COLUNISTA DA FOLHA

A história de amor é um clichê, mas tudo para criá-la passa longe da repetição de padrões. Os atores de "Afinal, O que Querem as Mulheres?" ensaiaram trancados numa sala de ensaios -a única do Projac, aliás (até então, usada como refeitório).
Em julho, Luiz Fernando Carvalho conduzia Paola Oliveira, de olhos vendados, pela sala ao som de rock'n'roll. Ele lhe dava instruções ao ouvido, e ela girava pela sala até deitar-se no chão com Michel Melamed, que vive André, seu par na série.
Os atores, muitos deles celebridades, "devem ser preparados com uma conexão com a criação, com a invenção", explica o diretor.
"Não acredito nesse naturalismo que não é nada. Não acredito que o naturalismo precise ser representado com uma ausência de sacralidade", completa.
Seu método de "animar" os atores (ou deixá-los com "alma") é oposto ao do realismo vigente na teledramaturgia da própria Globo, em que atores devem surgir na tela como se não estivessem dentro de uma representação.
"Você pode até achar que eles [os atores da série] não estão fazendo nada, que estão à vontade, mas eles estão animados para uma criação. Eles têm alma, não estão ali agarradas ao próprio carisma pessoal e pronto", afirma.
Até mesmo a escalação de atores conhecidos do código clichê da TV -Santoro, Tarcísio Meira, Letícia Spiller, entre outros, estão no elenco de Carvalho- faz parte de uma "estratégia" do diretor.
A ideia é inverter os códigos, para que o espectador veja Paola Oliveira em outra forma e "possa dizer: "Ah, posso enxergar um personagem além de seu carisma pessoal'".
Os atores não são forçados a preparar a cena do dia ou decorar textos e marcações. "Não me interesso por isso. É um trabalho para a vida, um processo que propõe uma experiência, que vai gerar um pequeno e delicado autoconhecimento."
(AF)


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