|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Maracatu ganha dois CDs com seus mestres genuínos
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Revisitado por artistas pernambucanos ao longo da década, como Chico Science & Nação Zumbi, Mestre Ambrósio e Antônio
Nóbrega, o maracatu, desta vez,
ganha projeção nacional em sua
fonte primária.
Dois CDs registram o trabalho
contemporâneo da tradicional
manifestação. O primeiro, "Nação Erê", do grupo de mesmo nome, de Recife, inaugura a coleção
"Erê - Crianças que Tocam o Brasil", do selo paulista Palavra Cantada.
O segundo, a coletânea "Maracatu Atômico", um projeto da
pernambucana África Produções,
reúne o próprio Nação Erê, criado
em 92, e mais quatro grupos, alguns formados no século 19. É o
caso do maracatu do Leão Coroado (1863), com sede no bairro de
Águas Compridas, Recife.
Dois shows hoje, um no Sesc
Pompéia e outro no parque Ibirapuera, em São Paulo, marcam o
lançamento do CD "Nação Erê"
-boa pedida para o Dia das
Crianças. É a primeira gravação
solo do grupo integrado por 22
crianças e adolescentes, entre percussionistas e bailarinas.
O Nação Erê é representante do
maracatu de baque virado, que
tem ligação com os rituais de candomblé. A música segue a cadência da percussão, não há instrumento melódico. O tambor alfaia,
por exemplo, que pode ser confeccionado com pele de bode e
madeira de macaíba (palmeira), é
o coração da batucada.
As 12 faixas do CD foram gravadas no bairro Brasília Teimosa, na
periferia de Recife. Quem abriga o
Nação Erê é o Centro de Educação
Popular Mailde Araújo, que dá
cursos de dança e música para
crianças e adolescentes carentes.
O CD é embrionário do projeto
Canções do Brasil, do selo Palavra
Cantada -especializado em músicas "com critério" para crianças,
como "Canções de Brincar" (96) e
"Canções de Ninar" (94). Sandra
Peres e Paulo Tatit (ex-grupo Rumo) percorreram 26 Estados recolhendo músicas interpretadas
(voz e instrumento) por crianças.
A coletânea "Maracatu Atômico", da África Produções, foi lançada no sábado passado, na rua
da Moeda, bairro do Recife Antigo. O show reuniu os grupos Leão
Coroado e Nação Erê, que executam o maracatu de baque virado,
além do Estrela de Ouro (da cidade de Aliança), Leão Vencedor
(Carpina) e Piaba de Ouro (Tabajara), especializados no maracatu
de baque solto (que incorpora
instrumentos de metal).
Seus mestres são Salustiano, ou
Salu (Piaba de Ouro), Afonso
Aguiar (Leão Coroado), Zé Duda
(Estrela de Ouro) e Biá e Limoeiro
(Leão Vencedor). O "maestro" do
Nação Erê é Helenildo Anes, 19, o
Pitota, que ingressou no grupo
aos 7 anos.
Segundo o diretor da África
Produções, Afonso Oliveira, 31,
existem atualmente cerca de cem
grupos de maracatu em Pernambuco. "Maracatu Atômico", diz
ele, é o primeiro CD que reúne as
manifestações tradicionais (cada
grupo interpreta quatro loas).
"Eles fizeram muito pela cultura
pernambucana e brasileira, preservaram seus quintais, sua musicalidade, sua ancestralidade religiosa, mesmo perseguidos durante o Estado Novo (1937-45), que
fechou vários espaços", diz Oliveira.
Show: Nação Erê
Quando: hoje, às 15h
Onde: Sesc Pompéia - área de
convivência (r. Clélia, 93, tel. 0/xx/11/
3871-7700)
Quanto: entrada franca
Quando: hoje, às 18h
Onde: parque Ibirapuera - praça da Paz
(av. Pedro Álvares Cabral, s/nš, s/tel.)
Quanto: entrada franca
Texto Anterior: Álbum apanha novidades no estilo Próximo Texto: Música regional consegue espaço alternativo Índice
|