria Fernanda, 23]. Meu pai sempre morou no Rio, mas era muito presente na minha vida. A gente se via pelo menos uma vez por mês. Quem sabia [que era de família de artistas] eram só os amigos mais próximos."

 


O sobrenome Matarazzo, de uma das famílias mais importantes da capital paulista, nunca abriu portas, diz ele. "Nem tenho muita proximidade com a família. Meu pai não teve muito contato com eles. O Eduardo [Matarazzo Suplicy, senador] e o Supla [filho de Suplicy], conheço só de se esbarrar." Mas optou por assinar "Matarazzo" como forma de homenagear esse ramo da família.

 


"Jayminho! Tira uma foto comigo? Quero fazer um pôster para a minha festa de 15 anos", diz uma garota. Mila Barbosa, 22, namorada de Jayminho há quase três anos, o acompanha de mãos dadas e faz cara de paisagem. "Tenho zero ciúmes. Mas tem garotas que abusam. Uma vez, em Fortaleza, uma bateu na porta do quarto dele."

 


No restaurante Balada Mix, na Barra, uma senhora pede uma foto. "Te acho bonito demais. Pessoalmente, é mais jovem, mais bonitinho, um neném." Durante o almoço, três paparazzi aparecem e fotografam da rua cada movimento do ator. Incomodado, ele pede a conta e a nota fiscal, que demoram 15 minutos para chegar. "Tô achando que a demora é de propósito. Que foram eles [funcionários do restaurante] que avisaram que estou aqui."

 


Na saída, enquanto espera seu carro, fica de costas para os fotógrafos. "Não condeno, é o trabalho deles, mas tira a privacidade. A estratégia é não ser visto pelos caras que guardam carros e nem pelo pessoal dos quiosques na praia, que ganham R$ 20, R$ 30 se avisarem que tem artista na área."

 


Na noite anterior, Jayminho gravou até alta madrugada as cenas em que está no "Céu" da novela -elas são sempre feitas à noite, por questões de iluminação. Ele aproveita o dia de folga para jogar futebol com o irmão, André, 12, filho de Jayme Monjardim com a atriz Daniela Escobar. Para seu Palio Weekend vermelho, com banco furado e 111 mil quilômetros rodados -sua "Ferrari", segundo a namorada-, ao lado de um Land Rover na frente da casa do pai, num condomínio fechado na Barra. "A última coisa que tô é rico. Ninguém fica rico com a Rede Globo, mas com os trabalhos que faz por causa da Globo [como comerciais, bailes de debutante e presença em eventos]". Jayminho ainda não fez nenhum.

 


Na quadra, os irmãos vestem o uniforme do time do coração, o Palmeiras. "Só não tira fotos sem camisa. Tenho barriga", pede. "Fujo da academia. Não vejo graça em correr sem sair do lugar."

 


Jayminho e André vão ganhar no mês que vem uma irmã, Maysa, filha de Monjardim com a cantora Tânia Mara. Ele não se incomoda com os vários casamentos do pai. "Quero fazer ele feliz. E me dar bem com elas é importante. A Tânia tem uma família grande. Para ele, é um resgate desse vínculo familiar que, por mil motivos, ele teve um distanciamento."

 


O ator conheceu melhor a história do pai ao interpretá-lo na minissérie "Maysa", em 2009. Diz que o admira mais depois disso. "Foi uma viagem por tudo o que ele passou: perder o pai muito jovem, estudar em colégio interno, ter uma mãe artista de temperamento difícil."

 


"Maysa" foi seu primeiro trabalho na frente das câmeras. Antes, trabalhava numa produtora de eventos e entrou na minissérie, inicialmente, como assistente do pai. "Maneco [o autor Manoel Carlos] me pediu [para interpretar Monjardim na trama]. Eu não queria que virasse profissão". Até então, o único papel que Jayminho havia tentado foi aos 11 anos, para o filme "O Menino Maluquinho". "Era fã, fiz a minha mãe me levar para o teste."

 


Depois da minissérie, foi convidado para protagonizar "A Suprema Felicidade", primeiro longa de Arnaldo Jabor depois de 24 anos. "Ele é amigo do meu pai. Me convidou e disse: "Estou te dando o papel mais importante da minha vida". Se um cara como Arnaldo Jabor, com aquela grandiosidade, te dá um voto de confiança, não dá pra negar. Não corri atrás de nada. Mas se tá todo mundo enxergando algo em mim, não vou impedir."

 


Já com "Maysa" e o filme no currículo, foi chamado para fazer o teste para a novela das seis. "Um dia, fui ao Projac [central de estúdios da TV Globo] levar alguma coisa para o meu pai. Saindo do estúdio, a produtora de elenco me parou e perguntou se eu queria fazer um teste. Me deu um texto e disse que o personagem era um menino idealista, de coração bom, classe média-alta, que tinha desavenças com o pai. E que ele iria morrer, mas voltaria."

 


Jayminho acredita que o pai não teve nada a ver com isso. "A única pessoa pra quem contei foi a Mila. Nunca imaginei que iria passar. Eu estava concorrendo com atores com nome."

 


"Meu pai quase não me dá nenhum conselho. Mas fala, desde "Maysa", para eu fazer com o coração. Diz que até a falta de outros trabalhos torna a minha atuação nessa novela mais verdadeira."

 


Para compor o personagem, frequentou centros espíritas antes do início da novela. "Tem pessoas que me param contando histórias, que perderam entes queridos e que a novela conforta", diz o ator, que foi batizado e fez primeira comunhão, mas não se diz católico. "No Twitter, recebi umas dez críticas por estar fazendo uma novela sobre espiritismo. Respeito as religiões. Não gosto de rótulos. Acredito em vida após a morte, em Deus."

 


"Acredito em destino, em acasos. Olha só: primeiro fiz "Maysa", uma homenagem ao meu pai. E aí fiz "A Suprema Felicidade", numa hora em que estava descobrindo uma profissão. Depois, "Escrito nas Estrelas". Para pra pensar [nos nomes dos trabalhos]! É brega, mas é lindo."


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