|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TV
Com linguagem inovadora, novela das sete não tem a audiência esperada, enquanto o melodrama "O Clone" supera expectativa
"Filhas" esbarra em público conservador
DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Fernanda Montenegro e um
elenco com os maiores salários da
teledramaturgia brasileira ainda
não conseguiram dar a "Filhas da
Mãe" a audiência esperada.
Com a proposta de uma linguagem inovadora, em que atores falam diretamente para a câmera e
o rap ajuda a contar a história, a
novela das sete da Globo tem esbarrado, entre outros obstáculos,
na dificuldade que o telespectador tem de aceitar mudanças.
O autor, Silvio de Abreu, e a direção da Globo sabem que não é
fácil abandonar o consagrado
melodrama. "O Clone", por
exemplo, que usa a tradicional
linguagem de folhetim, tem superado a expectativa da emissora,
com média de 43 pontos nos oito
primeiros capítulos.
"Televisão é hábito. Sempre que
o telespectador vê algo inovador,
precisa de um tempo para assimilar a nova linguagem", diz Abreu.
"Filhas da Mãe", nas quatro primeiras semanas, teve média de 30
pontos no Ibope, contra 16 do
SBT, que traz a novela mexicana
"Carinha de Anjo". A trama das
sete da Globo chegou a ter a mesma audiência que "Malhação".
"Um Anjo Caiu do Céu", a antecessora, teve, no primeiro mês,
média de 34, contra 10 do SBT.
"Filhas da Mãe" enfrenta também o racionamento de energia, o
baixo ibope da novela das seis, "A
Padroeira", e o crescimento da
audiência das tramas mexicanas
infantis que o SBT exibe no horário. Mas a rejeição do público a algumas inovações que a novela
traz, como a condução da narrativa e o rap, ficou clara depois de
uma discussão de grupo feita com
telespectadores pela Globo.
"Sempre foi difícil mudar a linguagem na TV. Hoje, da maneira
como a concorrência é colocada,
num mundo mais capitalista, fica
ainda mais complicado. Mas é necessário que se arrisque, senão
ainda estaríamos na era das novelas de Glória Magadan [cubana,
autora das primeiras novelas brasileiras"", diz Mauro Alencar,
doutorando em novela da Universidade de São Paulo.
Raul Cortez, o Arthur da trama,
diz que "é uma pena que o público se assuste com o novo". Ele
afirma que seu personagem em
breve viverá um romance com
Lulu, interpretada por Fernanda
Montenegro. "Isso já estava previsto. Mas acho que pode estar
sendo antecipado em resposta a
pedidos do telespectador", diz.
Silvio de Abreu afirma que não
pretende mudar o rumo da novela como resposta ao que foi dito
no grupo de discussão. "Pesquisas são interessantes, mas não
substituem o "feeling" do autor e
do diretor. É nossa responsabilidade como criadores identificar
os desejos e anseios do público e
buscar atendê-los. Um grupo de
discussão é capaz de levantar algumas indicações, mas não determina direções a serem tomadas."
O autor acredita que a dificuldade da inovação seja superada no
desenvolvimento da trama e que a
audiência vai subir. "A fórmula
consagrada é a do melodrama. O
humor necessariamente precisa
trazer uma nova proposta e, via
de regra, uma nova linguagem.
Foi assim, por exemplo, com
"Guerra dos Sexos", em 1983, e
com "Deus nos Acuda", em 1992,
que também foram recebidas
com estranheza a princípio. Não
tenho dúvidas [de que a audiência
vai melhorar". Já estou bem acostumado com isso", afirma Abreu.
Com o que viu nas pesquisas, o
autor acredita que o público nem
sempre seja conservador. "O que
dizer do inusitado romance entre
Ramona (Cláudia Raia) [transexual" e Leonardo (Alexandre Borges), que é encarado com a maior
naturalidade pelas conservadoras
donas-de-casa? Acho que estamos no caminho correto e não
pretendo me desviar."
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: José Simão Índice
|